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15/07/2020 às 11:10, atualizado em 15/07/2020 às 12:24
Adesão da primeira-dama Mayara Rocha e de órgãos do governo reforça empenho no combate à violência contra a mulher
Ativa como pessoa pública, a primeira-dama do DF, Mayara Noronha Rocha, sabe fazer bom uso do mundo virtual em favor de ações sociais. Foi o que avaliou a primeira-dama da República, Michelle Bolsonaro, ao chamar Mayara, que é secretária de Desenvolvimento Social, a abraçar a causa da campanha nacional Sinal Vermelho.
A ação é organizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em parceria com a Associação dos Magistrados do Brasil (AMB). Não demorou muito para Mayara Rocha aparecer na sua conta do Instagram com um “X” rubro na palma da mão. A imagem despertou curiosidade para o tema.
“Foi um desafio de rede social”, comenta Mayara. “Outras primeiras-damas de estados, como Gracinha Caiado [de Goiás], também tinham feito o convite. Foi um reforço de que eu realmente teria que entrar na campanha. É uma ação de extrema relevância.”
Não à violência
A iniciativa tem como meta ajudar as mulheres em situação de violência doméstica a buscarem socorro nas farmácias de todo o país. Basta a vítima marcar com um batom, ou mesmo caneta vermelha, a letra “X” na palma da mão, sinalizando que está em perigo, e um balconista ou o dono do estabelecimento ligará, imediatamente, para o 190. Ao todo, 10 mil farmácias e drogarias brasileiras aderiram ao projeto.
“O símbolo ‘X’ é uma proibição, quer dizer ‘não à violência doméstica’”, explica Mayara Rocha. “Não necessariamente tem que ter a marca, é só mostrar a mão ao farmacêutico ou balconista que eles já estão treinados para agir nessa situação.”
No Brasil, que ocupa o quinto lugar no ranking mundial de países onde mais se matam mulheres dentro do contexto doméstico e familiar, medidas preventivas, como a da campanha Sinal Vermelho, são sempre bem-vindas. Daí a adesão não apenas da primeira-dama do DF, mas também de órgãos do GDF relacionados ao tema, como as secretarias da Mulher (SM) e de Segurança Pública (SSP).
Todos podem ajudar
No DF, segundo dados da SSP, em média, 43 mulheres são agredidas diariamente, ou seja, uma a cada 34 minutos. “Toda campanha que ajude no combate à violência contra a mulher é de suma importância para a segurança pública”, defende o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres. “Estamos trabalhando para criar protocolos visando ao perfeito trâmite dessas informações, em tempo hábil, para que o socorro possa chegar e estancar esse horrendo tipo de violência”.
[Olho texto=”“Toda campanha que ajude no combate à violência contra a mulher é de suma importância para a segurança pública”” assinatura=”Anderson Torres, secretário de Segurança Pública” esquerda_direita_centro=”centro”]
Para a secretária da Mulher, Ericka Filippelli, o engajamento da sociedade no combate contra a violência doméstica é fundamental. Em reuniões com representantes da campanha, ela chegou a sugerir adesão de outros setores do comércio. “O que precisamos é justamente que outros setores se engajem”, destaca. “Estamos à disposição para trabalhar nessa articulação. É uma campanha que vem para somar”.
Mayara Rocha lembra que quanto mais participantes da sociedade civil estiverem envolvidos, melhor. “Estamos seguindo o modelo do CNJ, mas nada impede de termos a nossa atuação dentro do DF, expandindo para outros estabelecimentos”, afirma. “É uma campanha que tomou uma proporção de divulgação enorme, alertando sobre o que está acontecendo. Os agressores, quando tomam conhecimento desse tipo de ação, se sentem inibidos”.
Delegacia da Mulher
Ainda segundo pesquisa da SSP, 60% das vítimas do Plano Piloto e Entorno têm entre 30 e 49 anos. Uma das principais motivações para os crimes é o ciúme, sendo que 40% dos casais estavam morando juntos e outros 40%, separados. Um dado mais alarmante é que 60% dos casos aconteceram na própria residência. E pior: segundo o estudo, mais de 80% nunca chegaram a uma delegacia especializada.
“O grande desafio é incentivar as próprias mulheres a denunciar”, alerta Mayara Rocha. “Acredito que o medo e o preconceito interno, a vergonha de ir até à delegacia, são os principais impedimentos.”
[Olho texto=”“O grande desafio é incentivar as próprias mulheres a denunciar”” assinatura=”Mayara Noronha Rocha, secretária de Desenvolvimento Social” esquerda_direita_centro=”centro”]
Titular da segunda Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do DF, inaugurada há um mês em Ceilândia, Adriana Romana ressalta que o problema da violência doméstica não é apenas da mulher agredida e do marido agressor, mas engloba todos aqueles em torno desse casal que passa por situação similar – parentes, vizinhos e a comunidade, como um todo.
Responsabilidade social
“Trata-se de uma conscientização, mudança de ideia, e todos nós temos o dever de ajudar essas mulheres; é uma responsabilidade de toda a sociedade”, reforça a delegada. Ceilândia lidera os números de ocorrências por violência doméstica. De 2018 a 2019, aponta a SSP, os casos aumentaram em 13% – 330 ocorrências registradas.
Isso explica a criação de uma unidade específica na região para atender essa demanda social gritante. Desde que foi inaugurada, em 16 de junho deste ano, a Deam 2 registrou quase 400 ocorrências – 390 casos, até a última-terça-feira (14), o que dá uma média de 13 atendimentos por dia. Desse montante, mais de 70% são de crimes ocorridos em Ceilândia, sendo 30%, aproximadamente, no Sol Nascente/Pôr do Sol.
“Quase todas essas ocorrências vão virar um inquérito policial”, explica Adriana Romana. “Estamos conseguindo atender todas os flagrantes vinculados à Lei Maria da Penha, buscando um atendimento diferenciado, mais humano.”
Diante de temática complexa, o secretário de Segurança Pública não descarta a possibilidade da criação de outras delegacias de atendimento à mulher no DF. “ “Com a futura reposição do efetivo de policiais civis, serão analisadas novas ações visando atender outras áreas com esse tipo de estrutura”, prevê.
* Colaborou Rosi Araújo