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08/03/2024 às 09:18, atualizado em 08/03/2024 às 11:57
Conheça a história da professora Jaqueline Godoy, mulher mais jovem a comandar a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), e a da massagista Hélia Santos, que superou as desigualdades para colocar os dois filhos na universidade
Perseverança e coragem são palavras que regem a rotina de milhares de mulheres do Brasil e do mundo. Para conquistar os próprios sonhos e lutar contra estigmas e preconceitos, elas enfrentam diariamente a exigência de muita força e resiliência. Oficializado pela Organização das Nações Unidas na década de 1970, o Dia Internacional da Mulher é celebrado nesta sexta-feira (8) e representa a caminhada histórica pela equiparação dos direitos entre homens e mulheres.
A ocupação feminina no mercado de trabalho no DF aumentou 2,1% entre 2022 e 2023
Mesmo que a passos muitas vezes lentos, elas vão conquistando espaços na sociedade. A ocupação feminina no mercado de trabalho no DF aumentou 2,1% entre 2022 e 2023. O setor que mais contratou foi o de serviços, com destaque para os ramos de administração pública, seguido por alojamento e alimentação, informação e comunicação, atividades profissionais científicas e técnicas, e serviços domésticos. Os dados são do boletim Mulheres e Trabalho Remunerado no Distrito Federal, produzido pelo Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Duas dessas histórias de conquistas são da professora Jaqueline Godoy e da massagista Hélia Santos, mulheres que, em cenários completamente distintos, superaram desafios e obstáculos para alcançar o que sempre quiseram.
A professora do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UnB) Jaqueline Godoy Mesquita, 38 anos, está à frente da presidência da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) desde agosto de 2023. Ela é a pessoa mais nova a ocupar o posto e a terceira mulher – o mandato da última foi encerrado há 18 anos.
“São muitos os desafios de estar à frente da Sociedade”, revela Jaqueline. “Sinto bastante machismo nessa posição. Percebi em vários ambientes que, para algumas pessoas, é mais difícil aceitar uma autoridade vinda de uma mulher. Por outro lado, é muito importante ter uma mulher em cargos como esse por questões de representatividade. Depois que assumi, muitas mulheres disseram que estavam felizes com isso e perceberam que podem chegar no mesmo espaço que eu.”
A falta de representatividade na área é percebida pela docente desde os tempos de estudante, quando ela era uma das sete alunas em uma turma de 35 estudantes. À medida que foi avançando na academia, a presença feminina – enquanto alunas ou professoras – foi caindo. Esse é um dos motivos que fazem com que Jaqueline seja engajada na representatividade feminina: “Ser mulher é ser resistência. Hoje em dia temos uma comunidade muito machista, então, temos que resistir todos os dias para dizer que estou aqui e vocês vão ter que conviver comigo”.
Nascida em Roraima, Jaqueline se considera brasiliense de coração, já que mora na capital federal desde a infância. Em 2023, foi ganhadora pelas Américas do Sul e Central e Região do Caribe do prêmio Science, She Says! Award, concedido pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália. Para ela, a premiação significa o reconhecimento do setor científico do impacto da pesquisa brasileira e, sobretudo, daquela feita por mulheres.
A marca da gestão dela na SBM é promover a diversidade com o objetivo de trazer diferentes olhares para a matemática, levando o conhecimento para a realidade das pessoas. Uma das ações é a construção de um código de ética e conduta. “Queremos que a comunidade se preocupe com a diversidade, ampliando a presença de mulheres nesses espaços e de pessoas das regiões Norte e Nordeste, locais que acabam sendo sub-representados”, pontua.
Vivências
“Ser mulher, para mim, é isso. É ser forte, é conseguir se reinventar e não desistir, ainda mais quando se é mãe”
Hélia Santos, massagista
Entre as mulheres que estão longe dos holofotes, mas lutam para ser protagonistas da própria história, está Hélia Maria Santos, 66 anos. A massagista é natural de Aracaju (SE) e veio para o DF ainda criança para trabalhar na casa de uma família na Asa Norte. Sem acesso a escola, nem a salário, ela passou por dificuldades e impedimentos, perdendo o direito de viver livremente na adolescência.
Aos 20 anos, conseguiu sair da casa da família que a trouxe para Brasília e foi morar com amigas. Por não ter completado os estudos, Hélia não encontrou outra possibilidade de emprego que não o doméstico – dessa vez, porém, remunerado. A profissão não era a dos sonhos da sergipana; pesava o fato de já ser mãe, e ela decidiu iniciar a capacitação como massagista.
O novo ofício abriu os caminhos do empreendedorismo e da independência para Hélia, permitindo que ela desse um novo rumo para o destino da família. “Consegui criar meus filhos sozinha e dar estudo para eles. O mais velho tem 30 anos e se formou em ciências da contabilidade; já a mais nova está com 26 e estuda biomedicina”, conta.
Para ela, a palavra mulher é sinônimo de força e resiliência: “Ser mulher, para mim, é isso. É ser forte, é conseguir se reinventar e não desistir, ainda mais quando se é mãe. É correr atrás de sonhos e levantar todos os dias com um sorriso no rosto apesar de tudo”, .
O sentimento ao ver o diploma do filho e a dedicação da filha em estudar é de felicidade. “Não tenho palavras para descrever, fico muito feliz mesmo. Depois de tanta dificuldade, conseguimos. Ainda não estou totalmente realizada, porque a minha mais nova ainda está cursando, mas está próximo de chegar a nossa vitória também”, diz.
Atualmente, ela tem o próprio espaço de atendimento na Asa Norte e muita vontade de viver. “Hoje me sinto bem e espero que continue assim para ver meus filhos triunfando, acompanhar o crescimento dos meus netos”, conta. “Quero ter uma velhice boa. Faço academia e me cuido espiritualmente, acho importante. E me sinto uma mulher jovem, como se tivesse 50 e poucos anos. Tenho muita garra e muita força, não pretendo parar tão cedo. Quero terminar o ensino fundamental e fazer o curso de fisioterapia.”