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18/06/2024 às 19:29, atualizado em 19/06/2024 às 09:19
Sessões do icônico cinema de rua da capital contam com recursos de acessibilidade projetados na tela, sala a meia luz, e som reduzido para pessoas autistas. Espaço será administrado em parceria entre Secretaria de Cultura e Economia Criativa e Box Cultural
É como se um clássico do cinema estivesse ganhando uma sequência emocionante: o icônico Cine Brasília está prestes a relançar a gestão compartilhada ao lado da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) e da organização da sociedade civil (OSC) Box Cultural. Uma cerimônia no Dia do Cinema Brasileiro, comemorado nesta quarta-feira (19), vai marcar o início da nova administração.
Pelos próximos três anos, essa parceria terá como meta otimizar medidas de acessibilidade para pessoas com deficiência. Hoje, o Cine Brasília conta com uma sessão acessível por mês. Nesta gestão, a ideia é ampliar esse número para duas mostras mensais. As sessões contam com recursos de acessibilidade projetados na tela, sala a meia luz, e som reduzido para pessoas autistas.
Segundo o secretário da Cultura e Economia Criativa do DF, Cláudio Abrantes, as ações visam difundir a acessibilidade do local. “O Cine Brasília é um lugar que está muito na vida das pessoas. É uma relação muito próxima porque está ligado à cena cultural da cidade desde o início. Então as pessoas realmente têm relações afetivas com o Cine Brasília. A nossa ideia é, cada vez mais, expandir a acessibilidade e trazer mais mostras e pessoas para cá”, explica.
A diretora do Cine Brasília, Sara Rocha, ressalta que a gestão também pretende cumprir uma meta de realizar pelo menos 864 sessões ainda em 2024, com uma previsão de 72 sessões por mês. “Queremos ampliar as sessões acessíveis e tornar essa mobilização de público de pessoas com deficiência mais frequente, mais inclusiva, porque a gente tem as sessões dedicadas, que são exclusivas para esse público. A gente também tem ao longo da programação regular a meta de ampliar cada vez mais os filmes que possuam recursos de acessibilidade em segunda tela, para tornar a programação regular e continuada do cinema cada vez mais inclusiva para todos os públicos”, afirma.
A pauta de acessibilidade passou a ser realidade na vida de Beatriz Cruz depois que ela adquiriu uma deficiência auditiva. A frequentadora do Cine Brasília conta que, por conta disso, decidiu lutar pela inclusão da população em seu trabalho como produtora de cinema.
“Eu nasci sem deficiência e ao longo do tempo fui ficando surda. Eu não percebia que a questão da acessibilidade em cinemas era uma necessidade. Quando passou a ser a minha realidade, vi que eu e muitas outras pessoas acabavam sendo excluídas, principalmente desse meio cultural, porque é muito regionalizado”, afirma.
Modernização sem ferir o tombamento
A gestão compartilhada do Cine Brasília teve início em agosto de 2022. Com a renovação, que agora terá um prazo maior, a expectativa é que medidas mais robustas de manutenção ocorram com mais fluidez.
As mais de 600 poltronas do local, por exemplo, são um grande desafio. Para os próximos meses, o objetivo é buscar recursos para realizar a troca das cadeiras do Cine Brasília. Um levantamento técnico está sendo feito para que todas as peças sejam preservadas, uma vez que os móveis, assim como o prédio do Cine Brasília como um todo, são tombados.
“A última troca ocorreu há dez anos e, portanto, não acompanhou a atualização tecnológica de poltrona de sala de cinema para acomodar a melhor experiência do público. Esperamos conseguir fazer a troca das poltronas em parceria com a Subsecretaria de Patrimônio Cultural e da Secretaria de Cultura para que todos os aspectos arquitetônicos, tombados, fiquem preservados o máximo possível em benefício do melhor conforto do público”, observa Sara Rocha.
Além da troca das poltronas, de acordo com o secretário da Cultura e Economia Criativa do DF, a experiência deve ficar ainda melhor para o público com a compra, ainda neste ano, de um novo e mais tecnológico projetor.
“A ideia de poder se pensar em uma melhoria de poltrona ou troca de equipamentos se deve também a essa gestão mais estendida. Se fosse um contrato anterior, de um ano prorrogado por seis meses, ficaria inviável um planejamento para as intervenções mais robustas. Queremos fazer do Cine Brasília não só um centro de audiovisual, mas também um centro de cultura”, ressalta Cláudio Abrantes.
Mercado audiovisual
A nova administração também continuará a promover ações de incentivo ao mercado audiovisual de Brasília. A previsão é que sejam realizadas três edições do programa FomentaCine, que reúne profissionais do setor para rodadas de negócios e palestras voltadas para produções do Centro-Oeste.
Além disso, o Cine Brasília também deve promover palestras e oficinas no âmbito do programa Conexão Cultura DF, voltado à promoção, difusão e qualificação nacional e internacional da arte e da cultura da capital.
Para Elias Guerra, produtor de cinema, iniciativas como essas colocam a produção brasiliense em pé de igualdade com o eixo Rio-São Paulo, região tradicionalmente mais privilegiada pelo mercado audiovisual nacional.
De acordo com ele, essa equiparação não apenas fortalece a visibilidade das produções do Centro-Oeste, mas também amplia as oportunidades de networking e colaboração entre profissionais de diferentes partes do Brasil, contribuindo para um ecossistema audiovisual mais diversificado e dinâmico em todo o país.
“Sempre que nós temos que nos deslocar para o eixo Rio-São Paulo, acabamos apagando um pouquinho da nossa voz. Quando tentamos equiparar essa questão, tentando fazer a coisa ficar mais equilibrada, conseguimos dar mais voz ao que nós queremos e sabemos falar”, observa.