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29/08/2023 às 11:39, atualizado em 29/08/2023 às 20:49
População conta com 73 unidades de saúde da rede pública para atendimento especializado; campanha deste ano alerta sobre sabores e aromas que disfarçam os reais prejuízos da nicotina no organismo
Um grave problema de saúde individual e pública, o tabagismo é considerado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal causa de morte evitável no mundo. Os dados são alarmantes: o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano, sendo 7 milhões pelo uso direto da substância e 1,2 milhão de não fumantes, expostos ao fumo passivo. Esta terça-feira, 29 de agosto, é o Dia Nacional do Combate ao Fumo, com o objetivo de conscientizar sobre os riscos do tabaco e de outras formas derivadas da nicotina.
No primeiro quadrimestre de 2023, houve atendimento no Distrito Federal para 527 tabagistas, sendo 55% do sexo feminino e 45% do sexo masculino, tendo a maior parte da faixa etária (70%) entre 18 a 59 anos. Atualmente, o Programa Distrital conta com 78 unidades de saúde cadastradas para realizar tratamento de tabagismo.
Conforme informe sobre o Perfil de Atendimentos no Programa de Controle do Tabagismo no Distrito Federal, em 2022, houve atendimento inicial de 1.650 tabagistas nas unidades de saúde, o que representou um aumento de 85,6% em relação ao ano de 2021. Deste número, a maioria é do sexo feminino, com 57,8% de predominância, sendo que a maior parte está na faixa etária de 18 a 59 anos.
[Olho texto=”“Vivemos uma pandemia de tabaco e seus derivados há muitos anos. Ele é a maior causa de adoecimento e morte evitável no mundo, além de onerar os custos com os tratamentos de saúde.”” assinatura=”Nancilene Melo, RTD de tabagismo” esquerda_direita_centro=”direita”]
Dos 1.650 pacientes que realizaram os atendimentos iniciais do tabagismo no ano passado no DF, 97,6% seguiram no atendimento da primeira consulta de avaliação clínica. Destes, 86,1% participaram ainda da primeira sessão estruturada.
O protocolo de atendimento no programa consiste em uma primeira consulta, que deve ser uma avaliação clínica. Em seguida, o paciente passará por quatro sessões de aconselhamento, com o intervalo de uma semana entre cada uma.
Dos atendidos, 13,8% (223) dos pacientes desistiram entre a primeira consulta de avaliação clínica e a primeira sessão de aconselhamento. No entanto, o percentual dos pacientes que participaram das quatro sessões estruturadas iniciais de tratamento foi de 47,2%.
O prejuízo à saúde é devastador, de acordo com a médica pneumologista e Referência Técnica Distrital (RTD) de tabagismo, Nancilene Melo. “Vivemos uma pandemia de tabaco e seus derivados há muitos anos. Ele é a maior causa de adoecimento e morte evitável no mundo, além de onerar os custos com os tratamentos de saúde.”
Embora as consequências sejam graves e conhecidas, parar de fumar não é tão fácil. A nicotina é uma droga cuja dependência é uma das mais difíceis de tratar. “O sucesso do tratamento depende do grau de motivação e determinação da pessoa. Em casos específicos, é necessário o auxílio de profissionais especializados na abordagem cognitivo comportamental e medicamentos para alívio para a síndrome de abstinência”, explica a especialista.
[Olho texto=”Há diversos produtos derivados de tabaco, como cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, tabaco para narguilé e dispositivos eletrônicos para fumar” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
O tabaco é uma planta cujas folhas são utilizadas na confecção de diferentes produtos que têm como princípio ativo a nicotina, que causa a dependência. Há diversos produtos derivados de tabaco, como cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, tabaco para narguilé, dispositivos eletrônicos para fumar e outros.
Atualmente, com o advento dos dispositivos eletrônicos, a agressividade da nicotina é mascarada por meio de aromatizantes, permitindo o consumo de uma dosagem elevada, que leva a efeitos negativos à saúde dos usuários mais precocemente. Por isso, o tema da campanha de combate ao fumo deste ano é “Sabores e aromas em produtos derivados de tabaco: uma estratégia para tornar a população dependente de nicotina”.
