15/03/2025 às 08:53, atualizado em 15/03/2025 às 09:24

De aluna a professora: jovem se apaixona pelo esporte no COP e volta para apoiar outras meninas

História de Jéssica Aguiar, que se formou em Educação Física após conhecer a ginástica acrobática no Centro Olímpico da Estrutural, é uma inspiração no mês da mulher

Por Fernando Jordão, da Agência Brasília | Edição: Débora Cronemberger

A ginástica acrobática é um esporte coletivo. Seus movimentos servem como uma metáfora da vida: dá para chegar alto, contanto que haja alguém lhe apoiando. Assim foi com Jéssica Aguiar, 26 anos. O Centro Olímpico e Paralímpico (COP) da Estrutural serviu de base para que ela pudesse escolher uma direção e alçar voo na carreira. Hoje, formada em Educação Física, a jovem atua como professora e dá o suporte para que outras meninas possam chegar ao topo de suas próprias pirâmides.

“O esporte me ofereceu novos horizontes. Fez com que eu pudesse viajar, abriu esse leque de oportunidades”, diz Jéssica Aguiar, que foi aluna do COP da Estrutural e hoje atua como professora | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

“O esporte tem total responsabilidade na Jéssica que eu sou hoje. Me moldou, formou o meu caráter, me fez uma pessoa melhor, mais responsável. Então, eu digo com 100% de certeza que, se eu não tivesse encontrado o esporte, eu não sei quem eu seria hoje. Não consigo olhar para trás e pensar para qual outro lado eu poderia ter ido”, conta.

“A gente tem muitas outras oportunidades de caminhos mais fáceis do que cursar uma universidade. Eu vim de uma família extremamente pobre, meu pai é motorista de caminhão e minha mãe, empregada doméstica. Eles nunca deixaram faltar nada, mas a gente sempre teve uma vida muito restrita. O esporte me ofereceu novos horizontes. Fez com que eu pudesse viajar, abriu esse leque de oportunidades. É um caminho muito mais legal. Vai ser mais difícil chegar lá, mas a recompensa, no final, vai valer a pena”, diz a professora.

Professora efetiva do COP da Estrutural desde 2022, Jéssica diz que sua maior motivação é ajudar as crianças a terem novos horizontes e oportunidades

O caminho do esporte, para ela, começou aos 13 anos, em 2011, quando foi inaugurado o COP da Estrutural. “O Centro Olímpico trouxe algo novo para a galera da comunidade, porque a gente era bem limitado em relação à atividade física”, lembra. Inicialmente, Jéssica era aluna de natação. Em 2012, por meio do projeto Futuro Campeão, conheceu a ginástica acrobática. A partir daí, passou a dedicar-se à modalidade e chegou a disputar competições fora do DF. Porém, precisou parar em 2016, quando iniciou a faculdade de Educação Física. “Na ginástica eu não tinha tempo, porque são cinco horas de treino por dia. Aí ou trabalha ou treina.”

Mas o COP, que influenciou na escolha da faculdade, voltaria a fazer parte de sua vida. Em 2017, retornou ao espaço como estagiária, função que exerceu por dois anos. Em maio de 2022, tornou-se professora efetiva para fechar o ciclo que iniciou lá atrás, como aluna: “Eu quis voltar para cá primeiro pela história, porque eu acho que eu devo algo à comunidade. Da mesma forma que alguém olhou para mim e quis me ajudar, eu quero ajudar as crianças hoje. Porque alguém insistiu em mim, em não me deixar ficar na rua o tempo inteiro, em me trazer para o esporte. Quero oferecer novos horizontes também. Da mesma forma que eu consegui enxergar que eu tenho outras possibilidades, quero apresentar isso para as meninas. Que o esporte pode levar para outros caminhos, que tem um lado mais divertido, que a recompensa do treino é conhecer um lugar novo, é subir no pódio, é poder ser feliz”.

As alunas sentem e valorizam toda a dedicação de Jéssica. “As aulas são muito boas, cada dia ela me ensina mais”, aponta Lívia de Oliveira, 10, que conta com o apoio da professora para driblar o nervosismo nas competições: “Às vezes eu penso que não vou conseguir, mas aí eu percebo que tenho minha base, que me ajuda muito, me encoraja”. Já Mariana Vitória Oliveira, 13, está há oito no COP e avalia ter evoluído muito nesse período, graças às aulas, e ressalta a importância do grupo. “É um esporte bem coletivo, a gente se ajuda muito. Todas aqui são amigas, entrou uma, a gente já está ali ajudando a evoluir. Uma incentivando a outra.”

Lívia de Oliveira agradece o incentivo que recebe da professora: “Às vezes eu penso que não vou conseguir, mas aí eu percebo que tenho minha base, que me ajuda muito, me encoraja”

Jéssica se enxerga nas alunas e se diz grata e orgulhosa da própria história. Agora, nutre o desejo de viajar, como treinadora, para um mundial. “Chegar onde eu não cheguei como atleta.” O sonho é o mesmo das duas crianças. E, juntas, elas prometem conseguir. Na vida, como na ginástica acrobática, uma ajuda a outra.

15/03/2025 - De aluna a professora: jovem se apaixona pelo esporte no COP e volta para apoiar outras meninas