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27/10/2023 às 19:36, atualizado em 27/10/2023 às 20:36
Equipe do Hospital Materno-Infantil de Brasília corrigiu malformação com procedimento de alta complexidade, que durou 3 horas e foi comandado por médico referência internacional
O Hospital Materno-Infantil de Brasília (HMIB) realizou nesta sexta-feira (27) uma cirurgia inédita no Distrito Federal. Antes mesmo de nascer, um bebê passou por uma cirurgia dentro do útero de sua mãe para corrigir uma malformação conhecida como “espinha bífida”, quando parte da coluna fica exposta. Chamada cientificamente de meningomielocele, a doença gera limitações motoras e problemas neurológicos desde o útero, com consequências até o fim da vida.
Este não será o futuro da Agatha, a bebê planejada para nascer no mês de fevereiro. Para isso, quase 20 servidores trabalharam durante três horas no procedimento cirúrgico. “Fazemos uma incisão um pouco maior que uma cesariana, tiramos o útero com o bebê lá dentro e abrimos o útero para corrigir a coluna do bebê”, explica a médica Carolina Wanis Ribeiro de Sousa, servidora da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) e especialista em medicina fetal. As chances de recuperação plena são maiores que nos casos em que o procedimento ocorre só depois do nascimento.
Antes da cirurgia, a mãe da criança, Raiane da Rocha, 36 anos, disse que os últimos dias foram marcados por ansiedade e gratidão. “Estamos muito confiantes na equipe e no hospital. Fomos muito bem recebidos e sabemos que vai dar certo”, diz. Ela havia iniciado o pré-natal na rede privada e, logo após uma ecografia identificar a malformação, foi sugerida a procurar o HMIB, que conta com uma equipe de medicina fetal. A primeira consulta no hospital da SES-DF foi em 16 de outubro e, em 12 dias, Raiane já passou pela cirurgia.
O pai da bebê, o mecânico montador Jeremias Nascimento, 43 anos, ressalta a importância do acompanhamento em todos os momentos. “Eu preciso trazer tranquilidade para ela, independentemente de qualquer coisa, eu tenho que deixá-la tranquila”, conta. Moradores de Águas Lindas de Goiás (GO) e já pais de um menino de 4 anos, os dois dizem ter tranquilidade para enfrentar uma gestação diferente e acumula expectativas para quando a família estiver completa. “Ver ela correndo com o irmão. É esse o meu sonho”, revela Raiane.
Procedimento especializado
O primeiro procedimento no HMIB também contou com a presença do médico Fábio Peralta, do Gestar Centro de Medicina Fetal, do HCOR e Maternidade Star, todos de São Paulo. Referência internacional em medicina fetal e com experiência de já ter realizado mais de 600 cirurgias do tipo desde 2015, ele comemora as novas expectativas para os casos de diagnóstico. “Não existia esse tipo de correção, nunca víamos uma criança fora da cadeira de rodas, tendo um desenvolvimento normal. Hoje, o mais frequente é a gente ver as criancinhas correndo por aí, indo bem na escola, praticando esporte, tendo um desenvolvimento intelectual adequado”, afirma.
A realização da cirurgia no HMIB também é uma realização de sonhos para os servidores da área. “Fazemos esse treinamento há quatro anos com o doutor Fábio Peralta”, conta a médica Carolina Wanis Ribeiro de Sousa. A perspectiva de resultados positivos é um fator de motivação. “Quanto mais cedo for feita a cirurgia, mais chance esse bebê terá de andar”, acrescenta o obstetra Marcelo Filippo, da equipe de medicina fetal da SES-DF. Raiane passou pela cirurgia com 22 semanas de gestação, um período considerado adequado.
Com a projeção estatística de cerca de 250 crianças nascidas ao ano no Brasil com “espinha bífida”, pesquisadores da área trabalham para expandir o número de hospitais que poderão se tornar referência para a realização do procedimento. No caso do HMIB, além de atender gestantes do Distrito Federal e de outras regiões do Brasil, há o plano de capacitar mais profissionais. “Aqui nesse hospital teremos a formação de novos especialistas que vão dar continuidade a isso. O que nós queremos é que as novas gerações herdem essa experiência e continuem a trabalhar no SUS, oferecendo este serviço”, explica a diretora de atenção à saúde do HMIB, Andréia Regina Araújo.
Foco da gestão
Além de contar com profissionais qualificados, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) deu apoio à medicina fetal com a aquisição dos insumos necessários e a disponibilidade de equipamentos e um aparelho de ultrassonografia para o centro cirúrgico, além de disponibilidade de leito da unidade de terapia intensiva. O HMIB também já conta com experiência de outros procedimentos intrauterinos, incluindo transfusão de sangue para fetos e laser em gestações gemelares.
“A correção intrauterina da espinha bífida é um marco para Saúde do Distrito Federal. A alta complexidade do procedimento exige uma Equipe extremamente qualificada e temos no HMIB. Os benefícios são enormes, como redução de danos neurológicos, problemas de mobilidade e redução de infecções, diminuindo muito a letalidade” , afirma a secretária de saúde, Lucilene Florêncio.
A rede pública também está capacitada para realizar o diagnóstico precoce da doença durante o pré-natal. “Esse foi o primeiro procedimento de outros que com certeza serão realizados com o mesmo sucesso”, completa a gestora.
*Com informações da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF)