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23/05/2023 às 09:17
Unidade da Secretaria de Saúde é referência no acompanhamento da trofoblástica gestacional, também conhecida como mola hidatiforme ou gestação molar
O sorriso de Beatriz ao olhar para a filha Alice, de três meses, é uma mistura de sentimentos. Há realização e agradecimento por ter vencido dias difíceis. Quatro anos atrás, a médica veterinária havia sido diagnosticada com doença trofoblástica gestacional, quadro que impede a evolução da gravidez e coloca a vida da própria mãe em risco. Hoje, Beatriz Paixão é uma das mulheres acompanhadas no Ambulatório de Mola do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), um serviço que já atendeu mais de 2.500 pacientes desde 1986, sendo referência no Centro-Oeste.
Também chamada de mola hidatiforme ou gestação molar, a doença tem causas ainda desconhecidas e ocorre quando há fecundação anormal do óvulo, levando a uma gestação com ou sem embrião. Em ambos os casos, o desenvolvimento da criança não acontece.
Em algumas pacientes, a doença se comporta como um câncer, podendo afetar órgãos e até levar ao óbito. O diagnóstico é uma notícia delicada para as mães: significa que a gestação não vai progredir, e que será necessário um tratamento que pode incluir até a quimioterapia. “É algo devastador. A gente fica com uma expectativa, e é frustrante para toda a família” , conta Beatriz.
[Olho texto=”“É uma doença que, sendo adequadamente tratada, pode ser totalmente curada”” assinatura=”Valéria Gonçalves, ginecologista” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Ela fazia pré-natal na rede privada e notou que algo não estava bem quando os profissionais não conseguiram visualizar o bebê durante os exames de ultrassom. A imagem era semelhante a um cacho de uvas, um indicativo da doença. O caminho para o tratamento começou na Unidade Básica de Saúde (UBS) próxima de casa, no Núcleo Bandeirante.
Dali, Beatriz foi encaminhada ao Hospital Materno-Infantil de Brasília (Hmib), onde fez o procedimento de aspiração das células com a anomalia. Em seguida, o acompanhamento passou a ser feito no ambulatório do Hran, local hoje visto por ela como um espaço de informação e acolhimento. “Lá me explicaram direitinho toda a doença e o apoio que eu teria”, lembra ela, que à época tinha 19 anos.
No corredor onde fica localizado o Ambulatório de Mola do Hran é possível perceber no rosto de mulheres sentimentos semelhantes. O espaço reúne pacientes encaminhadas tanto pela rede pública quanto privada, às segundas-feiras, das 14h às 18h, e às sextas-feiras, das 8h às 12h. São cerca de 30 por semana.
“Todas as pacientes indicadas para nós são atendidas”, garante a ginecologista Valéria Gonçalves, responsável pelo serviço de acolhimento. O local também é referência para a formação de futuros profissionais de medicina e de residentes, que aprendem as técnicas para o tratamento. “É uma doença que, sendo adequadamente tratada, pode ser totalmente curada”, afirma Valéria.
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De acordo com a médica Marta de Betânia, referência técnica distrital de ginecologia da Secretaria de Saúde (SES), ainda que seja desconhecida, a doença não é tão incomum. Segundo ela, no Brasil estima-se um caso de gravidez molar em até 400 gestações. Entre os principais fatores de risco estão a idade: é mais provável o diagnóstico ocorrer em mulheres com pelo menos 35 anos, ainda que possa também existir em mães mais jovens, como foi o caso de Beatriz.
O acompanhamento tem como principal exame o beta HCG (sigla em inglês para Gonadotrofina coriônica humana); dependendo do resultado, é possível identificar a permanência da “mola” mesmo após a aspiração das células com anomalia.
Cerca de 20% das mulheres precisam complementar o procedimento com a quimioterapia para evitar o alastramento dessas células para outras partes do corpo. Depois, é mantido o acompanhamento do beta HCG, inicialmente com periodicidade semanal, mais tarde, mensal e, por fim, anualmente. Com o tratamento oferecido no Hran, há formas de recuperar a saúde da mulher e, se for o desejo dela, até viabilizar uma gravidez. “Eu tinha bastante medo de acontecer de novo, mas agora tenho a minha alegria. Eu sempre quis ser mãe”, conta Beatriz.
*Com informações da Secretaria de Saúde