Os artistas de Angola e Cabo Verde tiveram a oportunidade de relatar suas experiências como portadores da palavra e da cultura de suas nações

" /> Os artistas de Angola e Cabo Verde tiveram a oportunidade de relatar suas experiências como portadores da palavra e da cultura de suas nações

">

17/04/2012 às 17:01

Autores africanos entrelaçam história e literatura

Os artistas de Angola e Cabo Verde tiveram a oportunidade de relatar suas experiências como portadores da palavra e da cultura de suas nações

Por

Secretaria de Cultura

Traçadas há mais de 150 anos pelos europeus, as fronteiras arbitradas pelos países colonizadores, na Conferência de Berlim, demarcaram nações e impuseram recortes geográficos às nações africanas. Tais fronteiras acabaram por se converter em barreiras para o conhecimento entre os próprios países vizinhos. A avaliação é da poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares, presente no segundo dia do Seminário de Literatura Africana que integra a programação da I Bienal do Livro e da Leitura. O debate, conduzido pela professora Rejane Vecchia, da USP, contou também com a participação do escritor de Cabo Verde, Germano Almeida.
 
A produção literária contemporânea e as transformações do continente foram apresentadas pelos autores. No seminário, os escritores tiveram a oportunidade de relatar suas experiências como portadores da palavra e da cultura de suas nações. Ana Paula Tavares expôs como os anos 80 no país representaram um marco, “uma clivagem”, especialmente no que se associa ao fazer poético, em que a procura pela palavra passou não pela negação do passado, mas pela apropriação deste sob uma nova organização expressiva. A escritora, autora de livros importantes como Ritos de Passagem (1985), O Lago da Lua (1999) e Manual para amantes desesperados (2007), destacou a independência da Angola como uma data fundamental para o país, momento de fundação de uma nação, a partir da qual a produção literária passou a abordar temas como guerra, corpo, desejo, solidão.
 
Já o escritor de Cabo Verde, Germano Almeida, falou do orgulho do homem cabo-verdiano de sua própria terra: “mesmo havendo a necessidade de imigrar, levamos para onde quer que cheguemos nossos costumes, nossa força, nossa voz”. Relatou também a proeza que é produzir uma literatura que consegue conferir unidade e identidade a um povo de 600 mil habitantes dispostos em dez ilhas. “Hoje nossa literatura, inclusive, é mais leve, temos a habilidade de apontar as agruras com graça e humor”.
 
Para a professora Rejane Vecchia, o Brasil não encampa devidamente sua acentuada herança afro, sendo necessário “vencer uma política educacional que não nos oferece possibilidades de alargar a percepção e o conhecimento sobre o continente africano”. Afirmou ainda o quanto se deve avançar na “ruptura de paradigmas equivocados, como a ideia de um continente africano homogêneo, único”, reconhecendo como a literatura se faz importante no esclarecimento e preenchimento das lacunas da história.