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23/11/2023 às 08:32, atualizado em 23/11/2023 às 09:23
Agência Brasília resgata a história do bairro que surgiu para abrigar trabalhadores das obras de construção da capital federal
A poucos quilômetros do imponente Palácio da Alvorada, testemunha dos primeiros traços de Brasília, está a Vila Planalto, bairro que surgiu para abrigar os trabalhadores que ajudaram a erguer as primeiras construções da capital federal.
Nesta quinta-feira, a Vila Planalto é o tema da série #TBTdoDF. A série especial da Agência Brasília aproveita a sigla em inglês – TBT – para throwback thursday (em tradução livre, quinta-feira de retrocesso) para mostrar fatos que marcaram o Distrito Federal.
Um dos berços da capital federal, a Vila Planalto surgiu em 1957 como reduto dos pioneiros que vieram para o quadradinho e ajudaram a tirar o sonho do presidente Juscelino Kubitschek do papel. Foram necessários 320 hectares para abrigar 22 acampamentos temporários, que acomodavam engenheiros, operários e suas famílias.
O local para instalação dos acampamentos não foi escolhido ao acaso. O engenheiro Pery da Rocha França optou pela área, uma vez que o planejamento de Brasília não previa, inicialmente, a construção de edificações na região.
[Olho texto=”“É uma região vizinha ao Palácio da Alvorada e ao Brasília Palace Hotel, duas obras que esses trabalhadores estavam escalados para construir”” assinatura=”Leilane Rebouças, autora do livro ‘Vizinhos do poder: história e memória da Vila Planalto’” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
“O outro fator para a escolha do endereço foi estratégico. É uma região vizinha ao Palácio da Alvorada e ao Brasília Palace Hotel, duas obras que esses trabalhadores estavam escalados para construir”, acrescenta Leiliane Rebouças, 48 anos, moradora da Vila e autora do livro Vizinhos do poder: história e memória da Vila Planalto. A escritora é filha de um pioneiro de Brasília, que chegou à capital federal em um “pau de arara” vindo do Ceará e trabalhou na construção do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional, do Teatro Nacional e da Torre de TV.
[Olho texto=” “A Vila Planalto tem uma história única, mas que também se confunde com a história do Distrito Federal. Preservá-la é preservar a memória das pessoas que construíram a nossa cidade”” assinatura=” Felipe Ramos, subsecretário do Patrimônio Cultural” esquerda_direita_centro=”direita”]
Em seu livro, ela lembra uma curiosidade sobre a origem do nome do bairro. “Parte desses trabalhadores representava a empresa norte-americana Raymond Concrete Pile Company of the Americas, contratada para atuar também na construção da Barragem do Paranoá e na montagem das estruturas metálicas dos ministérios. No Brasil, essa empresa era representada pela Companhia Planalto, daí o nome”, narra.
Memória
Em função do viés temporário dos acampamentos, todas as casas que acomodaram os trabalhadores foram construídas em madeira. O objetivo era permitir a rápida demolição das estruturas após a inauguração de Brasília. Hoje, as residências originais se resumem a um pequeno acervo de cinco casas, conhecido como Conjunto Fazendinha.
Esse grupamento residencial é um dos patrimônios materiais da capital. Em 2021, após décadas de abandono de gestões anteriores, o governador Ibaneis Rocha assumiu o acervo como um equipamento a ser administrado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). A medida foi acompanhada de aporte de investimentos superiores a R$ 470 mil, revertidos em ações emergenciais para restaurações estruturais das casas.
Para o subsecretário do Patrimônio Cultural, Felipe Ramos, essa é apenas uma das ações públicas executadas na Vila Planalto que ajudam a manter viva a memória candanga. “A Vila Planalto tem uma história única, mas que também se confunde com a história do Distrito Federal. Preservá-la é preservar a memória das pessoas que construíram a nossa cidade, deixando também um legado rico de cultura para as demais gerações”, destaca.
Resistência
Personagem importante na luta pela fixação da Vila Planalto, Leiliane conta que a drástica redução no número de casas originais se deve ao desenvolvimento do bairro e às inúmeras tentativas de remoção dos moradores da área. As investidas tiveram início após a inauguração de Brasília, ainda em 1960, e perduraram até 1988, quando o bairro foi tombado patrimônio histórico do DF. “Quem ficou na Vila Planalto foi porque resistiu e lutou por isso”, enfatiza.
Uma das moradoras que conquistaram o direito a permanecer no bairro foi a pioneira Mea Silva Araújo. Aos 88 anos, a idosa lembra com orgulho dos quase 62 anos em que vive na região. “Antigamente, isso aqui parecia um fazendão; todo mundo se conhecia, as crianças brincavam juntas o dia inteiro. Às vezes, bate uma saudade daquele tempo!”, narra.
[Olho texto=”Recentemente, a quadra poliesportiva localizada no centro do bairro foi recuperada e ganhou piso de concreto, pintura e instalação de grades de proteção” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]
Moradora de longa data da Vila Planalto, Mea, uma das primeiras mulheres servidoras da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), comemora o crescimento do bairro. “A Vila cresceu muito e está muito bem-cuidada”, avalia.
O cuidado citado por Mea faz parte do esforço constante do Governo do Distrito Federal (GDF) para preservar esse verdadeiro berço da capital. Recentemente, a quadra poliesportiva localizada no centro do bairro foi recuperada e ganhou piso de concreto, pintura e instalação de grades de proteção. “Além disso, inauguramos uma quadra de areia e um campo sintético. Estamos sempre atentos às reivindicações dos moradores, e esperamos inaugurar mais equipamentos públicos no local”, acrescenta o administrador regional do Plano Piloto, Valdemar Medeiros.