18/07/2024 às 11:29

Especialista alerta que alimentação dos pais influencia dieta de filhos

Mesmo que introdução alimentar esteja correta, criança vai querer comer o mesmo que a família

Por Agência Brasília* | Edição: Débora Cronemberger

Crianças têm maior chance de apresentar problemas na alimentação quando os pais não têm dieta saudável, aponta a nutricionista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES), Alana Gouveia. “Por mais que os pais façam uma introdução alimentar correta, a criança vai observar e querer comer o mesmo que a família. Se a família consome batata frita, a criança vai questionar por que precisa comer brócolis”, explica a profissional.

Tainane Martins cuida de perto da alimentação da filha Alice: “Ela come tudo que eu como, procuro tomar cuidado com o que coloco no prato para ela ter bom exemplo” | Foto: Ualisson Noronha/Agência Saúde-DF

A nutricionista aponta ainda que essa influência começa na gestação. “Hoje em dia, sabemos que o que a mãe come durante a gestação já influencia na padronização genética do bebê. O líquido amniótico muda de sabor, fazendo com que a criança desenvolva um paladar tendente a alimentos mais doces ou frituras. Isso pode afetar até a terceira geração”, explica.

Tainane Martins, 28, cuida de perto da alimentação da filha Alice, 6, acompanhada pela equipe de pediatras da Unidade Básica (UBS) 1 da Estrutural. “Ofereço muita fruta e verdura. Ela come tudo que eu como, procuro tomar cuidado com o que coloco no prato para ela ter bom exemplo”, conta a mãe. Ela relata que Alice participa da elaboração dos pratos e escolhe o que vai na salada ou no feijão. “Ela ama cenoura picadinha no feijão, foi invenção dela e até que fica bom”, comenta.

Nutricionista da SES-DF, Alana Gouveia aponta que filhos tendem a imitar o que veem os pais comendo: “Se querem que o filho coma arroz, feijão, brócolis e ovos, devem mostrar isso na prática” | Foto: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF

“Para que os hábitos sejam mantidos, eles precisam ser vistos. Não tem outra forma. Os pais precisam dar um exemplo real dentro de casa. Se querem que o filho coma arroz, feijão, brócolis e ovos, devem mostrar isso na prática”, explica Gouveia. A profissional indica que os pais tenham uma alimentação mais natural e mostrem que doces, refrigerantes e fast food são exceções e não devem fazer parte do dia a dia.

“A refeição fornecida nas escolas melhorou nos últimos anos, mas precisamos trabalhar a conscientização das famílias”

Claudia Nogueira, gerente da UBS 1 do Riacho Fundo

É importante procurar um nutricionista caso haja seletividade alimentar alta. Reapresentar alimentos à criança pode ser necessário para que aprenda a comer de forma saudável. “O ideal é consultar um nutricionista para abordar e orientar corretamente a criança. É possível encontrar apoio para esse acompanhamento alimentar nas UBSs”, explica.

Outra dica é evitar distrações, como televisores e celulares, durante as refeições. “É comum consumir rapidamente alimentos diante de uma tela, sem dedicar a devida atenção ao que estamos ingerindo ou às pessoas ao nosso redor”, explica Gouveia.

Refeições em família

Reunir a família em torno da mesa para compartilhar refeições não apenas fortalece os laços familiares, mas também tem impactos positivos na saúde e alimentação dos pequenos.

Projeto da Universidade Harvard analisou 15 anos de pesquisas acadêmicas sobre refeições familiares e descobriu resultados significativos. Crianças que jantam regularmente em família costumam consumir mais nutrientes de frutas e vegetais, têm índices menores de obesidade e menor propensão a serem obesos quando adultos, além de ingerirem menos calorias do que se estivessem comendo fora de casa.

Ambiente escolar

A escola também é um excelente ambiente para ensinar e cultivar bons hábitos já que parte do tempo e das refeições da criançada acontece ali. A obesidade infantil é uma das principais preocupações do Programa Saúde na Escola (PSE) da SES-DF. “A refeição fornecida nas escolas melhorou nos últimos anos, mas precisamos trabalhar a conscientização das famílias”, explica a gerente da UBS 1 do Riacho Fundo, Claudia Nogueira. O foco é promover bons hábitos para a vida dos estudantes.

Por meio do PSE, a UBS lançou uma ação em seis escolas públicas da região para focar na alimentação saudável do público infantojuvenil. “Conseguimos pesar mais de 90% das crianças, identificando aquelas com obesidade, sobrepeso e baixo peso”, conta a gerente. Os jovens foram divididos entre as equipes de cuidado para acompanhamento, solicitação de exames e encaminhamento a consultas. “O intuito é replicar a prática em várias outras escolas da capital”, complementa.

*Com informações da SES-DF