03/04/2020 às 15:00, atualizado em 05/04/2020 às 09:13

Mikael Omik e a arte do grafite brasiliense

Grafiteiro nascido em Ceilândia, ele conta que Brasília ajuda na sua construção como artista. “Desejo não ter que sair daqui, mas que eu possa levar as coisas boas para fora”, confessa

Por Agência Brasília*

[Numeralha titulo_grande=”18″ texto=”dias para os 60 anos de Brasília” esquerda_direita_centro=”centro”]

Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.

Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Omik considera Brasília uma “galeria de inspirações”. Segundo ele, há vários artistas em atividade, o que mostra que existe vida na cidade. “Existem vários trabalhos de qualidade, tanto na questão técnica quanto em relação à personalidade”, avalia. Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

“Eu sou o Mikael Guedes de Oliveira. Nas ruas, sou mais conhecido como Mikael Omik. Nasci em Brasília, em Ceilândia. Vivi lá quase minha vida inteira. Me mudei há seis anos por conta do grafite, que comecei há oito anos.

Hoje moro no Guará, em um ateliê que divido com cinco amigos. Eu desenho desde os 6 anos, mas quando terminei o ensino médio passei a ter contato maior com a arte e me deu vontade de expor o que eu fazia.

Tudo começou quando eu tinha uns 18 anos e estava passando de ônibus por um lugar quando vi um artista que eu admirava muito na rua – o Snoopy –, e ele estava pintando. Eu desci do ônibus e fiquei observando ele pintar do início ao fim. No caminho para casa, decidi que era isso que queria fazer. Chequei em casa, peguei umas tintas de parede, uns pincéis, e fui fazer meu primeiro grafite, em Ceilândia mesmo. Fiquei o dia todo na rua.

[Olho texto=”Existe em Brasília um trabalho com estética autoral, o que é muito importante. Brasília é uma cidade moderna e daqui a 30 anos vai continuar sendo. Essa característica meio atemporal me chama muito a atenção.” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

No começo, quando eu comecei a pintar, eu fazia meus painéis em locais mais escondidos porque eu não sentia confiança no meu trabalho. Pintava mais perto de casa. Acabei conhecendo outras pessoas que pintavam e acabamos fazendo com que essa atmosfera do grafite mudasse nossa cidade.

A gente usava o grafite como se fosse um refúgio. As pessoas conheciam somente a pichação, algumas tinham até problemas com a polícia, e mostramos que é possível fazer arte com o grafite, que usa a mesma ferramenta, até para as crianças. Após o alto índice de trabalhos urbanos nas ruas, o grafite foi ganhando espaço na sociedade.

O grafite mudou a cara de Ceilândia. Tanto é que grandes nomes do grafite brasiliense são da cidade. Esse movimento era muito forte lá. As pessoas queriam entender o que era, aprender e acabamos convertendo muitas crianças que iam para o caminho errado. Demos uma atividade para elas e elas fizeram boas escolhas.

 

 

Brasília é uma galeria de inspirações porque existem vários artistas em atividade, o que mostra que existe vida na cidade, o que é bem legal. Atualmente têm surgido vários trabalhos de qualidade, tanto na questão técnica quanto em relação à personalidade.

Existe em Brasília um trabalho com estética autoral, o que é muito importante. Brasília é uma cidade moderna e daqui a 30 anos vai continuar sendo. Essa característica meio atemporal me chama muito a atenção. Você conseguir fazer uma coisa hoje que continue sendo atual lá na frente…

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Todo lugar que a gente vai, São Paulo, por exemplo, tem muito da arte europeia inserida na cidade, Brasília, não. Tem uma originalidade que é só dela. Tanto que todo mundo que vem aqui fala isso. ‘Ah, é uma cidade futurista’. É bom ouvir as pessoas elogiando a cidade.

E esse céu… Essa coisa de você olhar 360 graus e conseguir olhar o horizonte. A arquitetura não interfere, mas ela compõe com a questão natural. Brasília tem me construído como artista. Eu desejo não ter que sair daqui, mas, também, que eu possa levar as coisas boas para fora. Mostrar pro mundo todo o valor que a gente tem.”

Mikael Omik, 26 anos, artista plástico, mora no Guará

  • Depoimento concedido à jornalista Gizella Rodrigues