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04/10/2022 às 16:13
Mais de 2,3 mil transplantes foram realizados no Distrito Federal desde 2019; campanha Setembro Verde conscientiza população sobre importância de doação de órgãos
Brasília, 1º de setembro de 2022 – A vida do coordenador de projetos de telecomunicações José Gilson de Freitas, 47 anos, seria bem diferente se não fosse pela doação de um rim por parte da irmã mais nova. Portador da doença autoimune Nefropatia por IgA, que ataca o sistema renal, ele enfrentava longas sessões de hemodiálise e precisava ingerir diversos medicamentos. Com a doação, hoje, não precisa mais do tratamento e vive com muito mais qualidade.
Tudo começou em 2012, quando José descobriu a doença e começou a travar uma batalha com a própria saúde. Anos passaram até que, em 2018, descobriu a possibilidade de receber um transplante da irmã.
De início, José não quis. Achou que iria interferir negativamente na saúde da irmã, mas foi convencido sobre a segurança do protocolo para os dois lados. “No começo, você não quer aceitar porque pensa na vida da outra pessoa, no risco que ela tem durante uma cirurgia. Às vezes, também por falta de conhecimento, pensa que pode gerar um problema para a pessoa”, relembra ele.
O processo de aceitação incluiu muita pesquisa e conversa com outras pessoas com a mesma experiência. “Comecei a estudar sobre o assunto e conversei com um amigo que doou o rim para a esposa. Depois que entendi que a vida deles estava muito bem, fui me tranquilizando”, comenta José.
[Olho texto=”Nos últimos quatro anos, o Distrito Federal realizou 2.331 transplantes. Foram 88 de coração, 341 de fígado, 298 de rim, 1.164 de córnea e 440 de medula óssea” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]
O transplante ocorreu em 27 de agosto de 2021, após um ano de espera, já que tinha sido agendado para março de 2020, mas que, devido a pandemia do novo coronavírus, foi adiado. José foi o 300º paciente transplantado do Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal.
A cirurgia ocorreu conforme o planejado e, logo no dia seguinte, a doadora recebeu alta. José foi para casa alguns dias depois, com a saúde estável. Hoje, pouco mais de um ano após a cirurgia, a irmã tem uma vida normal, enquanto José vive melhor do que nunca. “Estou muito bem, a sensação é de que quando não tinha problema nenhum. Até melhor, porque passei a cuidar mais da saúde”, diz ele.
José, que antes não entendia muito sobre o tema, defende que mais pessoas saibam do que se trata a doação de órgãos e tecidos e de como pode ser positivo para os dois lados, doador e paciente. “Hoje, o conhecimento dos meus filhos, da minha esposa, é de que a doação de órgãos salva vidas e salvaram a minha”, conclui.
Recomeço
Nos últimos quatro anos, o Distrito Federal realizou 2.331 transplantes. Foram 88 de coração, 341 de fígado, 298 de rim, 1.164 de córnea e 440 de medula óssea. Os dados foram atualizados em junho.
[Olho texto=”A Central Estadual de Transplantes (CET-DF) faz a conexão entre doadores com os pacientes da lista de espera, bem como com as equipes médicas, por meio de sistema gerenciado pelo Ministério da Saúde que conecta doadores e receptores de todo o país” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Em 2019, foram 722 cirurgias. No ano seguinte, devido à pandemia do novo coronavírus, o número caiu para 521. Em 2021, o total de transplantes voltou ao patamar anterior à crise sanitária – foram registradas 713 cirurgias do tipo. Neste ano, até junho, houve 375 procedimentos.
Há dois tipos de doadores: vivos e falecidos. No primeiro caso, a pessoa precisa ser maior de idade e juridicamente capaz, saudável e concordar com a doação, desde que não prejudique a própria saúde. A legislação brasileira estabelece que a doação em vida só pode ser realizada para parentes até o quarto grau e cônjuges. Em outros âmbitos, o processo deve ser autorizado judicialmente.
A doação por falecimento exige autorização jurídica da família e só ocorre com pacientes que tiveram morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou derrame cerebral. No Distrito Federal, após a morte, são realizados transplantes de coração, fígado, rins, córneas e medula óssea.
A rede pública de saúde oferece assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante. No DF, os procedimentos ocorrem no Hospital de Base, Hospital Universitário de Brasília (HUB) e Instituto de Cardiologia do DF (ICDF).
A Central Estadual de Transplantes (CET-DF) faz a conexão entre doadores com os pacientes da lista de espera, bem como com as equipes médicas, por meio de sistema gerenciado pelo Ministério da Saúde que conecta doadores e receptores de todo o país. Os pacientes que precisam de um órgão são listados conforme a compatibilidade com o doador – quanto mais compatível, mais próximo do topo da lista.
A diretora da CET-DF, Daniela Salomão, afirma que o sistema facilita o encontro entre as partes. “Existem muitas pessoas precisando de transplante, mas poucos doadores. Se não tivermos um sistema organizado e auditável para que seja justo dentro das normas técnicas existentes, teremos problemas, até porque a família que doa precisa acreditar nos critérios para a escolha do paciente e, em alguns casos, até provar judicialmente o transplante”, explica.
De acordo com Daniela Salomão, a pandemia do novo coronavírus atrapalhou a doação pela falta de conhecimento sobre o vírus e também pelo risco elevado de infecção. “Restringimos os doadores e tivemos o cuidado adicional de testagem, o que aumentou a complexidade do processo de doação. O número de doadores caiu, enquanto a lista de pacientes seguiu crescendo”, completa.
Mais conhecimento, mais doações
A doação de órgãos, ainda em vida ou após o falecimento, precisa ser um assunto debatido coletivamente. “Na doação após a morte, quando não há essa conversa com a família, o processo é muito mais complicado. A família já está vivendo o luto e ainda tem que lidar com a decisão sem conhecer o interesse do paciente. Muitas acabam recusando a doação”, alega Daniela Salomão.
Neste semestre, a campanha Setembro Verde, realizada anualmente, incentiva a conscientização sobre o tema, tendo em vista facilitar o processo em caso de necessidade. “A chance de precisarmos de um transplante é muito maior do que sermos doadores um dia. Se um dia eu precisar, gostaria que alguém me doasse. Da mesma forma, estou disposta a ajudar alguém doando também”, finaliza a especialista.