11/04/2025 às 17:47

Hospital de Base recebe etapa final de curso internacional de cirurgia torácica com tecnologia 3D

Técnica foi aplicada em duas cirurgias de pacientes do SUS e transmitida ao vivo para a América Latina

Por Agência Brasília* | Edição: Vinicius Nader

O Centro Cirúrgico do Hospital de Base do Distrito Federal, gerido pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), foi palco, nesta sexta-feira (11), da última etapa do II Curso Internacional de Segmentectomia Pulmonar e Estado da Arte em Reconstrução 3D, um dos eventos mais relevantes da cirurgia torácica do país. A programação reuniu profissionais do Brasil, Estados Unidos e Canadá em um intercâmbio técnico-científico voltado para o aprimoramento de técnicas minimamente invasivas no tratamento do câncer de pulmão precoce.

Mais do que um momento de formação, o último dia do evento teve impacto direto na assistência à população: duas pacientes da fila da regulação da Secretaria de Saúde do DF, diagnosticadas com câncer de pulmão, foram operadas durante o curso, com acesso a uma das técnicas mais modernas da medicina atual. Os procedimentos foram transmitidos ao online para toda a América Latina, com tradução simultânea em espanhol.

As cirurgias de duas pacientes com câncer de pulmão foram transmitidas online para a América Latina | Fotos: Alberto Ruy/IgesDF

“É muito significativo poder aliar um evento científico dessa magnitude ao atendimento direto de pacientes do SUS. Estamos operando casos de câncer de pulmão em estágio inicial, com as técnicas mais modernas disponíveis no mundo, e garantindo a esses pacientes o melhor tratamento possível dentro da rede pública”, afirma Antônio Bonaparte, chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Base.

Aplicação de técnicas modernas de ponta no SUS é possível

Antônio Bonaparte destaca que o curso levantou a discussão de tópicos mais recentes em câncer de pulmão. “Também foram discutidas as indicações de ressecção cirúrgicas em segmentectomia e as inovações tecnológicas em reconstrução de imagens tridimensionais das tomografias”, explicou.

A técnica apresentada envolve a segmentectomia pulmonar anatômica por videotoracoscopia, abordagem minimamente invasiva que permite retirar apenas o segmento do pulmão afetado pelo tumor, preservando o máximo de tecido saudável. Aliada a isso, a reconstrução tridimensional da anatomia do pulmão oferece um ganho inédito de precisão para os cirurgiões.

“Essa reconstrução 3D é um avanço enorme. É possível ver com clareza a anatomia antes mesmo de abrir o paciente e manipular virtualmente os segmentos pulmonares”

Antônio Bonaparte, chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital de Base

“Essa reconstrução 3D é um avanço enorme. É possível ver com clareza a anatomia antes mesmo de abrir o paciente e manipular virtualmente os segmentos pulmonares. É uma revolução que contribui diretamente para a segurança do procedimento”, explica Bonaparte. “Além disso, estamos falando de um câncer detectado precocemente, o que eleva as chances de cura para até 92%”, completa.

O médico ainda ressaltou que “os últimos trabalhos mostraram que, para câncer em fases iniciais, estágio 1 e às vezes até estágio 2, com lesões pequenas, é possível fazer uma ressecção pulmonar mais econômica. Poder difundir essa técnica com mais cirurgiões do Brasil e da América Latina, vamos conseguir proporcionar aos pacientes a melhor técnica segura para câncer de pulmão precoce, diminuindo as complicações e garantindo uma qualidade de vida melhor”, concluiu.

A ideia de realizar as cirurgias no Hospital de Base é mostrar que cirurgias de qualidade com técnicas e inovações tecnológicas também podem ser realizadas no SUS. “O mesmo tratamento que o paciente do privado e do convênio recebe, a gente também consegue trazer para a vida pública, para o hospital público, para o paciente do SUS, pois o cirurgião tem a mesma qualificação”, diz Bonaparte.

O evento no Hospital de Base reuniu profissionais do Brasil, Estados Unidos e Canadá

Ainda de acordo com ele, também é possível trazer os equipamentos de ponta para o Sistema Único de Saúde. “Hoje já temos no Hospital de Base alguns equipamentos e materiais similares aos que vão ser trazidos para a cirurgia. O que ainda não temos é o robô e essa realidade virtual em 3D. Como a maior porcentagem desses pacientes com câncer de pulmão estão no SUS, a intenção era que isso abrangesse também as unidades públicas de saúde para demonstrar que isso também é viável”, conta.

Paula Ugalde, cirurgiã do Brigham and Women’s Hospital, da Harvard Medical School (EUA), referência mundial na área, foi um dos destaques do evento. “Tivemos o apoio fundamental de empresas que doaram os materiais, além da participação à distância da nossa radiologista, que está no Canadá. Foi realmente um time muito forte”, afirma.

Segundo a especialista, o maior ganho é para a paciente, que pôde ser submetida a um procedimento minimamente invasivo com uso de tecnologia de ponta. “Fizemos uma incisão mínima, utilizando óculos de realidade mista, isso representa um salto de modernidade. Além disso, o ensino esteve presente, com alunos acompanhando a transmissão ao vivo e aprendendo com a prática.”

*Com informações do IgesDF