O objetivo é alertar a população sobre como o consumo destes produtos representa um risco por aumentar a experimentação entre crianças, adolescentes e jovens; ser um fator agravantes na dependência; e causar mais prejuízos.
Mudança de hábito
“O processo de parar de fumar é mais complexo, é mudança de hábito, mudança de estratégia”, explica a farmacêutica da UBS 1 do Cruzeiro, Anna Eliza, que atua no Grupo de Combate ao Tabagismo, uma das 73 unidades que oferecem o programa.
Em uma roda com sete profissionais de saúde, nove pacientes em tratamento ao fumo trocam experiências sobre o combate ao vício. Na sessão, cada um relata suas lutas e avanços. Para Carlúcio Pereira de Araújo, de 39 anos, uma conquista importante foi ficar um mês sem fumar. O incentivo? Ele passou as férias com o filho, de 2 anos, e não queria ser um mau exemplo.
[Olho texto=”“Não queria que meu filho me visse fumando e eu quero jogar bola com ele. Quando ele estiver com 14 anos, eu vou estar com 50 e estarei lá, jogando bola com ele”” assinatura=”Carlúcio Pereira de Araújo, participante do Grupo de Combate ao Tabagismo” esquerda_direita_centro=”direita”]
Participante do grupo desde maio, ele começou a fumar jovem, quando tinha apenas 14 anos. O vício cresceu ao começar a trabalhar e ter o próprio dinheiro para comprar cigarros. Quanto mais o tempo passava, mais ele experimentava jeitos diferentes de tragar nicotina: vaper, paiol, tabaco, cigarro.
“Eu comecei a repensar meu vício, quando comecei a passar muito mal. Sofri uma tosse muito intensa, muito forte, escarrando sem parar. Também comecei a ter refluxo e gastrite”, relata.
O estopim e a decisão de mudar vieram quando o cigarro tornou-se um problema em relacionamentos e o filho usou uma caneta para “brincar” que estava tragando. “Não queria que meu filho me visse fumando e eu quero jogar bola com ele. Quando ele estiver com 14 anos, eu vou estar com 50 e estarei lá, jogando bola com ele”, conta sobre a motivação.
Mais de 1,6 mil atendimentos
Toda segunda-feira, às 15h, o grupo se reúne na tenda da UBS para realizar uma roda de diálogo e discutir práticas para quem quer largar o fumo. As sessões são abertas para qualquer paciente, basta ir ao local e se sentar.
“O benefício do paciente participar do grupo é conviver com pessoas que sofrem do mesmo vício que ele, compartilhar as dores e as dificuldades, mas também as coisas que deram certo. A troca de experiência alivia, no primeiro momento, e funciona como motivação”, pontua a farmacêutica Anna Eliza.
Após a sessão, a equipe de saúde faz uma entrevista com o paciente, analisa em qual estágio de dependência se encontra e quais medidas podem ser utilizadas. Além de medicação, que é avaliada caso a caso, no grupo são criadas estratégias de Práticas Integrativas de Saúde (PIS). “A cada sessão, temos auriculoterapia, tai chi chuan, meditação. São medidas para alívio dos sintomas”, acrescenta.
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Programa de Controle ao Tabagismo
O Programa de Controle do Tabagismo no Distrito Federal segue as diretrizes do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PCNT), coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), cujo objetivo é a prevenção à iniciação ao tabagismo, a redução da prevalência de fumantes e da morbimortalidade relacionada ao consumo de produtos derivados do tabaco, por meio do desenvolvimento de ações educativas, de comunicação e de atenção à saúde, além de ações legislativas e econômicas.
Na Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), estão cadastradas 73 unidades para realizar o tratamento contra o tabagismo. Os interessados podem procurar a unidade mais próxima do seu domicílio ou trabalho, onde serão acolhidos e receberão todas as informações necessárias. Interessados também podem acessar este link ou o Disque Saúde 136. Confira aqui a lista completa com os centros de atendimento.
Nesta terça-feira (29), a SES-DF, por meio da Subsecretaria de Vigilância Sanitária (SVS), promoverá evento da campanha, às 15h, na Estação do Metrô Galeria.
*Com informações da Secretaria de Saúde