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26/05/2020 às 10:58
Por meio de ação que integra um projeto multilateral, GDF atua em pesquisas para recompor ambiente contaminado
Foram 57 anos de existência. Na Estrutural, bem ao lado do Parque Nacional de Brasília, montanhas de lixo chegavam a 55 metros de altura em um terreno onde eram descarregados irregularmente toneladas de rejeitos. Centenas de urubus e gaviões-carcarás sobrevoavam diariamente o local, que ficou conhecido como o maior depósito de lixo a céu aberto da América Latina.
O cenário pode até não ser mais o mesmo desde o encerramento do Lixão da Estrutural, em 2018. A preocupação com os impactos ambientais, porém, permanece e move uma das principais ações da Secretaria do Meio Ambiente (Sema): a elaboração de um diagnóstico da contaminação, com proposta de remediação para toda a área de influência local, por meio de tecnologias inovadoras.
“A maior preocupação é com a infiltração do chorume, acumulado durante décadas em formações mais profundas do solo, afinal os resíduos continuam se decompondo e circulando pelo subsolo e, pelo tempo de existência do lixão, já atingiram as reservas de águas”, alerta o secretário do Meio Ambiente, Sarney Filho.
[Olho texto=”“A maior preocupação é com a infiltração do chorume, acumulado durante décadas em formações mais profundas do solo”” assinatura=”Sarney Filho, secretário do Meio Ambiente” esquerda_direita_centro=”centro”]
A ação integra o CITinova-Planejamento Integrado e Tecnologias para Cidades Sustentáveis, projeto multilateral elaborado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic). Executado pela Sema, o programa tem financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e gerido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).
Situação atual
Além do risco de poluição no solo, o lixão abriga mais de 150 pontos de escape do metano, considerado extremamente perigoso para o meio ambiente. Estes sumidouros ardem 24 horas por dia para transformar o gás metano em gás carbônico (dióxido de carbono), que é 25 vezes menos tóxico.
[Numeralha titulo_grande=”500″ texto=”Número de mudas de dez espécies do Cerrado plantadas na área” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Entre o fim de abril e o início deste mês, o local passou por algumas etapas importantes dessa iniciativa, a começar por irrigação e plantio de dez espécies do Cerrado – 500 mudas, entre elas baru, mama-cadela, angico, ipê-roxo, fedegoso, cedro, jatobá, copaíba, mulungu e pata-de-vaca, além de sorgo e girassol, de ciclo curto. Também está sendo testado o eucalipto, para verificar o potencial acumulador de metais.
Essas espécies foram escolhidas para o teste-piloto de fitorremediação. O processo consiste em monitorar o desenvolvimento das mudas, aí incluídos controle das pragas nas áreas plantadas, irrigação das mudas e análises de amostras do caule a 40 centímetros do solo e da massa foliar em três exemplares da mesma espécie.
Coletas e análises
As análises prioritárias serão feitas em metais tóxicos, além de outras trocas químicas de elementos, como cálcio, ferro e magnésio. As avaliações dos resultados deverão focar na capacidade de sequestro de metais que cada espécie exibe, além da comparação com dados de literatura.
Também já foram coletadas amostras de massa vegetal (folhas e cascas) de espécies nativas e exóticas na área do lixão e adjacências, bem como das mesmas espécies em áreas externas ou naquelas em que não ocorre a acumulação de resíduos sólidos. Esse comparativo foi feito em exemplares de mamona, margaridão, leucena e eucalipto (espécies exóticas) e pequi, ipê, angico e araticum (espécies nativas).
Entre as técnicas a serem experimentadas no local, estão um novo modelo de transporte de contaminantes subterrâneos e o tratamento do chorume, iniciativas que podem ser utilizadas para a descontaminação da área.
Pesquisas em andamento
“Mesmo tendo sido realizadas inúmeras pesquisas na área, ainda existem várias lacunas a serem estudadas, como o limite da contaminação das águas subterrâneas”, pontua o coordenador técnico do projeto, Eloi Campos, do Departamento de Hidrogeologia e Geologia Ambiental da Universidade de Brasília (UnB).
Para o professor, o maior legado dessa iniciativa deverá ser o resultado da fitorremediação, que pode gerar um efeito inédito a ser replicado para outras áreas contaminadas. “Minha maior expectativa é a determinação da pluma de contaminação e um modelo hidrogeológico inédito para a região”, antecipa. “O modelo permitirá prever o tempo em que a pluma alcançará os córregos”.
Executada por meio de um contrato com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) e a UnB, a ação tem como apoiadores CEB, SLU, Secretaria de Projetos Especiais (Sepe), Terracap e Instituto Brasília Ambiental (Ibram). As atividades são ao ar livre, com equipe reduzida de profissionais que seguem todos os cuidados necessários à prevenção contra a Covid-19.
* Com informações da Sema