07/07/2024 às 09:44, atualizado em 07/07/2024 às 10:06

Escolas de ensino bilíngue do DF apresentam alunos a outros cantos do mundo

Mais de 2,4 mil alunos da rede pública aprendem inglês, espanhol, francês e alemão, por meio do Programa de Educação Bilíngue Intercultural, ampliando as oportunidades e horizontes na vida

Por Catarina Loiola, da Agência Brasília | Edição: Ígor Silveira

O domínio de outros idiomas abre um leque de oportunidades profissionais e de desenvolvimento pessoal. A rede pública de ensino do Distrito Federal oferece ensino bilíngue em quatro unidades educacionais: Centro de Ensino Médio Integrado do Gama (Cemi), com aulas em alemão; Centro Educacional do Lago Norte (CedLan), com o ensino de francês; Centro de Ensino Médio (CEM) de Taguatinga, com o espanhol; e o Centro Educacional do Lago (CEL), com a oferta do inglês. Juntas, as instituições atendem mais de 2,4 mil estudantes.

O Programa de Educação Bilíngue Intercultural (Pebi) é implementado em unidades de ensino integral desde 2019 pela Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral, da Secretaria de Educação (SEE). No entanto, devido à pandemia e à ausência de professores qualificados na rede pública de ensino, os projetos entraram em vigor a partir de 2022. O ensino bilíngue é realizado por meio de memorandos com embaixadas e instituições internacionais interessadas em trabalhar a interculturalidade com os estudantes.

A rede pública de ensino do Distrito Federal oferece ensino bilíngue em quatro unidades educacionais | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

A diretora de Educação em Tempo Integral da SEEDF, Érica Soares Martins Queiroz, destaca que a iniciativa surgiu da vocação internacional da capital federal, que reúne representantes de diversas culturas do mundo. Segundo ela, as parcerias que existem atualmente ainda estão em fase de aprimoramento, com avaliação de quais oficinas e projetos mais têm dado certo entre os alunos, e, dependendo dos resultados, podem ser estendidas a outras escolas no futuro.

“O bilinguismo abre portas para o estudante, tanto para o mercado de trabalho como para a academia. Hoje, um estudante com um segundo idioma que pensa fazer uma graduação, dependendo do curso, pode ter mais facilidade de encontrar uma posição profissional, além de poder alcançar empresas e instituições fora do país”, avalia Queiroz.

O ensino de francês no CedLan é ofertado em parceria com a Embaixada da França. No CEL, a promoção do inglês ocorre junto a Thomas Jefferson. O CEM 3 de Taguatinga conta com apoio da Embaixada da Espanha para promover o espanhol e o CEI do Gama trabalha com o Instituto Goethe para ensinar aos alunos o alemão. As atividades de segunda língua compõem o Itinerário Formativo Integrador e são realizadas por meio de oficinas de música, texto, conversação e imersão cultural, bem como com atividades relacionadas à gramática e pronúncia.

Bruna Cristina da Silva, 18, acompanhou a rotina da embaixadora da Dinamarca, Eva Pedersen | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Novos horizontes

No CEL, o projeto teve início em maio de 2019, mas foi suspenso durante a pandemia de covid-19, sendo retomado em 2022. A unidade recebe estudantes de diversas partes do DF, como Jardins Mangueiral, Itapoã, Paranoá e São Sebastião. Por lá, o inglês está presente em todos os lugares: em projetos junto a embaixadas; na sala de aula, em que professores abordam o conteúdo usando termos do idioma; nas paredes, com sinalizações e cartazes em inglês sobre temas como feudalismo e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis; e entre os estudantes, que se esforçam para praticar a segunda língua no dia a dia.

“É uma combinação de estratégias que varia entre as disciplinas e conforme o conteúdo. Quando é algo novo para o estudante, freamos o bilinguismo para focar no aprendizado do assunto”, explica o diretor do CEL, Vitor Reis. Segundo ele, o aluno é incentivado a dominar o inglês e, assim, estar preparado para galgar sonhos e objetivos. “Não conseguimos garantir que o estudante vai se tornar fluente em três anos de ensino médio. Estamos muito limitados ao inglês que eles chegam até a escola e pelo interesse que tem no idioma, mas em muitos casos conseguimos melhorar o nível ao longo dos anos, principalmente por meio da interculturalidade, em que o estudante tem contato com pessoas e projetos do mundo inteiro, mostrando que ele não está limitado só à realidade dele e ao Brasil.”

