Em entrevista à AGÊNCIA BRASÍLIA, o secretário de Obras, Oto Silvério, fala do comitê de infraestrutura e das ações intensificadas para o período chuvoso no Distrito Federal.

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22/10/2011 às 03:00

Medidas emergenciais

Em entrevista à AGÊNCIA BRASÍLIA, o secretário de Obras, Oto Silvério, fala do comitê de infraestrutura e das ações intensificadas para o período chuvoso no Distrito Federal.

Por


. Foto: Mary Leal

Dalila Góes, da Agência Brasília

“A sociedade pode nos ajudar não jogando lixo nas ruas. Mas quando falo disso não me refiro só à pessoa que atira sujeira pela janela do carro. Nas tubulações de drenagem pluvial são encontrados colchões, sofás, caixas e muito entulho”

Há pouco mais de 70 dias à frente da Secretaria de Obras, Oto Silvério tem como uma de suas grandes missões neste período enfrentar as chuvas, ou melhor, responder por um comitê de infraestrutura que visa reduzir os transtornos causados pela água. Ações de rotina com as operações tapa-buraco, roçagem e desobstrução das redes de drenagem pluvial foram intensificadas e desde o dia 15 de outubro equipes das secretarias de Obras, de Transporte, de Planejamento, além da CEB, Caesb, Novacap, Adasa, Detran, DER, Defesa Civil, Metrô e Corpo de Bombeiros trabalham todos os fins de semana para minimizar os efeitos de inundações e alagamentos.

Em uma cooperação mútua, o secretário tem em suas prioridades áreas problemáticas, como os loteamentos Por do Sol e Sol Nascente, em Ceilândia, onde duas casas desabaram com a tempestade da madrugada dos dias 17 para 18 de outubro. O asfalto na região também está infiltrado e a falta de drenagem pluvial é preocupante. Para esta área e tantas outras há o programa Águas do DF, com investimento de cerca de R$ 360 milhões. É sobre esta e outras medidas que o secretário de Obras conversa com a AGÊNCIA BRASÍLIA neste domingo.

Por que um comitê emergencial para a chuva?

Cabe ao vice-governador Tadeu Filippelli a coordenação das ações de infra-estrutura no DF, onde estão, por exemplo, empresas como a Caesb, CEB, Novacap, além das secretarias de Transporte e de Obras. Essa equipe já se reúne desde o começo do governo para avaliação de ações, mas nesta época os encontros se intensificam. Em qualquer lugar do Brasil ou do mundo, é no período de início de chuva, ou de uma grande mudança climática, que acontecem grandes prejuízos ou tragédias: aumenta o número de acidentes, engarrafamentos, deslizamentos… A intenção agora é promover uma maior rapidez nestas ações.  

E qual a prioridade agora?

São três as prioridades que hoje estão depositadas sobre responsabilidade da Novacap: a limpeza das bocas de lobo, a manutenção do sistema de drenagem pluvial e a roçagem, ou seja, o ajardinamento da poda de mato, que cresce muito mais rápido neste período chuvoso. São ações de manutenção, feitas desde o período da seca, mas que trazem mais problemas durante a época das chuvas. Outras ações acontecem de forma complementar: como o monitoramento de energia elétrica e também dos níveis de água, os sinais de trânsito que não funcionam por conta disso, a pavimentação de vias, a sinalização… Aqui temos o reforço da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, do Detran, da Adasa e do Metrô, porque nos preocupa bastante o fluxo de água nas estações e o funcionamento dos trens, que dependem de eletricidade.

Há algum mapeamento de pontos críticos para o período chuvoso no Distrito Federal?

