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16/10/2020 às 20:12, atualizado em 19/10/2020 às 14:48
Em entrevista, presidente da empresa apresenta contas superavitárias e lembra que GDF já busca investimentos na iniciativa privada
As contas da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) vão muito bem, obrigado. E depois de reduzir as dívidas da empresa em 22%, no período de um ano, a empresa entrou em 2020 com investimentos previstos na ordem de R$ 230 milhões.
[Numeralha titulo_grande=”R$ 145 milhões” texto=”foi o lucro da Caesb em 2019″ esquerda_direita_centro=”centro”]
Os números são comemorados pelo presidente da companhia, Daniel Rossiter, que em agosto completou um ano de gestão com resultados positivos, caixa superavitário e até reconhecimento nacional – a companhia conquistou a 66ª posição na vigésima edição do prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI 2020, disputado com outras 240 empresas de todo o país.
“A Caesb tem conseguido manter todas as suas contas em dia, tanto com fornecedores quanto com funcionários”, comemora o gestor, feliz com o bom desempenho logo na primeira participação da Caesb nessa premiação.
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Depois de enfrentar um desabastecimento de água no Distrito Federal e passar por um racionamento nos anos de 2016 e 2017, a Caesb avança em investimentos, descarta novos racionamentos e se moderniza para atender com qualidade e segurança todas as regiões administrativas do DF.
A Agência Brasília esteve nesta semana na sede da empresa com com Daniel Rossiter, que fala da possibilidade de abertura de capital para novos investimentos e sobre a melhoria do sistema de distribuição de água e tratamento de esgoto em todo o Distrito Federal.
Como foi para a Caesb o consumo de água durante a quarentena? Mudou muito com a redução da atividade econômica?
Não teve nenhuma oscilação grande de consumo. Embora algumas atividades tenham parado, as pessoas em casa continuaram consumindo água. Algumas atividades como academia, cinema e hotéis, que tiveram algumas restrições, nestes setores específicos, sim, houve uma redução no consumo de água. Mas, no balanço geral, conseguimos detectar a manutenção dos volumes que eram verificados antes. Alguns residenciais aumentaram e alguns comerciais reduziram, mas no geral ficou equilibrado.
A Caesb teve um papel social muito atuante no início da pandemia, seja com doação de cestas básicas e sabonetes ou com produção e doação de máscaras. Como foi liderar este processo?
Foi muito bom, porque a [campanha de] higienização estava muito focada no uso de álcool gel. E com o lançamento da campanha solidária de doação de sabonetes e barras de sabão às famílias das crianças atendidas pelo Projeto Golfinho – e outras pessoas em situação de vulnerabilidade –, tivemos um olhar diferente voltado para a solidariedade. Foi um movimento geral da empresa e uma coisa muito importante nesse período que a gente passou, de entender o cuidado com o outro. Com a determinação do isolamento social, o contato presencial com as crianças do projeto foi evitado, mas o programa se manteve ativo, não foi suspenso. Todos continuaram sendo atendidos, então a gente não perdeu o contato com as crianças.
Como estão as contas da empresa? São superavitárias?
A Caesb tem conseguido manter todas as suas contas em dia, tanto com fornecedores quanto com funcionários. Temos financiamentos que já foram quitados e os que estão em andamento, cumprimos todas as parcelas em dia, e a empresa conseguiu fechar o ano superavitária. Em um ano, entre agosto de 2019 e julho de 2020, fechamos com números positivos. No exercício do ano passado, por exemplo, o lucro foi de R$ 145 milhões. E estamos ainda conseguindo reduzir as dívidas da empresa, na ordem de 22%, enquanto aumentamos o saldo em caixa – que chegou ao maior valor desde que a reserva financeira da empresa foi criada, em 2015, de R$ 129 milhões. A Caesb quitou o edifício-sede, no valor de R$ 28,7 milhões, e liquidou antecipadamente financiamentos feitos no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, no valor aproximado de R$ 100 milhões. Para 2020, os investimentos chegam a R$ 230 milhões.
Há no governo a intenção de abrir o capital da empresa para arrecadar mais para investimentos futuros?
