17/07/2024 às 16:43, atualizado em 18/07/2024 às 07:17

Horta do Creas de Ceilândia abre perspectivas para pessoas que buscam deixar as ruas

A instituição dá apoio a quem precisa de acessar direitos que ajudem a recomeçar a vida de forma segura e humanizada

Por Ana Paula Siqueira, da Agência Brasília | Edição: Vinicius Nader

Plantar e colher literalmente os frutos do próprio trabalho. É essa a sensação de quem participa do projeto de horta terapêutica desenvolvido no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de Ceilândia. A proposta é fortalecer os vínculos sociais e comunitários de pessoas em situação de rua, criando autonomia, pertencimento e autoestima para elas.

Para Rômulo Santana Gonçalves, 50 anos, ver as plantas que ele ajudou a cultivar crescendo traz um sentimento de satisfação. “Acaba que não é por causa dos benefícios, mas a gente vai criando gosto”, conta. Ele participa do projeto da Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal (Sedes) há cerca de três meses e tenta ir todas as semanas, além de estar presente nas reuniões mensais.

Rômulo Gonçalves se sente abraçado na horta terapêutica e planeja participar do RenovaDF | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

Rômulo já trabalhou como mecânico e, na época da pandemia de covid-19, a situação foi ficando cada vez mais difícil até que ele se viu em situação de rua. Mas, ele tem tentado se erguer e planeja em breve participar do RenovaDF, maior programa de capacitação profissional do país, realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda do Distrito Federal (Sedet).

“A gente recebe orientação e apoio e estamos sendo bem abraçados pelo pessoal”, afirma Rômulo, que não para de ter ideias para ampliar a horta e propôs o plantio de melancias no local.

Já Edilene Araújo, de 48 anos, mora em Ceilândia e saiu da situação de rua há alguns meses. Na horta, ela aprendeu a plantar e a cuidar das hortaliças e ervas, o que tem a ajudado a superar questões de saúde mental com as quais ela convive há alguns anos.

Edilene Araújo: “Meu mundo passou a ser mais colorido porque aqui é tudo colorido”

“Esse trabalho está sendo muito bom para mim. Estava com depressão muito forte, não recebia nenhum benefício. Agora, estou fazendo a horta e estou amando. Já consegui até diminuir a medicação”, relata.

Com o Benefício Excepcional, que ela passou a receber após orientação no Creas, Edilene conseguiu alugar um lugar para morar e tem alcançado progressos um dia após o outro. “Meu mundo passou a ser mais colorido porque aqui é tudo colorido”, disse.

Responsável pelo projeto, o especialista em desenvolvimento e assistência social, Roberto Lopes Homrich, afirma que o resultado do trabalho é muito gratificante. Cerca de 10 pessoas participam do cultivo todas as quartas-feiras, a partir das 9h. Além de pessoas que buscam deixar a situação de rua, participam do projeto reeducandos da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap).

Roberto Homrich se orgulha do projeto com pessoas em vulnerabilidade: “Só de serem tratados com humanidade, serem ouvidos, já demonstram muita satisfação”

“Eles têm a vida já tão embrutecida nas ruas. Então, é muito gratificante vê-los assim, com mais autonomia e com a autoestima crescendo. A gente faz o encaminhamento para que eles recebam os auxílios a que têm direito, mas vemos que eles também têm interesse (na horta). Só de serem tratados com humanidade, serem ouvidos, já demonstram muita satisfação”, afirma o especialista.

O cultivo é variado – de alecrim e lavanda a frutas, como limão e mamão, passando por cana-de-açúcar e hortaliças. O plantio é realizado com apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF), que cede sementes, mudas e os insumos necessários. A colheita é compartilhada com todos.

“Tudo isso é muito importante porque eles criam vínculos e trabalhamos questões como cidadania e autocuidado. No fundo, o que eles realmente querem é trabalhar”, conclui o especialista.

17/07/2024 - Horta do Creas de Ceilândia abre perspectivas para pessoas que buscam deixar as ruas