30/11/2013 às 10:04

Feira Central de Ceilândia traduz o sabor do Nordeste

Visitantes podem provar as delícias da região ou comprar ingredientes para preparação caseira

Por Kelly Ikuma, da Agência Brasília


. Foto: Hmenon Oliveira

CEILÂNDIA (30/11/13) – As portas se abrem às 8h para o público, mas o tilintar das panelas começa muito mais cedo. Isso por que, por volta das 8h30, o buffet de delícias da culinária nordestina tem que estar pronto para consumo.Na Feira Central de Ceilândia essa é a rotina de dezenas de barracas que servem pratos como buchada, sarapatel, dobradinha e muitos outros, do café da manhã até as 18h, quando as atividades são encerradas.

 

Se para a maioria das pessoas a primeira refeição se resume a meia banda de mamão, pão francês com requeijão e uma xícara de café com leite, para boa parte dos clientes dessa praça de alimentação peculiar o cardápio é mais substancioso. Os pedidos variam entre uma caprichada cumbuca de caldo de mocotó ou mesmo o conhecido PF (Prato Feito), que pode vir com duas carnes, acompanhadas de arroz, macarrão, feijão tropeiro e salada.

 

Esse costume é seguido por anos pelo vigilante Vilmar Dias Noleto, de 46 anos que, pelo menos duas vezes por semana, mata a saudade de sua terra natal em uma das barracas antes de entrar no batente. “Aqui em Brasília muitos acham estranho esse hábito, mas lá no Maranhão é normal tomar esse café da manhã reforçado. Escolhi hoje comer mocotó e dobradinha com um pouco de arroz e farofa. Uma delícia.”

 

O pedreiro Fábio Ribeiro, de 36 anos, também reservou parte da sua manhã para saborear a famosa rabada acompanhada de farofa, salada e arroz. “Moro em Águas Lindas com minha esposa e duas meninas, mas peguei um trabalho em uma casa aqui perto. Gosto de comer aqui porque, além do bom preço, a quantidade servida é farta e não deixa ninguém ficar com fome até esperar o almoço”, se divertiu.

 

São esses e muitos outros personagens que dão a energia suficiente para Edinara Bezerra, mais conhecida como dona Galega, se empenhar ainda mais no preparo dos pratos da conhecida “Barraca da Galega”. Há 24 anos, todos os dias, ela chega às 6h, fraciona os ingredientes necessários para cada prato e começa a reger as dezenas de panelas apoiadas em seus três fogões industriais.

 

“Só hoje servi seis almoços antes das 10h. Onde nasci, em Caicó – Rio Grande do Norte – comer muito e pesado no café é costume. Servimos uma média de 200 pratos por dia durante a semana e chegamos a vender quatro vezes mais no sábado e domingo”, explicou a proprietária que, enquanto respondia às perguntas, cozinhava, orientava os funcionários e recepcionava os clientes com um grande sorriso no rosto.

 

A cozinheira da barraca “Come Bem”, Renata Maria da Silva, também vivencia esse cotidiano frenético, mesmo há apenas três meses na função. De acordo com ela, são servidas 12 opções de pratos durante a semana e 16 nos finais de semana, nunca esquecendo a tradicional buchada, carro-chefe do local. “Essa não pode faltar nas panelas porque nossos clientes fiéis vêm aqui só para saborear esse prato”, ressaltou orgulhosa.

 

INGREDIENTES – Mas a parte gastronômica da feira não está somente nesse corredor de delícias. As cozinheiras do lar também têm ao seu dispor todos os ingredientes necessários para colocar em prática o prazer da mesa em suas casas. Na barraca de temperos “Cravo e Canela”, por exemplo, o proprietário Adeilton Novaes, para poupar tempo e esforço das clientes, preparou o famoso tempero baiano, uma mistura de várias ervas utilizadas nos pratos nordestinos.

 

“Essa preparação contém mais de 15 temperos diferentes. Fiz isso por que havia muita demanda pelos sabores dos pratos nordestinos, daí resolvi adiantar essa para as clientes”, afirmou. Novaes herdou o comércio de seu pai, que inaugurou o local no mesmo período da abertura da feira. Desde então, segue com a tradição, que pretende passar para seus dois filhos. “Eles já conhecem a rotina pesada, mas vale a pena”, destacou.

