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18/04/2024 às 17:32, atualizado em 19/04/2024 às 08:39
Explorando os cenários únicos da capital, atletas se destacam em diversas modalidades ー do goalball à canoagem havaiana ー impulsionados pelo apoio do GDF e pela paixão pelo esporte
No coração do Brasil, onde a política se entrelaça com o concreto de uma cidade planejada, está uma Brasília que desafia a inércia e celebra a vitalidade. Uma das unidades da Federação em que mais se pratica atividade física, o Distrito Federal se posiciona como referência nacional na promoção de hábitos saudáveis em meio a um país com quase metade da população vivendo no sedentarismo.
Com uma diversidade de modalidades, Brasília oferece também uma gama de cenários propícios para a prática esportiva. Do Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o maior parque urbano do mundo, ao Lago Paranoá, um dos maiores lagos artificiais construídos do mundo, a paisagem da cidade planejada e ricamente arborizada inspira atletas de todas as idades.
“Brasília tem uma geografia que propicia muitas opções de lazer e esporte. As pessoas que imaginam ter que sair de Brasília para ter esse tipo de atividade e interação com a natureza estão enganadas”, defende o professor de educação física Lico Gall, 50 anos, que também é atleta de canoagem havaiana.
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Pioneiro da modalidade no DF, Lico comemora a oportunidade de desfrutar, diariamente, do nascer do sol refletido nas águas do Lago Paranoá. “Aproveitar a beleza de um cartão-postal como esse é muito gratificante”, enfatiza. “Triste aquele que não conhece efetivamente o Lago Paranoá e seus encantamentos”, prossegue.
Conhecido nacionalmente pela prática esportiva, o professor de educação física usa o espelho d’água da capital federal para disseminar a atividade entre os brasilienses. Atualmente, ele leciona canoagem para 23 alunos de diferentes idades. “A modalidade cresceu demais. Em 2016, quando realizei um evento, colocamos seis canoas na água. Hoje, se fizermos um encontro de atletas, teremos mais de 50 canoas no lago”, detalha Lico.
Uma das alunas é a bancária Lilian Balejo Ruiz, 45 anos, que viu no esporte uma forma de viver em sintonia com a natureza. “Sempre gostei muito de esporte e natureza e a canoagem foi capaz de unir os dois. Ela me propicia momentos de atividade física e contemplação, são doses diárias de felicidade. Aqui, no lago, a gente encontra vários cantinhos que nem parecem ser de Brasília”, afirma.
Foram justamente as características únicas do lago que motivaram o Governo do Distrito Federal (GDF) a trazer para o Quadradinho, em 2023, a edição anual do Campeonato Brasileiro de Va’a Velocidade. Na ocasião, Brasília reuniu os 736 melhores atletas de canoa havaiana do país, representando sete estados brasileiros, em busca de títulos nacionais e classificação para vagas do mundial da modalidade, que será realizado este ano no Havaí.
Ainda no ano passado, o Lago Paranoá também foi palco do Campeonato Brasileiro de Remo Master. Este ano, atletas da paracanoagem invadiram o espelho d’água para brigar por uma vaga na seletiva para a Copa do Mundo da modalidade.
Além de oferecer espaços públicos para desenvolvimento da atividade, o GDF ajudou 82 atletas de paracanoagem e canoagem a viajar para competições nacionais e internacionais por meio do programa Compete Brasília, da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL). A iniciativa concede transporte aéreo e terrestre para que atletas de alto rendimento possam disputar os torneios fora da capital.
Celeiro de atletas
Paixão nacional, o futebol também encontra espaço no coração dos moradores do Quadradinho. Nas quadras poliesportivas recuperadas pelo RenovaDF ou nos campos sintéticos inaugurados pelo GDF, por exemplo, o esporte é levado a sério na capital federal, formadora de atletas pentacampeões do mundo, como o ex-zagueiro Lúcio e o ex-meio-campista Kaká. A mais nova promessa brasileira da modalidade, o atacante Endrick, também é nascido em Brasília, mais especificamente em Taguatinga.
Outro nome de peso revelado pelo futebol brasiliense é o de Emerson Silva, zagueiro formado nas divisões de base do Gama e que, no ano passado, assumiu o desafio de contribuir com a formação de uma nova leva de jogadores. Atual coordenador da escolinha de futebol do clube, o defensor, que saiu do Alviverde e chegou à Seleção Brasileira, conta que Brasília tem o esporte no DNA e é um “celeiro de atletas”.
