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21/04/2024 às 08:39, atualizado em 21/04/2024 às 10:17
Há 33 anos, o espaço de lazer e prática esportiva dos brasilienses reúne pessoas diversas e atrai toda a população do Distrito Federal
É nas manhãs de domingos e feriados, das 6h às 18h, quando os carros são proibidos de trafegar pelo Eixão, que o asfalto ganha vida. Bicicletas, patins, carrinhos de bebê, corredores, animais de estimação, vendedores e muitas pessoas transformam os 14 km da via que corta Brasília de Norte a Sul.
Há 33 anos, a cada domingo, o Eixão se torna um vibrante palco com diversas atividades. Desde cedo, famílias, grupos de amigos, atletas e artistas ocupam as pistas. Entre eles, está a família Medeiros, que tem o hábito de sair do apartamento na Quadra 105 da Asa Norte e circular pelas pistas. “É um respiro na vida cotidiana. Vir para cá, participar das atividades, brincar, correr e, ao mesmo tempo, observar as pessoas caminhando é uma espécie de escape da rotina. Quando descemos dos prédios com as crianças, elas passeiam e brincam. Ainda tem essa diversidade que alimenta e anima”, relata o arquiteto Valério Medeiros.
A esposa, também arquiteta, Juliane Medeiros, conta que a filha mais velha do casal, de 4 anos, é apaixonada pela rua e sempre insiste para a família sair e aproveitar a rua ampla. “O fechamento do Eixão aos domingos permite que percebamos não só a questão patrimonial de Brasília e os monumentos que existem, mas também a vida cotidiana que faz a cidade ter vida, no final das contas”, completa.
Essa aprovação do Eixão foi constatada em pesquisa do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF). O estudo mostra que a rua de lazer tem alto índice de aprovação da população. Tanto na Asa Norte como na Asa Sul, 94% afirmam ter frequentado em algum momento e o mesmo percentual se manifesta de maneira positiva quanto à realização da iniciativa. A pesquisa destacou que mais de 50% dos frequentadores são mulheres e a maioria está na faixa etária dos 35 a 59 anos.
O Eixão do Lazer iniciou oficialmente em 1990 ー posteriormente a Lei Distrital nº 1.607/1997, estabeleceu as regras para o fechamento das pistas do Eixo Rodoviário. O Departamento de Estradas e Rodagem (DER) é o responsável pelo fechamento semanal da via para o tráfego de veículos aos domingos e feriados, das 6h às 18h.
Espaço de esporte e lazer
Além de proporcionar uma pausa revigorante na rotina urbana, o Eixão é um espaço democrático que acolhe a todos. Moradores de outras regiões administrativas procuram a via em busca de um lugar seguro para passear ou para a prática de exercícios ao ar livre, geralmente incentivada com grupos de corrida, aulas de yoga e diversas atividades esportivas organizadas ao longo do percurso.
As amigas Graciele Mendonça, de 37 anos, e Mira Célia Reis, de 31 anos, saem de Sobradinho para se exercitar e, segundo elas, respirar ar fresco. “Viemos caminhar, relaxar, pegar um solzinho. É um espaço bacana, familiar, com muita gente diferente, somos privilegiadas”, diz Mira Célia. Já Graciele destaca tudo o que pode encontrar durante a corrida. “O bom daqui é que tem grupos de exercícios, pessoas pedalando, muitos produtos à venda, música e ar puro. É muito legal, tudo o que você precisa está aqui”, destaca.
O verdadeiro encanto do Eixão vai além das atividades físicas. É um espaço de lazer e um reflexo da diversidade cultural de Brasília. É possível, durante um descanso debaixo da árvore, acompanhar as atrações enquanto os músicos de rua da cidade proporcionam uma trilha sonora eclética.
Concentradas principalmente no lado norte da cidade, as atrações se dividem por quadras. Choro, jazz, samba, reggae e música eletrônica servem de entretenimento durante todo o dia.
O grupo de maracatu Vivendo e Batucando é um dos que alegram os transeuntes logo no início do dia. As aulas de percussão do projeto são realizadas pela manhã e os alunos, munidos de tambores, agbés, ferros e caixas, circulam pela via, ensaiando e animando os presentes.
“Eles trazem esse batuque pra cá de forma pedagógica. Damos uma volta de cerca de 300 metros tocando, para que sintam o sol. As pessoas acompanham, participam, e temos a rua como palco do maracatu. O Eixão é o palco perfeito”, relata o professor de percussão, Teo Monteiro.
Economia
E o que dizer da diversidade gastronômica? Dos vendedores de picolé aos churrasquinhos, das barracas de suco natural aos food trucks gourmet, há uma verdadeira festa de sabores. Ao longo do percurso, barracas surgem oferecendo de tudo, inclusive artesanato local, cangas e roupas coloridas.
Há 19 anos, o vendedor Pedro Rodrigues tem o ponto certo no gramado e, com a venda de água natural, coco, refrigerantes e energéticos, garante o sustento da família.“Morei muito tempo aqui na Asa Norte e precisava complementar a renda, achei um local bom aqui e, desde então, sigo com a minha banca, já tenho clientes fiéis, amizades e a venda me ajuda no sustento da família”, conta.
De acordo com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), a pasta tem acompanhado de perto as iniciativas e as ações culturais no Eixão do Lazer. “Estamos comprometidos em garantir que as iniciativas culturais e econômicas sejam valorizadas e incentivadas. Reconhecemos a importância de um olhar próximo sobre as atividades culturais e econômicas criativas para garantir o sucesso deste projeto”, conclui o secretário Claudio Abrantes.