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31/07/2020 às 09:27
Pesquisador da Fiocruz atribui o fato ao atendimento acolhedor que as pessoas em condições de rua têm nos espaços de Ceilândia e do autódromo
O psicólogo sanitarista Marcelo Pedra, do Núcleo de Pesquisa sobre População em Situação de Rua da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), crava: oferecer uma estadia mais acolhedora, sem julgamentos, ao morador em situação de rua, muda a forma como essa população enxerga o abrigo – e isso é decisivo para o sucesso de qualquer estratégia.
Pedra cita como exemplo os dois alojamentos provisórios instalados em Ceilândia e no Autódromo Nelson Piquet, implementados pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) para abrigar os moradores em situação de rua durante os meses da pandemia da Covid-19.
“Há uma taxa de evasão baixíssima nos alojamentos, porque as pessoas são extremamente bem cuidadas, acolhidas. São cinco refeições por dia. O espaço é provisório, feito em contêiner, mas com distanciamento adequado”, lembra o psicólogo.
As pessoas, ressalta ele, são sistematicamente testadas, têm biblioteca, espaço para pintura, conversar, ver TV… “Isso tem sido um relato muito interessante”, destacou.
Para o pesquisador, essa mudança na forma de acolhimento do morador em situação de rua, com um serviço mais adaptado à necessidade específica dessa população, pode ser se tornar um legado positivo dessa crise gerada pelo novo coronavírus.
“Os espaços de abrigamento que têm sido, neste momento, mais acolhedores, produzem um bom efeito. Mostra que, quanto mais próximo estiver das necessidades da população, ela fica”, ressaltou Pedra, em entrevista ao programa Boletim Corona, do Canal Saúde Oficial.
[Olho texto=”Os espaços mais acolhedores mostram que, quanto mais próximo estiver das necessidades da população, ela fica” assinatura=”Marcelo Pedra, pesquisador da Fiocruz” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Com capacidade máxima de 200 vagas cada um, os alojamentos provisórios instalados no estacionamento do Abadião, em Ceilândia, e no Autódromo Nelson Piquet, na Asa Norte, foram montados em contêineres que funcionam com uma espécie de casa para os abrigados.
O local tem camas, armários, banheiros, refeitórios, espaços de lazer e de oficinas de profissionalização, além do acompanhamento de saúde e orientação socioassistencial.
Gerente do Serviço Especializado de Abordagem Social, André Santoro admite que a rotatividade faz parte do serviço de acolhimento, já que os moradores em situação de rua não são obrigados a permanecer no local. Por isso, uma taxa de ocupação de que varia de 160 a 180 pessoas em cada alojamento, como é atualmente, é considerada alta.
“A partir do momento que você explica que não é só um local para dormir fora, é um lugar para ter um acompanhamento especializado, um plano de acompanhamento individual, com algumas metas a serem alcançadas junto com a equipe técnica, o indivíduo colabora”, conta Santoro.
Além dessas 400 vagas disponíveis nos dois alojamentos temporários, como medida para prevenir a disseminação da Covid-19 entre os moradores em situação de rua, a Sedes ampliou a capacidade do Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da Granja das Oliveiras, no Recanto das Emas, com mais 105 vagas.
Parceria com a Fiocruz
O pesquisador Marcelo Pedra também destacou o Plano de Ação Interinstitucional para a População em Situação de Rua, uma parceria da Fiocruz Brasília com as secretarias de Desenvolvimento Social (Sedes) e de Saúde. O plano conta com a participação de cerca de 30 residentes da Fiocruz Brasília nas áreas de Medicina de Família e Comunidade; Multiprofissional e Atenção Primária; e de Gestão em Saúde. E prevê atuação dos residentes nos abrigos e junto às equipes de Consultório na Rua.
Os residentes passaram por uma formação específica e estão colaborando com 10 abrigos prioritários indicados pela Sedes – entre eles, os dois alojamentos temporários. Eles atuam na prevenção da Covid-19 e de outras doenças e nos atendimentos médicos dentro das unidades.
Para a diretora de Serviços de Acolhimento da Sedes, Daura Meneses, essa parceria é um exemplo de como as políticas públicas, juntas e integradas, podem, de fato, melhorar a vida da população. “Esperamos com isso qualificar o atendimento, em especial os procedimentos de biossegurança dentro das instituições, sem a necessidade de deslocar pessoas até às unidades básicas de saúde”, conta ela.
Canal Saúde Oficial
O programa Boletim Corona é transmitido de segunda a sexta-feira, às 15h, pelo Youtube do Canal Saúde Oficial, emissora de televisão do Sistema Único de Saúde (SUS), criada e gerida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O canal está no ar diariamente, em âmbito nacional, das 7h à meia-noite, com produções próprias e de parceiros.
* Com informações da Sedes/DF