“Brasília tem um potencial muito grande para o esporte, inclusive para atletas de futebol. Eu saí desse campo aqui, da estrutura do Gama, e consegui chegar à Seleção Brasileira. Aqui tem um potencial muito grande. Eu assumi a escolinha porque vejo o potencial”, avalia o jogador.
Assim como Endrick, Emerson também é cria de Taguatinga. Ao longo da carreira, o defensor acumulou passagens por grandes clubes nacionais, como Flamengo, Atlético-MG, Botafogo e Coritiba. Ele também integrou a seleção de Mano Menezes, campeã do Superclássico das Américas, em 2011, ao lado de nomes como Ronaldinho Gaúcho, Fred, Neymar e Diego Souza.
“O esporte para mim foi muito importante, desde pequeno eu gostava de futebol. Foi o que me distanciou das coisas ruins, do que o mundo prega para os jovens. O futebol me fez uma pessoa melhor”, destaca o atleta.
Como referência na área, ele pretende inspirar futuros campeões. “O futebol tem uma força enorme, principalmente nas crianças. O esporte, em geral, tem colocado objetivo na vida delas, esperança, e isso é muito importante”, ressaltou o capitão do Gama durante o bicampeonato no DF. A base para grandes jogadores é, além do sonho, a dedicação e o acesso democrático à prática esportiva.
Assim como a escolinha do Gama, outras iniciativas voltadas para o futebol acolhem pequenos jogadores em todas as regiões do DF. Elas também têm recebido apoio do GDF, que já inaugurou 70 campos de grama sintética desde 2019 e trabalha para entregar outros 22 espaços para a população. “O apoio do governo é importantíssimo na vida das crianças. Esses projetos conseguem captar e fortalecer nossos atletas”, frisa Emerson.
Crianças como o jovem Pietro Divino, de 13 anos. Cria do alviverde, ele sonha em jogar pelo time do coração. Segundo ele, sua paixão pelo futebol, herdada do pai, só cresceu desde que entrou na escolinha do Gama, em fevereiro. “Foi aqui que eu nasci, e quero virar atleta do Gama. Não conhecia o Emerson antes, mas conhecia a história dele. Treinar aqui me faz sentir que estou chegando mais perto dos meus objetivos”, conta o adolescente.
Paixão que rende medalhas
A 41 km do Bezerrão, casa do Gama recém-reformada pelo GDF, está localizado outro celeiro de atletas brasilienses. É no Centro Olímpico e Paralímpico (COP) de São Sebastião que estão os paratletas mais promissores de goalball , modalidade paralímpica desenvolvida para atletas com deficiência visual em que os jogadores devem confiar em sua audição e tato para localizar a bola em movimento e reagir rapidamente.
Disputado por equipes de três jogadores em cada lado, o goalball é jogado em uma quadra com dimensões específicas e com uma bola que emite sons para orientar os jogadores. O objetivo do jogo é arremessar a bola em direção ao gol adversário, enquanto os jogadores se posicionam para bloquear os arremessos e defender seu próprio gol.
Ouro no Parapan de Santiago em 2023, a seleção brasileira de goalball tem dois atletas brasilienses no elenco: André Claudio Botelho Dantas e Leomon Moreno. Este último é considerado o melhor atleta da modalidade em nível mundial e foi formado na quadra poliesportiva do COP São Sebastião.
“O DF vem fazendo um grande trabalho na formação de atletas do goalball há muitos anos. Estamos na terceira geração de grandes talentos, com nomes espalhados por equipes nacionais e que ingressam na seleção brasileira. Vários deles, inclusive, já passaram pelo trabalho de base e alto rendimento aqui do COP”, explica o treinador Gabriel Goulart Siqueira, 38.
Um dos promissores atletas da categoria é Ésio Júnior, de 27 anos, sendo 11 dedicados à modalidade. “Conheci o goalball por meio de um deficiente visual praticante. Ele me apresentou a modalidade, vim conhecer e desde então nunca mais saí. Encontrei no esporte uma oportunidade de independência”, relata.
“Acredito que o goalball hoje é o esporte que mais inclui a pessoa com deficiência. Ela se torna independente dentro da quadra, viaja para outras regiões para disputar campeonatos e faz amizades”, continua Júnior, como é conhecido entre os companheiros de time.