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31/05/2020 às 10:12, atualizado em 31/05/2020 às 12:00
Criada em 1986 para desenvolver a produção rural que abasteceria o DF, a região cresceu e já está quase completamente regularizada
A Colônia Agrícola Vicente Pires foi criada em 1986 com a exclusiva missão de desenvolver naquele terreno situado próximo a Taguatinga a produção rural capaz de ajudar a abastecer as cidades de Brasília com gêneros alimentícios. Ali se chegou a produzir de tudo um pouco: hortifrutigranjeiro, hortaliças, leite de cabra e leite de vaca, e inúmeros tipos de fruta, como a manga, banana, laranja, mexerica, limão e uva, além de milho e feijão.
Não era somente pela atividade agrícola que fazia a terra se caracterizar como área rural. Vicente Pires era entrecortada por um longo córrego de mesmo nome. Poucos moradores sabem que, na verdade, não foi a cidade que deu o nome ao córrego, mas o inverso.
Para explicar isso, é preciso escrutinar o passado em 200 anos atrás. No período imperial brasileiro, o Conselheiro da Coroa Padre Vicente Pires da Mota recebeu alguns hectares de terra entre a província de São Paulo e o interior do atual Goiás. Dentro da fazenda dele, havia um córrego que passou a se chamar Vicente Pires por causa do nome do proprietário da terra. Foi daí que surgiu o nome da cidade conhecido hoje por Vicente Pires.
Em 1985, o governo decidiu levar para lá 350 chacareiros. Cada um recebeu um pequeno módulo para iniciar a produção de alimentos para a capital. A migração de área rural para urbana foi lenta. Demoraria 24 anos até se transformar na 30ª Região Administrativa, em 2009. Mas o processo de fracionamento das chácaras foi acelerado e começou para valer no início dos anos 2000, quando o Distrito Federal vivia uma onda de grilagem de terra.
A especulação imobiliária apontou os olhos para Vicente Pires devido à localização privilegiada. A colônia ficava entre Estrutural, Taguatinga, Guará e Águas Claras e a 13km do Plano Piloto. Além disso, possuía as melhores condições naturais possíveis: chácaras imensas e com água abundante, pois a maioria se situava sobre verdadeiros colchões de água.
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Foi justamente por essas condições, combinadas com a paz inerente a um setor de chácaras, que fizeram com que a família de Maria Dolores Aguiar, 74 anos, saísse do Guará no final dos anos 1990 para morar em Vicente Pires. Ou melhor, na Colônia Agrícola Vicente Pires. Eles chegaram em 1999. “Aqui era tudo mato. Só tinha chácara”, recorda.
A moradora é a única proprietária de chácara na Rua 7 que não fracionou o terreno. Ao contrário da maioria dos vizinhos, que transformaram a sua propriedade em condomínio ou lote comercial. A propriedade dela tem cinco mil metros quadrados. Lá, ainda cultiva hortifrutigranjeiros. Dolores lembra que, em 1996, o vizinho ao lado chegou a oferecer o lote de mil metros quadrados a ela por R$ 2 mil.
Com praticamente toda a vizinhança convertida em condomínio ou comércio, Dolores afirma que não se sente uma estranha no próprio ninho. Acha que a vinda dos serviços de urbanização organizou a ocupação desordenada. “A pavimentação diminuiu a poeira e a lama em 100%. Ficou muito bom. Com a chegada da cidade, tumultuou porque o tráfego de carros e caminhões faziam estrago aqui”, disse.
O processo de regularização de Vicente Pires teve início em 2017, mas ainda não foi concluído. Muitas casas permanecem na irregularidade. Foram entregues 57 mil escrituras. A cidade possui cerca de 80 mil residências. São divididas em glebas. De 1 a 3 são da Terracap. Porém, a Gleba 4, que compreende a Vila São José, pertence à União. Por isso, ainda não foi regularizada.
De acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Vicente Pires (Acivip), Anchieta Coimbra, o fato de a Vila São José ainda não ter escritura impacta na regularização da cidade, porque tem de ser feita de forma integral.
Ele lamenta que isso demande tempo, pois a falta de escritura aos prédios comerciais faz com que empresários interessados em investir na cidade recuem.
“O GDF tem toda a disposição em regularizar Vicente Pires, mas a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) é que trava, pois a Gleba 4 e um pedação da Gleba 3 pertencem à secretaria”, afirma Anchieta.