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28/12/2023 às 08:16, atualizado em 28/12/2023 às 09:02
Único ser vivo do mundo tombado como patrimônio público e cultural, a árvore também já sobreviveu a golpes de machado
Quem passa pela Praça do Buriti e aprecia seus canteiros bem cuidados, espelhos d’água e suas vistosas fontes, também repara em uma espécie diferente de palmeira, bem no centro. É o Buriti trazido do interior de Goiás, transplantado na construção de Brasília há quase 60 anos.
A Árvore do Buriti foi escolhida como símbolo da capital e está tombada pelo Patrimônio Público e Cultural, pelo Decreto nº 8.623, de 30/05/1985. Desde então, recebe os devidos cuidados da Novacap para manter-se de pé.
Nesta quinta-feira (28), a Agência Brasília conta a história da árvore e mergulha no passado da simbólica Praça do Buriti, em mais uma matéria da série especial #TBTdoDF, que aproveita a sigla em inglês de Throwback Thursday para reviver fatos marcantes para o Quadradinho.
Um Buriti perdido
Na placa ao lado da árvore que deu nome à praça do Buriti estão gravados os seguintes versos:
“Se algum dia a civilização ganhar essa paragem longínqua, talvez uma grande cidade se levante na campina extensa que te serve de soco, velho Buriti Perdido…
Então, talvez, uma alma amante das lendas primevas, uma alma que tenhas movido ao amor e à poesia, não permitindo a sua destruição, fará com que figures em larga praça, como um monumento às gerações extintas, uma página sempre aberta de um poema que não foi escrito, mas que referve na mente de cada um dos filhos desta terra.”
Esse foi o poema de Afonso Arinos que inspirou o engenheiro Israel Pinheiro durante a construção de Brasília. Em 1959, a palmeira do buriti foi escolhida como símbolo da cidade e o engenheiro determinou que fosse plantada uma muda da árvore na frente da futura sede do Governo do Distrito Federal.
Mas essa muda morreu. A segunda tentativa, feita em 1969, vingou. No ano seguinte foi inaugurada a Praça do Buriti no local. O Chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Raimundo Oliveira, vai pessoalmente todos os meses para checar a saúde da árvore. “É o único ser vivo tombado no mundo. A Novacap tem um carinho e um cuidado especial com esse buriti”, afirma.
Golpes de machado
A palmeira símbolo da praça fica amarrada por quatro cabos de aço presos em uma espia, com uma anilha no tronco. E há um motivo inusitado para isso: a árvore do Buriti já sofreu um atentado.
Em 1991, um homem golpeou o buriti com um machado, cortando dois terços de seu caule. Cerca de 30% do tronco foi prejudicado, fazendo a planta vacilar. Segundo Raimundo, o golpeador apresentava transtorno mental.
José Renato Riella era secretário do Trabalho na época e contou à imprensa detalhes sobre o caso. Leia, a seguir, o relato narrado pelo ex-secretário.
“Em 1991, numa tarde calma, estava conversando com o secretário-adjunto Paulo Roberto Jucá, no quarto andar do Palácio do Buriti, de onde a gente via a praça de mesmo nome. De repente, assustado, Jucá gritou: ‘Tem um homem com um machado destruindo o buriti!’.
Jucá é enorme. Com quase 1,90m, desceu correndo as escadas do Palácio. Da minha parte, liguei para a segurança do Palácio, alertando. Jucá e os seguranças chegaram a tempo de conter, com dificuldade, o alucinado que tentava sacrificar a árvore. O buriti estava seriamente atingido, quase se partindo ao meio”.
Segundo o relato, foi chamado, com urgência, o diretor do Departamento de Parques e Jardins da Novacap à época, Ozanan Coelho (já falecido). Riella conta que ele chegou assustado, colocou estacas de contenção e cobriu o buraco no tronco com uma resina grossa. Depois passou uma espécie de “esparadrapo de buriti”, que ficou muito tempo por lá, cicatrizando a árvore.
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Ozanan não desistia de salvar o buritizeiro. Até que, um dia, um homem apresentou-se como dono do circo que estava instalado ali perto e perguntou se poderia ajudar. Usando as mesmas técnicas de erguer as lonas do circo, os jardineiros perceberam que era possível aumentar as chances de sobrevivência da árvore. Atualmente recuperada, a árvore se sustenta sozinha há 32 anos.
O atual chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap explica que foi elaborada uma cinta para a árvore, preenchendo a parte afetada com uma massa de argila e adubo orgânico e químico. A cada dois anos uma manutenção é feita no curativo e essa massa é trocada.
De acordo com os relatos feitos à imprensa, Ozanan Coelho lembrou do homem que fez o atentado e quis saber o que lhe passava pela cabeça. Resolveu visitá-lo na prisão e, frente a frente com o algoz da árvore, questionou: “Por que tanta raiva com uma árvore?” Ao que lhe respondeu de volta: “Olhe, doutor, quantas vezes me soltarem, tantas eu vou voltar lá, até completar o serviço”. Mas, até os dias atuais, nunca houve outra tentativa de destruir a palmeira.
Buriti ferido, praça imponente
A Praça do Buriti tem uma área de mais de 47 mil m² que ilumina a cidade. Para contemplar a paisagem ou descansar, a praça conta com 12 bancos de concreto, mais de 100 mangueiras e 14 mil m² de área para jardins. Seis ipês foram plantados na área e os espelhos-d’água têm capacidade para 2 milhões de litros.
“A Praça do Buriti é um equipamento turístico que está localizado no centro dos três poderes do DF. Nesta gestão, a praça passou por uma reforma que trouxe movimento e segurança para o espaço, com a fonte e os chafarizes ativos, além de aperfeiçoamentos no paisagismo. É, sem dúvida, um importante atrativo que deixa a cidade mais bonita e convidativa para os moradores e visitantes”, ressaltou o secretário de Turismo, Cristiano Araújo.
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Para os brasilienses também é um ponto de encontro para reivindicar direitos e reunir diversos grupos sociais. O servidor público Álvaro Ribeiro Oliveira Filho afirma que a praça lhe traz boas lembranças, desde que tomou posse do concurso que trabalha atualmente.
“Eu acho uma praça bem imponente. O arquitetônico dela é bem prazeroso, bem limpo. E nessa praça a gente sempre se reúne para poder reivindicar direitos e fazer reuniões com os colegas de carreira. E não só a nossa, como outras carreiras também. É uma praça que está reunindo a maioria dos poderes do Governo do Distrito Federal e é bem marcante por essa questão de luta, de busca por espaço”, observa.