09/11/2023 às 08:05, atualizado em 09/11/2023 às 09:30

#TBT: Monumento Solarius, um chifrudo à beira da estrada

Como uma escultura doada pelo governo da França foi renegada por Lucio Costa e abraçada pelos moradores de Santa Maria

Por Jak Spies, da Agência Brasília | Edição: Vinicius Nader

Quem já passou pela Rodovia Presidente Juscelino Kubitschek, na altura de Santa Maria, provavelmente viu a escultura de 16 metros de altura que se localiza à margem leste da BR-040, à direita da entrada para o Distrito Federal. É o monumento Solarius, uma estrutura de aço com chapas galvanizadas, lã de vidro e produtos plásticos. Mas o ponto turístico é mais conhecido como “Chifrudo”, pelo formato pontiagudo no topo da estátua.

Diferentemente do imaginário popular, as formas representadas na escultura não têm ligação com um chifre, mas com o movimento migratório dos brasileiros para a capital. Ferramentas como a foice e o facão aparecem na peça como representação do candango desbravando Brasília. O monumento também é conhecido como “Pioneiros Candangos”.

Em 1967, a escultura Solarius foi doada pelo governo da França ao governo brasileiro, em homenagem à construção da nova capital | Foto: Divulgação/ Arquivo Público do DF

A obra foi criada pelo escultor francês Auge Falchi, em 1963, inspirado, na época, por informações veiculadas pelos noticiários franceses sobre o movimento de migração dos brasileiros de todas as regiões do país a fim de construírem a nova capital federal.

Em 1967, a escultura foi doada pelo governo da França ao governo brasileiro, em homenagem à construção da nova capital. Vinda de Nice, ao sul do país europeu, a obra foi embalada em sete blocos de aço cortados e transportados para Brasília.

O monumento foi inaugurado no mesmo ano, em 23 de novembro, durante uma cerimônia que contou com autoridades brasileiras e francesas ao som da banda de música do Colégio La Salle.

A interpretação do real significado do monumento divide os moradores de Santa Maria | Foto: Lúcio Bernardo Jr./ Agência Brasília

Segundo as negociações iniciais, a obra deveria ficar em frente à Torre de TV, que também estava prestes a ser inaugurada. No entanto, Lucio Costa, arquiteto responsável pelo traçado de Brasília e da Torre, achou o monumento muito estranho e sugeriu que fosse colocado em algum ponto mais distante.

Educadamente, ele disse aos franceses que a estátua ficaria melhor na entrada da cidade, para que pudesse ser admirada pelos que chegassem à capital de carro. Atrás do monumento fica um acesso para o Córrego Saia Velha.

Monumento movimentado

Um dos sonhos do comerciante Warlei Alves é ver a estátua restaurada

Há 25 anos o dono da Lanchonete Fazendinha acompanha o ponto turístico na região de Santa Maria. Warlei Alves Camargo conta que o local sempre teve movimento, todos os finais de semana.

“Vinham famílias comer um pastelzinho aqui com a gente, tirar foto, mostrar para as crianças, contar a história. Existia uma placa que a gente fez ali no memorial, mas vândalos levaram. A gente usava nossa iluminação para destacar o monumento, mas também levaram os refletores”, lamenta o comerciante.

Warlei conta que tem o sonho de ver a estátua restaurada, cercada por um jardim bonito e uma fonte de água iluminada na temporada de setembro, como é feito no Plano Piloto.

“Tentamos zelar um pouquinho da história do monumento Solarius. Se você olhar, dá para notar as ferramentas do Candango desbravando Brasília. De um lado, Brasília, a capital da esperança; do outro lado, JK. É uma homenagem. Muita gente não sabe disso, acham que é só um presente, uma estrutura, mas tem significado. Tem que restaurar, porque vai acabar caindo. A gente está com medo disso. É uma estrutura de ferro”, ressalta.

[Olho texto=”“É um símbolo de Santa Maria. Por ser uma obra de arte, não pode ser qualquer pessoa, é uma figura especial, tratada com profissionais da arte como obra de arte”” assinatura=”Josiel França, administrador regional de Santa Maria” esquerda_direita_centro=”direita”]

Em 1987, o monumento passou pela única restauração, quando teve a cor avermelhada trocada pelo azul. Segundo o administrador de Santa Maria, Josiel França, a administração local já solicitou algumas vezes a restauração e pintura.

Porém, pela complexidade de materiais, a obra só pode ser restaurada por técnicos especialistas. “É um símbolo de Santa Maria. Por ser uma obra de arte, não pode ser qualquer pessoa, é uma figura especial, tratada com profissionais da arte como obra de arte”, explica França.

Interpretações

O radialista Eurides José de Jesus se diverte dando versões para a obra de arte

Alguns dos moradores mais antigos da cidade ainda tentam interpretá-la, chegando às mais diversas conclusões. O radialista Eurides José de Jesus, conhecido como Brutão, chegou a Santa Maria em 22 de fevereiro de 1990, no primeiro ônibus que trazia os assentados para a região. Hoje com 61 anos, Eurides diz que o monumento já estava ali em sua chegada, sendo mais antigo que a própria cidade.

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“Esse monumento é muito bacana; muito inspirado, o artista francês que mandou pra nós de presente. Isso aqui é uma referência em Santa Maria. Quem fala dele, leva pro lado da brincadeira. O pessoal passa e fala: ‘mas o que é isso?’ Eu mesmo, até hoje fico olhando pra ele assim, tentando identificar. Parece que tem um camarada aqui pedindo uma noiva em casamento; parece também um Ovni… E dali para lá parece uma garça comendo alguma coisa no chão, indo para o Saia Velha, que é caminho…”, diverte-se Eurides.

09/11/2023 - #TBT: Monumento Solarius, um chifrudo à beira da estrada