Há em Brasília, uma cidade construída há pouco mais de 50 anos, um sistema crônico de falta de drenagem pluvial adequada. E este problema só se agrava com o passar dos anos.  Veja só: todos os anos aumentam o número de veículos em circulação, de prédios construídos, pistas pavimentadas, e, como consequência, temos também um aumento na área impermeabilizada gerando um maior volume de água na superfície. No Plano Piloto são três os pontos cruciais: na Asa Norte, nas quadras 10 e também 1 e 2, e no meio da Asa Sul. Em Taguatinga, são as avenidas Samdu, Comercial e Hélio Prates. Sem falar nas áreas de assentamento irregular que não têm nenhuma área de drenagem, que são os condomínios Por do Sol e Sol Nascente, em Ceilândia. Para estes pontos, que não são os únicos, mas são os mais problemáticos, existe um programa chamado Águas do DF que tem recursos da ordem de R$ 360 milhões para serem gastos em até dois anos e meio. Nos próximos 30 dias teremos a licitação para trabalhar nestas áreas específicas. Está prevista a construção de bacias de contenção e filtros, que vão reter resíduos sólidos para que não passem para o Lago Paranoá; e também de depósitos, para ajudarem a segurar a força da água. É importante também destacar que esta falta de drenagem pluvial em Brasília não é diferente das grandes cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Vou ser muito sincero, antigamente isso não era visto nos governos porque simplesmente não dava voto, ou quando era feito era de forma inadequada. Essa falta de drenagem pluvial é que faz as águas invadirem carros e casas, traz demolições e que nos mostra aquelas imagens desesperadoramente tristes.  Sistema de drenagem pluvial é uma tubulação que fica enterrada no chão e que por intermédio das bocas de lobo recebe a água e deposita no lugar correto, isso, claro, em condições normais de chuva.

Então o que acontece no Sol Nascente é falta de drenagem pluvial?

Em qualquer empreendimento é natural que se tenha ruas e que as próprias ruas sirvam como um corredor de escoamento que trabalha juntamente com as bocas de lobo. Quando a construção é irregular, como no Sol Nascente e no Por do Sol, também é natural que as águas corram pelas ruas ou pelos becos. Mas o que se vê ali são casas no meio de becos e muros desordenados que empoçam a água. Daí o que acontece? O muro não resiste à força da água empossada que só aumenta com a que está caindo. A partir daí originou-se uma tragédia: casas destruídas. Felizmente ninguém se machucou ou morreu. Mas é uma sorte com a qual não se pode contar sempre. A Defesa Civil interditou mais casas no Sol Nascente e estamos providenciando a remoção das famílias.

Mas para uma construção nova, regularizada, como o Setor Noroeste, por exemplo, é exigido dos construtores um sistema de drenagem pluvial adequado?

Sim, o governo faz o projeto e coloca no valor da venda dos lotes o valor da drenagem pluvial. Assim como o governo exige que seja colocado abastecimento de água, sistema de coleta de esgoto e de iluminação pública. O Noroeste está sendo construído assim. Em loteamento irregular, ninguém se preocupa com isso. Mas veja outro exemplo: em um Setor Comercial Sul, que tem pouquíssima oferta de lotes e ainda por cima um sistema de drenagem antigo e insuficiente, cada nova construção será um problema. Hoje, a única coisa que se pode pedir a quem construirá um prédio neste local é a responsabilidade de se captar a água ao redor e direcioná-la para o sistema de drenagem. É o que acontece na Asa Norte, na Asa Sul e em Taguatinga.

Mas o Por do Sol e o Sol Nascente serão regularizados?

Os dois loteamentos serão regularizados, mas a regularização tem limites calculados pela Secretaria de Meio Ambiente: são as casas construídas que não trazem risco para os moradores e que também não contribuem de forma negativa com as nascentes das águas. Acredito que com o programa Água do DF, cerca de 90% ou 95% das áreas terão obras de drenagem pluvial.

Como a sociedade contribui para se diminuir os transtornos da chuva?

A principal delas é não jogar lixo nas ruas. Mas quando falo disso não estou só me referindo à pessoa que atira sujeira pela janela do carro. Você não tem ideia, mas nas tubulações de drenagem pluvial são encontrados colchões, sofás, caixas e muito entulho. Por exemplo: a pessoa que faz uma obra em casa. Ela gasta um valor em material de construção e mão de obra, mas quando vai derrubar uma parede, prefere jogar o entulho em área pública ou no bueiro. Isso acontece demais. No período de seca tentamos desobstruir todas as bocas de lobo, são cerca de 25 mil em todo o DF. E o que sai de lá nos surpreende.  Para não falar em “obras” executadas pela própria população. Veja só: há uma semana recebemos um chamado em Samambaia de inundação em uma área que nunca nos deu problema. Quando chegamos lá constatamos que as bocas de lobo estavam fechadas, tapadas com cimento. O que aconteceu? Alguns moradores fizeram rampas de acesso às suas garagens em cima das bocas de lobo. De seis bocas, cinco foram inutilizadas. A população pode nos ajudar denunciando estas ações irregulares, colaborando com a limpeza, fazendo também a sua parte.