Além de ser um dos locais que abrigaram migrantes que vieram trabalhar na construção de Brasília, é berço da Aruc, o maior bloco carnavalesco do Distrito Federal, e possui locais tradicionais em que a comunidade se reúne, como o Cruzeiro Center e a Feira Permanente

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30/11/2011 às 13:14, atualizado em 12/05/2016 às 17:55

Cruzeiro, local de muitas histórias

Além de ser um dos locais que abrigaram migrantes que vieram trabalhar na construção de Brasília, é berço da Aruc, o maior bloco carnavalesco do Distrito Federal, e possui locais tradicionais em que a comunidade se reúne, como o Cruzeiro Center e a Feira Permanente

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Eva Verônica Maria de Sarmento foi uma das fundadoras da Feira Permanente do Cruzeiro
Eva Verônica Maria de Sarmento foi uma das fundadoras da Feira Permanente do Cruzeiro. Pedro Ventura

Ailane Silva, da Agência Brasília

O Cruzeiro, que completa hoje (30/11) 52 anos de existência, é uma cidade com muitas histórias. Além de ser um dos locais que abrigaram migrantes que vieram trabalhar na época da construção de Brasília, é berço da Aruc, o maior bloco carnavalesco do Distrito Federal, e possui locais tradicionais em que a comunidade se reúne, como o Cruzeiro Center e a Feira Permanente.

A Feira Permanente do Cruzeiro Velho iniciou suas atividade em 1970 para atender às necessidade dos trabalhadores. Ela funcionou por muito tempo em piso de chão batido e com barracas de madeira. Atualmente, possui 80 boxes e sua estrutura é metálica. A administradora da feira, Maria Aparecida de Bento Craveiro, fala sobre a história do local. “Por 21 anos, os feirantes tiveram de trabalhar com bancas de madeira e em situação precária. Em 1974, ela foi transferida para a divisa entre o Cruzeiro Velho e o Novo e só em 1991 foi inaugurada a cobertura do local”, conta.

Um dos fundadores da feira, o pioneiro José Ribamar Canuto, 63 anos, tem uma banca de frutas e verduras. Mesmo depois de muito tempo, ele relembra com detalhes da época em que chegou ao local. “Cheguei aqui em três de dezembro de 1970, quando eu tinha 22 anos. Só tinham umas cinco barracas de lona e muita lama. Mas foi aqui eu construí a minha vida. Não quero emprego melhor do que a feira”, diz, orgulhoso.

José Ribamar Canuto conta ainda que morava em um quartinho e que diversão, só em outros lugares. “Festa naquele tempo era bom demais. Namorada que era difícil. Eu e uns amigos, alguns deles trabalhavam na feira também, saíamos para Taguatinga e Núcleo Bandeirante para namorar e se divertir”, lembra.

Outra feirante é Eva Verônica Maria de Sarmento, que possui uma banca de hortaliças e frutas, e foi uma das primeiras a chegar no local. “Foi muito difícil. Era uma luta constante, porque a infraestrutura era péssima. Eu vinha trabalhar junto com o meu pai nessa época e hoje vivo daqui”, destaca.

Antônio Augusto Ahures, 60 anos, mora no cruzeiro há 30 anos. Possui uma banca de queijos, doces e frios e é primeiro tesoureiro da Associação dos Feirantes do Cruzeiro. Ele conta que hoje são cerca de 80 associados. “Nossa feira possui uma grande diversidade de produtos. Vendemos roupas, queijos, frutas e muitas outras mercadorias”, informa.

Berço da Aruc – Uma pioneira muito conhecida no Cruzeiro por ter fundado a Aruc é a enfermeira aposentada Ivone de Araújo Eduardo, 80 anos. Então servidora pública, ela chegou no Distrito Federal acompanhando seu marido, que trabalhava no Ministério da Fazenda e foi convocado para prestar serviço no Planalto Central na época da construção de Brasília. Dona Ivone, como é mais chamada, veio do Rio de Janeiro para um lugar ainda desconhecido.

Ela foi a primeira moradora de um bloco de apenas 10 casas no Cruzeiro, construído para abrigar funcionários públicos que vinham de outras regiões. Recém-chegada, a servidora foi responsável por entregar as chaves aos demais moradores. “Aqui, antigamente era chamado de ‘Gavião’, porque as casas eram todas brancas. Fiquei com a terceira casa do bloco e recebi todas as famílias que vinham”, lembra.

Rindo, dona Ivone conta que, por não saber que tipo de solo encontraria na nova morada, viajou do Rio para o Cruzeiro vestida com saia de veludo, bolsa de musselina branca, meia-calça, além de sapatos e bolsa envernizados. “Quando cheguei e vi a poeira, comecei a chorar”, revela, com bom humor. “Mas, depois, eu fui gostando, fazendo amizade com as outras famílias”, destaca.

Dona Ivone era, até o ano passado, presidente da Ala das Baianas da escola de samba. Por motivos de saúde, ela deixou o cargo, mas continua fazendo parte da escola. Ela também inaugurou o primeiro Posto de Saúde do Cruzeiro. Em 1998, como homenagem pela sua história, ela recebeu do Governo do Distrito Federal um quiosque em frente à sua casa, onde passa a tarde vendendo salgadinhos e bebidas.

Cruzeiro Center – Cruzeiro Center é a área comercial de maior movimento do Cruzeiro Velho. Contemplada com variados empreendimentos, atende bem as expectativas dos moradores, tanto em quesito de lazer quanto com produtos considerados indispensáveis no dia a dia. Na hora de fechar negócio, a segurança, a tranquilidade e o bom atendimento são as referências apreciadas pela clientela, que aquece com êxito o comércio local.

O funcionário público Geraldo Ferreira Campos, 67 anos, elogia o Bar do Tiêta, que é um dos estabelecimentos comerciais instalados há mais tempo e bastante frequentado pelos cruzeirenses. “O Tiêta é a referência de todas as pessoas mais antigas do Cruzeiro. É um lugar muito bom para distrair a mente”, considera Campos.

Segundo o dono do bar, Raimundo Ivan Felix Teixeira, conhecido apenas por Tiêta, que trabalha há mais de 20 anos no local, o atendimento em seu estabelecimento, nos períodos de maior movimento, é de 100 a 150 clientes por dia. “Hoje, nós somos oito bares nessa rua. O comércio aqui é bom. Trabalho de segunda a sábado, mas aos domingos vou beber no bar do vizinho”, afirma Tiêta em meio a risos.