30/03/2022 às 11:07, atualizado em 30/03/2022 às 11:08

Fórum de saúde capacita servidores para atendimento a indígenas

Encontro discutiu as especificidades das etnias e destacou experiência bem-sucedida do ambulatório do Hospital Universitário de Brasília

Por Agência Brasília* | Edição: Claudio Fernandes

A fim de capacitar o servidor para o atendimento específico da população indígena do DF, a Secretaria de Saúde preparou o Fórum de Saúde Indígena. O evento foi organizado pela Gerência de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais. A capacitação ocorreu na terça-feira (29), no Memorial dos Povos Indígenas, e teve como foco as experiências do Ambulatório de Saúde Indígena do Hospital Universitário de Brasília.

“Foi a coisa mais motivadora como profissional da saúde indígena que já vi acontecer”, conta a cirurgiã cardíaca do ambulatório, Ismene Serra. A especialista viveu dos 4 aos 8 anos no Parque Indígena do Xingu porque o pai é antropólogo indigenista. Para ela, o fórum foi uma oportunidade de trocar conhecimento com representantes de outras unidades e órgãos.

A nutricionista Giovana Mandulão, da etnia Macuxi, relata que se sentia invisível ao chegar a Brasília em 2006: acolhimento após muita luta | Fotos: Tony Winston/Agência Saúde

A nutricionista Giovana Mandulão, 36 anos, é da etnia Macuxi, de Roraima. Ela relata a experiência que vivenciou ao chegar a Brasília, em 2006, para estudar na Universidade de Brasília. “Eu sentia que era invisível; só após muita luta do movimento indígena na universidade que começou esse processo de acolhimento”.

Respeito às tradições

Para o estudante Alisson Cleomar dos Santos, 26 anos, aluno do nono semestre de medicina da Universidade de Brasília (UnB), é importante saber valorizar as particularidades das populações. Ele é da etnia Pankaruru, que fica no sertão de Pernambuco, e conta que a sua tribo tradicionalmente tem ritual de dança com urtiga no corpo. “Tem médicos que não entendem que faz parte da nossa cultura”, diz.

Estudante de medicina, Alisson Cleomar, da etnia Pankaruru, destaca a importância de saber identificar as particularidades dos povos indígenas

A enfermeira Judite Pereira Rocha, da Unidade Básica de Saúde 1 (UBS 1) de São Sebastião, responsável pelo atendimento do povo Warao, reforça a importância do tema e da atuação de antropólogos envolvidos no contato. “Não é o indígena que não está entendendo, é a gente que não compreende as diferenças e isso precisa ser trabalhado”, afirma.

“Nem todos os indígenas procuram o ambulatório; eles podem ir direto a um hospital, a uma unidade básica de saúde. É um preparo necessário de se ter”, afirma a doutoranda em direitos humanos Suliete Gervásio, 34 anos. Ela é da etnia Baré, da região do Amazonas, e defende que mais encontros como esse sejam feitos.

A doutoranda em direitos humanos Suliete Gervásio defendeu a realização de mais encontros como o fórum

“A gente precisa incentivar esse diálogo para criar uma ponte entre as comunidades e a UBS”, disse o médico e antropólogo Fernando Natal, responsável pela organização do evento. “A ideia é encontrar mecanismos de capacitação para os profissionais e também uma interface com os demais órgãos.”

[Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Essa foi a terceira iniciativa voltada para a saúde indígena organizada pelo setor. Desta vez, foram chamados profissionais do Ambulatório de Saúde Indígena do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Na primeira ação, em janeiro, o evento teve como focos a antropologia e a história dos povos indígenas no DF. A segunda agenda foi em fevereiro e tratou de como abordar situações-problema respeitando as diferenças.

Estiveram presentes no fórum servidores das secretarias de Saúde (SED) e de Desenvolvimento Social (Sedes), do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Secretaria Especial de Saúde Indígena e da UnB.

*Com informações da Secretaria de Saúde