01/11/2013 às 18:33

Presos no DF chegam a ler 12 vezes mais livros do que população

Dado foi divulgado hoje com base em pesquisa feita pela UnB com 200 internos das unidades do Sistema Penitenciário

Por Da Secretaria de Segurança Pública


. Foto: Pedro Ventura / Arquivo

BRASÍLIA (1º/11/13) – Uma pesquisa feita com 200 internos do Sistema Penitenciário do Distrito Federal apontou que 70% dos presos chegam a ler 48 livros por ano, número 12 vezes maior do que a média anual da população fora do ambiente carcerário, que é de quatro exemplares durante o mesmo período.

 

“Fizemos a pesquisa por dois anos e constatamos que houve mudanças no vocabulário e na forma que eles se enxergam como indivíduo”, contou a responsável pelo levantamento, a pesquisadora da Universidade de Brasília (Unb), Maria Luzineide Costa.

 

Segundo ela, durante a pesquisa foram aplicados 200 questionários entre internos que têm o 9º ano do Ensino Fundamental da Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I) e da Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF).

 

As respostas revelaram que a leitura já era uma constante na vida das detentas, diferentemente dos presos que adquiriram a prática da leitura somente após o cárcere.

 

“Aprendi a passar o tempo com a leitura. Ao invés de ver um filme, a gente lê um filme”, contou o sentenciado Carlos Anderson, que cumprirá pena até 2015 e diz ler ao menos 50 páginas diariamente.

 

De acordo com a análise, o vocabulário e a linha de raciocínio de quem tem contato com a leitura é muito diferente do restante da massa carcerária. “Ler livros nos faz ler e falar melhor, além de deixar nosso cotidiano menos monótono”, enfatizou Carlos, ao confirmar a preferência por livros jurídicos para adquirir conhecimento.

 

A pesquisa concluiu também que, para 24% dos homens, a leitura representa prazer e para 10%, refúgio. Já para as mulheres presas, o ato de ler é uma maneira de não sentir saudade da família, e para 50% delas é para adquirir conhecimento.

 

BIBLIOTECAS – Existem duas bibliotecas no PDF I: a Biblioteca Monteiro Lobato, criada pela Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (FUNAP) junto a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (SESIPE), e a Biblioteca Graciliano Ramos, doada pela “Casa do Saber”, projeto de leitura idealizado por uma empresa privada do DF.

 

O acervo das duas bibliotecas é de 8 mil livros, que atualmente estão sendo cadastrados em um sistema informatizado.

 

O Núcleo de Ensino e Aperfeiçoamento do PDF I iniciará, no próximo semestre, o projeto “Carrinho do Livro”, em que serão distribuídos seis livros por cela em um carrinho. “A cada 15 dias vamos trocar esses livros entre as celas. Esperamos formar ainda mais leitores”, explicou o chefe no Núcleo, Dalton Neiva.

 

REDUÇÃO DA PENA – Os presos do Sistema Penitenciário do Distrito Federal têm acesso, desde março deste ano, ao projeto de leitura e produção escrita “Portas Abertas”, desenvolvido pela UnB na PDF I, e estendido à PDF II, onde há internos envolvidos em crimes sexuais.

 

O projeto segue a orientação da Portaria n° 276 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), aprovada em junho do ano passado, que determina a redução de até quatro dias de pena por um livro lido mensalmente, com apresentação de resenha.

 

O objetivo é qualificar o tempo na cela, de maneira sistemática, com a leitura de obras predeterminadas. Nesse projeto, o interno terá contato com obras consagradas da literatura brasileira.

 

Além do incentivo à leitura, o projeto propõe rodas de conversa sobre temáticas variadas, que ocorrem periodicamente para discussões a respeito da leitura realizada.

 

“É importante que o interno tenha esse contato com os livros para a ressocialização, ocupação do tempo e para que ele saia do sistema penitenciário mais instruído”, finalizou o subsecretário do Sistema Penitenciário, Cláudio Moura Magalhães.

 

(A.S/J.S*)