18/05/2023 às 16:29, atualizado em 18/05/2023 às 18:10

Centros de Atenção Psicossocial promovem ações sobre saúde mental em maio

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial, nesta quinta (18), motiva as atividades; atendimentos nos Caps aumentam 45,8% no primeiro trimestre de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado

Por Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger

Os 18 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do Distrito Federal, o Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica (Compp) e o Adolescentro realizam diversas atividades neste mês para promover a pauta da saúde mental em alusão ao 18 de maio, Dia Nacional da Luta Antimanicomial. ?A atuação multidisciplinar na assistência em saúde mental cresceu na capital. De janeiro a março deste ano, os Caps realizaram 45,8% mais atendimentos do que no mesmo período de 2022. Nos ambulatórios – Compp e Adolescentro -, o aumento foi de 10,7%.

“Foi através do Caps III que ele melhorou e conseguiu ter uma independência total na vida”, diz Cláudia Silva sobre o filho Kaolin, atendido no Caps há 12 anos | Foto: Divulgação/Agência Saúde

Essa política de saúde pública atende aos critérios atuais estabelecidos. “Hoje temos a psiquiatria moderna, que se afasta da questão da internação, daquelas imagens sobre manicômios que não queremos mais ver no Brasil”, explica a secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio. “Claro que precisamos ter locais para tratar as emergências, mas o paciente psiquiátrico, que tem um transtorno mental, precisa ser acolhido em um centro por uma equipe multidisciplinar para fazer o controle da doença, a ressocialização, a integração”, complementa.

Em Samambaia, o Caps III proporcionou várias ações à comunidade. O espaço foi enfeitado e contou com debate sobre a importância da data. Nesta quinta-feira (18), uma extensa programação durante todo o dia movimenta o local, cenário que se estende pelos centros de todo o DF.

Os artesãos João Carlos Mendes da Costa e Marcos Roberto Rocha da Silva encontraram apoio no Caps AD II, do Itapoã, para superar a dependência química | Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde

Na abertura, o Coral Levando a Vida animou as atividades. Atendido há 12 anos pelo Caps, Kaolin Silva, 30 anos, se apresentou com o grupo ao lado da mãe, Cláudia Silva, 57.

[Olho texto=”“É necessário sensibilizar a sociedade e os familiares a respeito das pessoas com transtornos mentais, pois ainda temos muito estigma e preconceito. Essas pessoas precisam ter o acompanhamento em todos os serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial, de acordo com a dinâmica do quadro de saúde de cada uma delas.”” assinatura=”Rúbia Marinari Siqueira, gerente de Normalização e Apoio em Saúde Mental” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

“Tenho muitos amigos aqui. Entre o que eles oferecem, o que mais gosto de fazer é jogar futebol”, conta Kaolin, que trata esquizofrenia. “Foi através do Caps III que ele melhorou e conseguiu ter uma independência total na vida”, diz a aposentada. Para ela, o acolhimento familiar é um dos pontos altos do atendimento.

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial é fundamental para a rede de saúde mental, pois marca um movimento histórico em prol de diferentes ações e serviços que garantam o acesso aos cuidados de forma ampliada, uma vez que os problemas dessa ordem são multifatoriais e complexos.

A gerente de Normalização e Apoio em Saúde Mental da Diretoria de Serviços de Saúde Mental, Rúbia Marinari Siqueira, destaca que a atuação exige articulação tanto dentro da própria rede quanto com as demais políticas públicas.

“Além disso, é necessário sensibilizar a sociedade e os familiares a respeito das pessoas com transtornos mentais, pois ainda temos muito estigma e preconceito. Essas pessoas precisam ter o acompanhamento em todos os serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial [Raps], de acordo com a dinâmica do quadro de saúde de cada uma delas.”

O Caps III de Samambaia teve programação especial, nesta quinta-feira (18), sobre o Dia Nacional da Luta Antimanicomial | Foto: Divulgação/Agência Saúde

A Raps é formada não apenas por equipamentos públicos de saúde, como os espaços físicos, mas também por estratégias que são fundamentais às pessoas com transtornos mentais e suas famílias. São exemplos as Estratégias de Reabilitação Psicossocial, que incluem iniciativas de geração de trabalho e tenda e empreendimentos solidários e cooperativas sociais.

No Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas II (Caps AD II) do Itapoã, a geração de renda no grupo de linhaterapia deu uma nova profissão a João Carlos Mendes da Costa, 26 anos, e a Marcos Roberto Rocha da Silva, 44 anos. Ambos, que passaram a frequentar o espaço para superar a dependência química, trabalham atualmente como artesãos.

[Olho texto=”Os Caps atendem pessoas com sofrimento mental grave e persistente. O foco do cuidado é a reinserção e reabilitação psicossocial. Em 2022, as 18 unidades juntas somaram 212.993 procedimentos, e elas funcionam de portas abertas para o acolhimento, sem necessidade de encaminhamento” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

“O modo de acolhimento no Caps foi de um jeito que eu não esperava. Os profissionais me deram uma oportunidade. Senti que tinha alguém lutando por mim, coisa que eu nunca tinha visto”, relembra Marcos, hoje certificado com a Carteira Nacional de Artesão. Para João, o artesanato é o que mais o motiva. “Aprendemos a dar valor ao nosso trabalho e a nós mesmos. Aqui somos uma família, temos diálogo”, avalia.

Como funcionam os Caps

Os Caps atendem pessoas com sofrimento mental grave e persistente. O foco do cuidado é a reinserção e reabilitação psicossocial. Em 2022, as 18 unidades juntas somaram 212.993 procedimentos, e elas funcionam de portas abertas para o acolhimento, sem necessidade de encaminhamento.

A assistência é feita por equipe multiprofissional com abordagem interdisciplinar. De acordo com o tipo de Caps, há psicólogos, psiquiatras, clínicos, pediatras, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, além de enfermeiros e farmacêuticos. Após acolhimento inicial e avaliação dos profissionais, o cuidado é desenvolvido por meio de Projeto Terapêutico Singular (PTS), que envolve equipe, usuário e família.

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Há diferentes tipos de Caps, subdivididos por faixa etária atendida, tratamentos específicos e horário de funcionamento. Os endereços de cada Caps e mais informações podem ser acessados aqui. Manifestações mais comuns do sofrimento mental das pessoas, como tristeza/desânimo, ansiedade e insônia, devem ser assistidas nas unidades básicas de saúde (UBSs).

Assistência ambulatorial e emergências

O acesso ambulatorial em saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS) ocorre pela regulação, ou seja, por meio do encaminhamento feito pela atenção primária. Adultos são direcionados aos ambulatórios com especialistas em saúde mental dos hospitais ou das policlínicas. Para o público infantojuvenil, a rede possui dois ambulatórios especializados, o Adolescentro, que atende pessoas de 12 a 17 anos, 11 meses e 29 dias, e o Compp, para quem tem até 12 anos incompletos. No ano anterior, as duas unidades realizaram 78.663 procedimentos.

Seguindo o que prevê a Lei nº 10.216/2001 e a Portaria de Consolidação MS/GM 3/2017 do Ministério da Saúde, os usuários com transtornos mentais ou necessidades decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas, e que apresentem intenso sofrimento psíquico, com comportamento agitado, agressivo, não colaborativo, ameaçador e violento, poderão ser encaminhados para internação de curta duração na rede hospitalar da Secretaria de Saúde.

*Com informações da Secretaria de Saúde

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