29/08/2019 às 11:49, atualizado em 29/08/2019 às 15:35

A hora e a vez dos novos criadores de moda

Fábrica Social promove desfile de roupas, superação e histórias de vida

Por Emanuelle Coelho, da Agência Brasília

Eunice Nascimento da Silva comemora: formatura na Fábrica Social marca o fechamento vitorioso de uma história de superação | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Luz na passarela, que lá vêm eles. Os formandos do curso de confecção de vestuário, acessórios e material esportivo da Fábrica Social esbanjaram charme, beleza e talento ao desfilar, nesta quarta-feira (28) com roupas e acessórios que eles mesmos confeccionaram – em sua maioria, peças recicladas.  O evento foi realizado na unidade do SCIA do Instituto Federal de Brasília (IFB).

Os modelos foram especialmente elaborados como uma espécie de portfólio de criatividade e capacitação. Pela passarela, desfilaram produtos oriundos de muitas histórias de superação que foram costuradas ao longo dos dois anos de aprendizado. Muitos se arrumaram ali mesmo, em um canto improvisado no corredor dos banheiros ou nas salas de aula.

Entre as peças exibidas, destacavam-se casacos de moletom, vestidos, trajes de festa, roupas infantis e acessórios. Alguns dos estudantes levaram a família e desfilaram com os filhos.  Na plateia, autoridades – entre essas, o chefe de gabinete Paulo César Pagi Chaves, representando o vice-governador Paco Britto – familiares, alunos, influenciadores da moda, representantes do setor produtivo e empresários do ramo da confecção acompanhavam tudo com a maior atenção.

Perseverança é tudo

Antes do desfile, uma solenidade no auditório do IFB oficializou a formatura dos 62 alunos.  Eunice Nascimento da Silva, de 54 anos, moradora de Santa Maria, fazia coro ao entusiasmo da turma. No desfile, ela mostrou as bolsas que confeccionou.

“Hoje estou de coração partido porque vou sair [da escola] e estou maravilhada com o que aprendi”, comemorou. “Sou uma das melhoras da turma.  Todos temos um dom, é só praticar. Perseverança sempre, desistir, jamais”.

Eunice aguardou cinco anos até ser contemplada com uma das vagas para o curso da Fábrica Social. “Sempre ia ao CRAS [Centro de Referência de Assistência Social] e ficava esperando pela oportunidade, até que consegui”, conta.

Transformação

A aluna era cabeleireira, mas, depois de diversos problemas de saúde, não conseguiu mais exercer a profissão. “Sou hiperativa e depressiva e me inscrevi para ter algo para fazer, para sair de casa. No início não gostei e até pensei em desistir, mas fui conhecendo pessoas, comecei a me interagir e também a gostar das aulas”, conta.

Mãe de quatro filhos, Eunice divulga seus trabalhos nas redes sociais e diz sentir-se orgulhosa do sucesso que vem alcançando. A formanda tem apenas a quarta série, mas não desanimou. “A Fábrica Social transformou minha vida”, diz. “Aprendi a fazer roupas, peças íntimas, bolsas e jalecos e também saí da depressão. Não tinha nada; hoje tenho tudo, graças à Fábrica Social”.

Para ir à escola, ela precisava pegar três conduções. Acordava às 5h e, por volta das 7h40, chegava para as aulas, que começam às 8h. Seus planos agora são tirar férias e, em seguida, montar um atelier. As máquinas, ela já tem – são cinco, compradas com o dinheiro do auxílio-alimentação que recebia do programa.

Aprendizado intenso

O secretário de Trabalho e de Educação do DF, João Pedro Ferraz, destacou que a Fábrica Social é um misto de trabalho e educação. “A Fábrica, além de ensinar uma profissão, também traz esses alunos para uma faixa de cidadania, e hoje é um dia especial, porque estamos formando a primeira turma desse segmento e esses alunos já serão encaminhados para as agências do trabalhador e para o mercado de trabalho. Saio daqui hoje feliz”, declarou.

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“Para viver esse momento, esse programa de transformação de vidas, é preciso ter muita fé”, ressaltou o subsecretário de Integração de Ações Sociais da Secretaria de Trabalho, Gerson Vicente de Paula Júnior. “Foi uma grande troca que todos nós tivemos. Ajudamos a instruir os alunos e a formá-los com muita didática e técnica, mas também aprendemos.”

O acompanhamento da programação da Fábrica Social trouxe a Gerson a oportunidade de se aproximar cada vez mais da realidade dos envolvidos nesse trabalho. “Sei da história de superação de vários alunos”, relata. “Conheci, durante esse período, várias histórias marcantes, como a de pessoas que entraram sem vontade de estar aqui e hoje saem já fazendo negócios [a partir] do que aprenderam a produzir”.

Quer se inscrever?

Ingressar na Fábrica Social não tem mistério. Além de manter as informações atualizadas no Cadastro Único de Programas Sociais do governo federal (CadÚnico), é preciso residir no Distrito Federal, ter renda familiar per capita de até R$ 178, possuir idade mínima de 16 anos (completados até 27/5/2019) e não ter participado de nenhum processo de capacitação e qualificação do Centro de Capacitação Profissional – Programa Fábrica Social.