05/09/2019 às 12:05, atualizado em 05/09/2019 às 14:07

Bruno Giorgi e suas esculturas ajudam a contar a história de Brasília

Artista paulista é autor das obras Os Guerreiros – mais conhecida como Os Candangos –, o Meteoro e Monumento à Cultura, espalhadas pela cidade

Por Ana Luiza Vinhote, da Agência Brasília

Os Guerreiros na Praça dos Três Poderes. Obra é popularmente conhecida como Os Candangos, um símbolo da cidade | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

Reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Brasília chama a atenção de moradores e turistas pelos conjuntos arquitetônicos. Entre eles, monumentos, edifícios e esculturas. As obras do artista Bruno Giorgi, por exemplo, são símbolos da capital. 

Giorgi é conhecido como um dos mais importantes escultores brasileiros. Filho de pais italianos, ele nasceu em 1905, em São Paulo, e morreu em 1993, no Rio de Janeiro. A mãe o colocou para fazer aulas de escultura quando criança, por ser um menino muito agitado. A convite do arquiteto Oscar Niemeyer, o artista desenvolveu três obras na capital entre as décadas de 50 e 60.

[Olho texto=”Os Guerreiros foi a primeira escultura criada por ele. Elaborada em 1959 e mais conhecida como Os Candangos, a obra é feita em bronze e está localizada na Praça dos Três Poderes.” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Os Guerreiros foi a primeira escultura criada por ele. Elaborada em 1959 e mais conhecida como Os Candangos, a obra é feita em bronze e está localizada na Praça dos Três Poderes. Segundo o professor de Arte da Universidade de São Paulo (USP) Olívio Guedes, a expressão “candangos” vem da África, mais precisamente de Angola.

[Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”]

“Os negros chamavam os portugueses assim. Durante a construção de Brasília, aquelas pessoas que vinham, principalmente do Nordeste, eram apelidadas dessa forma. Então, esse nome deixou de ser um vilão e passou a ser uma homenagem aos trabalhadores”, lembra. 

Na avaliação do doutor em História da Arte, a escultura, que mostra duas pessoas se abraçando, é uma forma de dizer que dois guerreiros estão lutando por um país igualitário. “Os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) estão reunidos naquela praça. A imagem traz um simbolismo de união, força e equilíbrio”, classifica Olívio Guedes.   

Outra escultura de Giorgi, que fica ao lado do edifício do ministério das Relações Exteriores, chama atenção na Esplanada dos Ministérios. Pesando cerca de 50 toneladas, o Meteoro foi construído em 1967. O material feito em mármore Carrara (italiano) demorou cerca de 14 meses para ser finalizado e quase caiu na cabeça do artista no momento da colocação.  

A escultura O Meteoro está localizada no espelho d’água do Palácio do Itamaraty | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

Para Frederico Barreto, professor do Departamento de Projeto, Expressão e Representação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), a peça circular que parece flutuar sobre o espelho d’água do Palácio do Itamaraty representa os laços diplomáticos entre os países do mundo. “É uma esfera estilizada montada em cinco peças que se interceptam de forma harmoniosa, mas que permite ver seus desvãos e suas distinções”, comenta.   

Construído em 1965, o Monumento à Cultura fica na praça Edson Luís, na UnB. Doada pelo empresário Adolpho Bloch, a escultura também é feita em bronze. Para Guedes, ela representa uma sustentação cultural. “As colunas possuem asas e foram colocadas no meio da universidade, isso significa que quando colocamos asas no conhecimento podemos voar longe”, diz. Barreto explica que a obra tem formas corporais altamente estilizadas. “Mais pontiagudas e elegantes, simbolizando a atitude alerta e vigilante que é expressada em muitas obras de Bruno Giorgi.”   

Monumento à Cultura fica na praça Edson Luís, na UnB | Foto: Renato Araújo / Agência Brasília

Modernismo

As esculturas de Bruno Giorgi foram feitas no período modernista. Olívio Guedes lembra que o movimento surgiu na França, no final do século 19, mas chegou ao Brasil apenas em 1922 e se estendeu até 1960. “Os modernistas tinham por base a experiência do país deles, como a política e a cultura. No caso de Bruno Giorgi, ele juntou a cultura dos dois países”, explica.     

Frederico Barreto afirma que o movimento causou grande revolução nas formas, nos materiais, nos simbolismos e na própria conduta dos artistas, seja na arquitetura, na escultura, na dança, nas artes plásticas e visuais ou na literatura. “Eles eram libertários e protagonistas de advocacias transformadores na sociedade” conta.