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14/03/2024 às 15:15, atualizado em 14/03/2024 às 15:46
Praça do Relógio carrega uma série de lutas e conquistas para a população da cidade
Para além do espaço físico que interliga e conecta quadras de Taguatinga, onde milhares de pessoas circulam de ônibus e metrô, a Praça do Relógio é um ponto de encontro especial da região administrativa. Patrimônio cultural e artístico do Distrito Federal, ela foi, por muitos anos, palco de diversas manifestações culturais, artísticas e de lazer.
A história do espaço é contada pela Agência Brasília, em mais uma matéria da série especial #TBTdoDF, que aproveita a sigla em inglês de throwback thursday (em tradução livre, “quinta-feira de retrocesso”) para reviver o passado brasiliense.
Quem passa pelo Centro de Taguatinga já está acostumado com o monumento de aproximadamente 15 metros de altura que dá nome à praça. O relógio que está posicionado no coração da cidade é uma doação da fabricante Citizen Watch.
Ponto de interação
“Há espaços na Praça do Relógio que não estavam totalmente previstos no projeto inicial da cidade; isso mostra uma apropriação pela população local”
Maria Fernanda Derntl, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB
Tudo aconteceu depois de uma visita a Brasília do então presidente da empresa, Eiichi Yamada, em 1970. A boa experiência na capital federal o inspirou a presentear o DF com uma criação especial, exclusiva. Após meses de preparação, o relógio com quatro lados, dentro de uma estrutura de concreto quadrada e sustentado por uma torre de mais de 10 metros de altura, estava pronto para ser doado à cidade.
A única região administrativa que estava apta a receber o monumento era Taguatinga. A Praça Central de Taguatinga, criada em meados de 1960, foi o local ideal para instalar o relógio da Citizen Watch. Em dezembro de 1970, batizado com novo nome de Praça do Relógio, o ponto se tornou um dos principais marcos de referência da cidade devido à localização central e à configuração arquitetônica.
De acordo com a professora Maria Fernanda Derntl, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), o local foi palco de importantes manifestações sociais por parte dos moradores de Taguatinga. “Há espaços na Praça do Relógio que não estavam totalmente previstos no projeto inicial da cidade; isso mostra uma apropriação pela população local”, afirma.
Espaço público
“A praça tem um papel importante tanto na sua função local, de uso cotidiano no espaço, com metrô, administração regional e pontos de ônibus, quanto por ser um espaço que articula Taguatinga com todo o Distrito Federal”, defende a professora.
Apesar do incontestável valor para a comunidade local, a praça teve que resistir ao tempo e às diversas propostas de demolição ao longo da história. Na contramão dos que queriam o fim do espaço, moradores da cidade se reuniram e, com um abaixo-assinado, em 1985, solicitaram o tombamento do relógio. O pedido foi atendido pelo Governo do Distrito Federal, e tanto o relógio quanto a praça seguem como patrimônios culturais e artísticos do DF.
“A população de Taguatinga estava em um momento em que desejava expressar sua presença nesse contexto do DF”, relata a professora. “A cidade já vinha emergindo como um polo importante no setor do comércio e serviços. Eles conseguiram eleger um marco na paisagem. O relógio é mais um ponto marcante de um espaço público que deseja valorizar a população que frequentava o espaço e exigia atenção do governo.”
Movimento
Com o passar dos anos, o local foi ganhando ainda mais destaque. É lá onde ficam a Estação Praça do Relógio e a sede da administração regional, além de pontos de lazer e cultura. Atualmente, o espaço também é o local de trabalho para mais de 70 mulheres artesãs.
Durante três dias na semana de cada mês, profissionais do artesanato montam barraquinhas para vender a produção mensal em um dos pontos mais movimentados da região administrativa. A Praça do Relógio se transforma para receber o Grupo Arte e Artesanato de Taguatinga.
A coordenadora do grupo, Terezinha de Jesus Pereira Vitor, 82, ressalta que a praça é o local de trabalho para muitas mulheres em busca de melhores condições de vida. “Para mim, a Praça do Relógio representa o pão de cada dia de nós que trabalhamos aqui. Se não fosse a praça e as nossas feiras de artesanato, estávamos todas em casa sem ter o que fazer.”
Comércio
As feirinhas de artesanato no local começaram em março de 2011 e reúnem cerca de 30 a 40 artesãs que expõem aproximadamente mil produtos de fabricação própria, como crochês, tricôs, roupas e bolsas. Hoje, elas comemoraram as conquistas no espaço onde trabalham, como é o caso da obra de revitalização recentemente anunciada.
“Antes, a chuva levava as nossas tendas e mercadorias. Quando falaram que haveria reforma aqui na praça foi a melhor notícia do mundo porque ela vai ficar um espetáculo. Vai ficar muito linda, além de dar uma oportunidade de a gente trabalhar mais e dar mais conforto às pessoas que transitam. Essa é uma das grandes conquistas nossas”, comemora Terezinha.
Segurança
Uma das principais queixas de quem passava horas na Praça do Relógio trabalhando, a insegurança já não será mais um problema. O GDF já começou com as obras no local. Inicialmente, estão sendo investidos R$ 170 mil de um total de R$ 5,5 milhões para a execução do projeto de reabilitação dos espaços urbanos no local, como bancos e mesas.
“O meu mundo é isso aqui, a minha vida é a Praça do Relógio”, diz Terezinha. “Todos os dias, as artesãs me perguntam se já tem prazo para concluir a obra, porque estamos todas empolgadas para poder reinaugurar nossas feiras de artesanatos no local novo.”
O projeto de recuperação da Praça do Relógio foi elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh-DF). Entre as melhorias previstas para o ponto histórico mais famoso de Taguatinga estão acessibilidade, mais iluminação, paisagismo e instalação de bancos e lixeiras, além de conexão com o projeto do boulevard acima do Túnel Rei Pelé.