O governador Ibaneis Rocha tem a ideia de abrir o capital da empresa para a iniciativa privada mantendo o controle. E isso seria uma coisa muito importante para a sociedade. Porque é uma forma de atrair recursos a custo zero, transformando-os em investimentos. Assim, o privado passa a participar da empresa. Qualquer pessoa poderá comprar ações e esses recursos vêm para investimento para capitalização, e não gera ônus. Vamos abrir o capital, mas o comando continua do Estado.
Como é composto o patrimônio da Caesb? Ela é uma empresa 100% do GDF? Como ela está organizada?
O GDF tem 89% e tem uma participação de mais ou menos 10% da Terracap [Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal]. E o restante, de cerca de 1%, diluído entre Terracap e a Novacap [Companhia Urbanizadora da Nova Capital].
Nos últimos 18 meses, a Caesb investiu na manutenção e modernização das redes em vários pontos. A Estação de Tratamento de Esgoto do Gama também está em obras, o que vai permitir a redução de custos operacionais, de manutenção e de energia elétrica. Quais outros investimentos foram feitos?
A empresa sempre investe na eficiência energética. Nós fomos um grande consumidor de energia elétrica. E a gente vem trabalhando para não só reduzir o consumo, como também, se possível, focar em algumas fontes alternativas – sobretudo para economia de energia elétrica. Também temos, bem atrás do Palácio do Buriti, os novos reservatórios de água da chamada Estação R1. Essa foi a primeira estação de tratamento de Brasília. São reservatórios novos que vão dar um economia em termos de manutenção, porque os reservatórios antigos eram de alvenaria e, quando isso acontece, é complicado para consertar. Além do que ele tem uma capacidade de 20 milhões de litros e vai passar para 30 milhões de litros. Então, além de ter uma relação maior com um equipamento melhor e os tratamentos de esgoto melhores, também geram uma melhoria na diminuição do consumo de energia, na própria operação da estação como um todo.
A Caesb anunciou, há algumas semanas, que as obras do Corumbá IV já estão 97% executadas. Esse total é da parte que compete ao DF. E como estão as obras do lado goiano? Qual a previsão de operação de Corumbá IV?
De fato, de toda a obra, 97% estão concluídos. Esses 3% que faltam são coisas pontuais do lado de Goiás, que é a parte da energia elétrica das estações elevatórias de água. E a gente espera que até dezembro a gente possa anunciar a data. A plena operação do Sistema Corumbá depende da energia para levar a água. Até chegar a Valparaíso não tem nenhum impedimento. Aí é só questão de concluir a ligação da energia elétrica.
Como essa obra vai ajudar a cidade? Em quanto ela aumenta a capacidade de abastecimento do DF?
Corumbá IV vai deixar o reservatório do Descoberto com um descanso maior. Hoje ele abastece o DF e, quando [Corumbá] vier, vai trazer água para abastecer Taguatinga, Ceilândia e Samambaia e a região de Águas Claras. Tem algumas outras regiões administrativas que vão possibilitar a economia na água do Descoberto. Então a gente teria Descoberto, Santa Maria e Corumbá IV funcionando.
Há outros reservatórios em construção? Onde eles estão sendo instalados? Qual o investimento e quantas pessoas vão ser beneficiadas?
Nós estamos tentando fazer um reservatório de água na região do [Lago] Paranoá, no Lago Sul. Paranoá tem uma grande importância para carregar para aquela região de São Sebastião, Jardim Botânico, porque a água do Descoberto não chega lá. Assim como aconteceu no Lago Norte, que tem a estação de tratamento, estamos desenvolvendo a mesmo projeto no Lago Sul, para resolver.
[Olho texto=”“Só tivemos na história do DF uma crise hídrica em 60 anos. O ano de 2016 foi de pouca chuva. Em 2017 isso se repetiu. E não foi adotado nenhuma medida, então isso gerou a crise. O DF tem água suficiente, desde que usada racionalmente”” assinatura=”Daniel Rossiter, presidente da Caesb” esquerda_direita_centro=”centro”]
Em 1º de junho a Caesb deu fim ao consumo mínimo mensal de 10 metros cúbicos. Foi uma mudança significativa na nova tabela de água e esgoto. Quais os reflexos até agora?