A estudante Giovanna Borba, 15 anos, já sabe o caminho que deseja trilhar futuramente: quer se tornar diplomata. O estudo do inglês na escola faz parte do planejamento para alcançar a profissão. “Aqui trabalhamos muito e tanto os professores quanto os alunos se esforçam para praticar”, comenta. “Nós também temos projetos extracurriculares e visitamos embaixadas, o que é ótimo, porque vemos ao vivo o inglês sendo falado.”

A estudante Giovanna Borba, 15 anos, quer se tornar diplomata | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Um dos projetos realizados no CEL é o Girl Takeover, em que três estudantes acompanham um dia de trabalho em uma embaixada nórdica. Em 2023, uma das escolhidas foi a estudante Bruna Cristina da Silva, 18, que acompanhou a rotina da embaixadora da Dinamarca, Eva Pedersen. Na oportunidade, ela também conheceu os representantes da Finlândia e da União Europeia, e pôde debater questões de geopolítica, de gênero e de relações internacionais. “Passei o dia falando em inglês e participando de reuniões importantes, foi muito enriquecedor”, recorda.

Experiência intercultural

O Cemi do Gama iniciou o ensino bilíngue em 2019, em parceria com o Instituto Goethe, mas as aulas regulares da língua só iniciaram neste ano, com a chegada de um professor habilitado em Letras Português-Alemão. Ainda assim, desde a oficialização da parceria, alunos e professores mergulharam na língua germânica, com debates sobre a cultura do país até simulações de situações comuns a um turista, como comprar um café ou solicitar o caminho do banheiro.

A estudante Stephany Santana, 17, participa da maioria dos encontros e já domina alguns conhecimentos sobre a língua. “Já sei falar os números, me apresentar e algumas outras coisas. Se eu fosse avaliar o ensino, com certeza a nota seria 10, porque é muito bem desenvolvido aqui na escola”, conta ela, que sonha em ser engenheira espacial e professora universitária.

Rafael Castro, professor de alemão: idioma é trabalhado do zero, compreendendo quatro competências – fala, escuta, leitura e escrita | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

O diretor da escola, Lafaiete Formiga, explica que atualmente as aulas regulares do idioma ocorrem para as turmas do primeiro ano. No ano que vem, serão oferecidas também aos outros dois anos do Ensino Médio. Ele ressalta que o ensino profissionalizante é muito valorizado na Alemanha, o que pode render oportunidades futuras para os alunos. “Somos uma escola técnica de informática, integral e integrada, e o ensino profissionalizante é muito bem visto na Alemanha, que tem os melhores cursos técnicos do mundo. O estudante tem a oportunidade de aprender esse idioma e, quem sabe, tentar uma vaga em um curso ou uma empresa internacional”, destaca.

O responsável por ensinar o beabá alemão aos jovens é o professor Rafael Castro. O idioma é trabalhado do zero, compreendendo quatro competências – fala, escuta, leitura e escrita. “Os alunos começam no nível A1, que é o primeiro do quadro europeu de padronização do ensino de línguas, e a ideia é que, ao final do terceiro ano, aqueles que começaram o aprendizado no primeiro ano tenham chegado, no mínimo, no nível A2, que é o nível de passagem do básico para o intermediário”, pontua.

Um dos craques na língua germânica é o estudante Samuel André Góis, 15. Em entrevista à Agência Brasília, ele mostrou parte do conhecimento adquirido na rede pública. “Guten Morgen, guten Nachmittag und gute Nacht. Mein Name ist Samuel, ich bin 15 Jahre alt und lerne Deutsch”, se apresenta ele, em alemão. Traduzindo, o brasiliense disse: “Bom dia, boa tarde e boa noite. Meu nome é Samuel, tenho 15 anos e estou aprendendo alemão.”

Samuel revela que o contato inicial com o idioma pode ser confuso para a maioria dos estudantes, devido à complexidade e à diferença em relação ao português. “É uma língua muito diferente, aí a gente acaba perguntando muitas coisas para o professor o tempo todo. E as palavras são feias, então dá um pouco de vergonha”, brinca ele, que também reconhece a importância de ampliar o leque educacional. “É algo que vai nos beneficiar muito no futuro, nos dando base para construir um bom futuro profissional.”

Giovanna, Bruna, Stefany e Samuel estão trilhando um caminho rico em possibilidades a partir do ensino bilíngue, assim como outros 2,4 mil estudantes.

07/07/2024 - Escolas de ensino bilíngue do DF apresentam alunos a outros cantos do mundo