 

Outro ponto que existe há mais de 30 anos é a barraca “Queijos e Doces D’ana”, que vende biscoitos, doces, queijos e produtos especiais, como a farinha de tapioca e a nata, ingrediente indispensável em muitos pratos da região do nordeste. “O item mais procurado em nossa barraca é o queijo minas frescal, que é fabricado em um laticínio da família do meu marido, donos do estabelecimento”, disse a vendedora Jaqueline Gomes.

 

O casal Paiva também abriu as portas do seu açougue assim que a feira foi criada. Eles comercializam galinha caipira, porco e o tradicional cabrito, carne que não falta na mesa da maioria de seus clientes. “Esse é o que mais vendemos. Temos também criação própria de galinha da Angola e, para os que pedem, vendemos, ainda, o bode e o carneiro”, explicou Gerardo Ferreira Paiva, de 62 anos.

 

Legumes, verduras, frutas e hortaliças também são encontrados no espaço para complementar as refeições. Marlene Costa, vendedora da “Banca da Família”, disse que atende pessoas de todos os locais do DF, inclusive de outros países. “Temos produtos comuns, como cebola, tomate, batata e outros menos conhecidos, porém muito apreciados, como o inhame da Paraíba”, ressaltou.

 

RECEITA

Baião de Dois da dona Galega

Ingredientes:

– 1kg de arroz parborizado

– 1kg de feijão de corda

– 1 cabeça de alho amassada

– 1 tomate

– 1 cebola

– 1 pimentão

– 300ml de nata

– sal e cheiro verde a gosto

Preparo:

Cozinhe o feijão de corda na panela de pressão por 30 minutos e reserve. Cozinhe o arroz parborizado até que ele fique “al dente” (com meio cozimento). Refogue o alho, a cebola, o tomate, o pimentão com o sal a gosto e misture o arroz e o feijão. Misture a nata e enfeite com cheiro verde.


PONTO TURÍSTICO – Inaugurada oficialmente em 1984, a Feira Central da Ceilândia, ao longo dos anos, se tornou um símbolo cultural e turístico da cidade. O local, na verdade, começou a funcionar ainda no início da década de 1970, mas em três pontos diferentes (no centro de Ceilândia; no lugar onde hoje fica a Feira da Guariroba,P Sul e na extinta Vila do Pedrosa, na região norte da cidade) até que os feirantes conseguiram se organizar no centro.

 

O presidente da Associação dos Feirantes da Feira Central de Ceilândia, França Nogueira, disse que, de quarta a sexta-feira, uma média de 7 mil pessoas visitam o local por dia, e sábado e domingo esse número chega a 11 mil. De acordo com ele, a feira funcionará todos os dias até 31 de dezembro e volta a abrir suas portas de quarta a sexta-feira no dia 2 de janeiro de 2014. O local estará fechado no dia 25 de dezembro e 1º de janeiro.

 

SERVIÇO:

Barraca Come Bem

Porção com carne – R$ 8

Tijela – R$ 4

Prato Feito (com dois tipos de carne e acompanhamentos) – R$ 8

Buchada – R$ 20 (serve até três pessoas e acompanha arroz e salada)

· A porção ou a tijela vem com uma dessas opções: rabada, galinha caipira, sarapatel, mocotó ou dobradinha

 

Banca da Galega

Porção – R$ 7

Prato feito – R$ 7 (acompanha arroz, salada, feijão tropeiro e churrasco)

Buchada – R$ 15 (serve duas pessoas e acompanha arroz, salada e farofa além de pezinho e sangue)

· A porção vem com uma dessas opções: rabada, galinha caipira, sarapatel, mocotó ou dobradinha

 

Queijos e Doces D’Ana

Queijo minas frescal – R$ 15 o quilo

Farinha de tapioca – R$ 3 o quilo

Nata – R$ 10 o quilo

 

Cravo e Canela – temperos e ervas

Tempero baiano – R$ 5 o copo de 130g

· Os preços dos temperos variam entre R$ 2 e R$ 10

 

(K.I/M.D*)