O que se fez foi modificar a forma de consumo. E o que aconteceu foi o seguinte: houve uma redução considerável da tarifação em quem está incluído na Tarifa Social. E houve um aumento também considerável na faixa que consome mais água e na faixa comercial. Isso gerou um impacto inicial, porque as pessoas passaram a prestar mais atenção na quantidade de água que consomem.
Muita gente reclamou dessa tarifa, mas outros também comemoraram – já que quem economiza, paga menos. A gente tem resultados dessa economia?
Quando o consumidor percebeu que quem consome acima de 49 metros cúbicos ia pagar R$ 23 por cada metro cúbico, e se ele gastou, sei lá, 100 metros cúbicos no mês, ele percebeu que a conta dele foi para R$ 2,3 mil… Estamos falando só na conta de água, né? Quando soma o esgoto, o consumidor vai pagar mais, chegando até a R$ 4 mil no mês. Isso, então, realmente gerou um impacto no primeiro momento. Mas, com o tempo, o cidadão vai se educando a consumir um pouco menos, já que ele viu que consumir mais é ruim para ele, já que a taxação no metro cúbico reduz gradualmente se o consumo é menor. Então, isso é uma questão de tempo.
Outra situação que amedronta quem mora no DF é a questão do racionamento. Brasília está livre de passar por isso novamente?
Eu não estava na companhia na época, mas o problema não foi um consumo desenfreado, apenas. Foi a demora em tomar atitudes para evitar que o reservatório chegasse ao ponto que chegou. Só tivemos na história do DF uma crise hídrica em 60 anos. O ano de 2016 foi de pouca chuva. Em 2017 isso se repetiu. E não foi adotada nenhuma medida, então isso gerou a crise. O DF tem água suficiente, desde que ela seja usada racionalmente. O problema foi escassez de chuva, demandando na época uma atitude mais rápida para solucioná-lo, o que não correu. Chegou-se ao ponto de um reservatório ficar abaixo de 10% da sua capacidade. A gente trabalha com o quê? Com a economia da água. A gente procura reduzir perdas da companhia, né? Mas a gente sabe que quem controla a chuva é Deus, então a gente não pode fazer cálculo de que vai chover mais ou menos. O que a gente pode fazer é seguir o roteiro que possibilita que mantenhamos os reservatórios com níveis controlados, para evitar qualquer problema de racionamento no futuro. E, no cenário atual, não visualizamos racionamento.
E os cortes e interrupções de água que são noticiados pela empresa com frequência? Por que eles ocorrem? São todos programados?
Como você mesmo disse, eles são programados. E são necessários para que nós possamos fazer as correções preventivas, as manutenções necessárias na rede local. Esses ajustes são imprescindíveis. Porque, dependendo da tubulação da pressão com que a água vai, não tem como trabalhar na região sem suspender o abastecimento de água, porque a pressão que vai ser feita é para evitar que no futuro ocorra um problema de falta de água. Então, 24 horas que se interrompa não significa que vai faltar água. Quem tem caixa d’água não fica sem água na caixa d’água. Está cheia. Se não chegou água naquele dia, o volume na caixa vai baixando, mas no dia seguinte volta. Por isso que a gente recomenda que as pessoas tenham caixa d’água em suas casas.
A Caesb tem um novo aplicativo de autoatendimento. O que tem de novo nele e o que vocês esperam colher com as mudanças?
Nós desenvolvemos um novo aplicativo com o pessoal do TI [Tecnologia da Informação]. E esse novo aplicativo veio com novas ferramentas rápidas para que as pessoas pudessem se comunicar de forma simples e ágil com a companhia. Até para que, como a água é essencial, o problema relativo a água e esgoto chegue rápido para gente. Com esse novo aplicativo a gente espera que o usuário tenha entendimento mais ágil, que resolva seus problemas, que antes só se conseguia resolver presencialmente. E o melhor: o acesso é feito pelo próprio CPF do consumidor, não precisa mais do número que aparece na conta. Com isso, o consumidor pode encontrar 16 serviços, os mesmos que constam no atendimento presencial. Só o parcelamento é que não, mas pode ser feito no site. Se você vir um esgoto transbordando, por exemplo, você pode fotografar e mandar a localidade pelo sistema. Tem até um mapa de balneabilidade do Lago Paranoá, indicando os pontos seguros onde se pode nadar.