Documentário é o destaque da programação deste domingo (2) do 44º Festival de Brasília

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02/10/2011 às 03:00

Festival exibe “Rock Brasília” para o público

Documentário é o destaque da programação deste domingo (2) do 44º Festival de Brasília

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Se você pensa que o título de Capital do Rock ficou esquecido em algum momento da história de Brasília, está enganado. É verdade que os tempos mudaram, bem como os fãs, a indústria, o modo de fazer, o palco e até mesmo os artistas, protagonistas de uma história que começou na segunda metade da década de 1970 e que o cineasta Vladimir Carvalho reconta no premiado longa-metragem “Rock Brasília – Era de Ouro”.

O público poderá assistir neste domingo (2/10), às 17h30, no Cine Brasília, à pré-estreia daquele que foi considerado pelo júri do Festival de Paulínia (SP), em junho, o melhor documentário de 2011. Com a chegada ao circuito comercial marcada para o dia 21 de outubro, nada mais justo que realizar em telas brasilienses a première. Sua primeira exibição por aqui foi na última segunda-feira (26/9), durante a solenidade de abertura do 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, restrita a convidados. Agora, é a vez de quem realmente o filme procura atingir: o grande público de rock.

“É um reencontro com a história, de forma apaixonada e bela. Quando as bandas de Brasília surgiram, nós estávamos na transição da ditadura para um Estado democrático. Ao contar a história dessa rapaziada, nos debruçamos sobre o passado da nossa capital”, destacou Vladimir.

Para o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, “o documentário retrata a identidade da nossa capital, que é também a nossa identidade. Estabelece uma relação muito interessante entre a cultura brasiliense e a vida política da cidade. Certamente será um grande representante de Brasília quando estrear nos cinemas.”

A partir de depoimentos de integrantes das bandas que participaram da gênese do rock nacional – o chamado BRock –, de familiares, fãs e até mesmo de figuras controversas da História do Brasil, como o general Newton Cruz, o documentário reconstrói os caminhos trilhados pela Turma da Colina até o auge e indica razões para a decadência do estilo, nos anos 90. “Esse projeto esperou 23 anos para ser concluído. Eu o retomei a partir dos registros feitos em 1987 e que, felizmente, estavam intactos”, explicou o diretor, que retomou em 2009 a montagem do documentário.

O líder da Plebe Rude, Phelippe Seabra, revela o seu trecho preferido do filme: aquele em que Renato Russo declama a letra de “Há Tempos” e diz que o chamam de Olavo Bilac do rock: “Incrível! Que erudição dele! O segredo era a inspiração. Ninguém copiava nada, não havia banda cover.”

Turma da Colina – A geração de músicos que se formou nos blocos de apartamentos funcionais da Universidade de Brasília, a Colina, entrou para a história sob o pseudônimo Turma da Colina. O principal resultado da turma foi a formação da banda que deu início ao BRock – a geração do rock com identidade nacional –, o Aborto Elétrico, formada em 1978. Entre os integrantes, estavam Renato Russo, André Pretorius, os irmãos Fê e Flávio Lemos, e Ico Ouro Preto. Com o fim do Aborto Elétrico, em 1982, Renato seguiu numa curta carreira solo como Trovador Solitário, até formar a Legião Urbana, no mesmo ano. André voltou à África do Sul, seu país de origem.

Já Fê e Flávio, formaram junto com Dinho, irmão de Ico, o Capital Inicial. Os amigos deles também se reuniram para montar bandas que são referências para os roqueiros brasileiros até hoje, como Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Escola de Escândalos e muitas outras.

Toda a história da Turma da Colina é contada no livro “O Diário da Turma 1976/1986: A História do Rock de Brasília”, de Paulo Marchetti, lançado em 2001, a partir de depoimentos e fotos históricas.

Panorama atual – Como diz o filme, o rock de Brasília tinha raízes no movimento punk, que prega, desde os anos 1970, a máxima do “faça você mesmo”. É o que ocorre até hoje em qualquer movimento independente relacionado aos mais diversos campos artísticos. A capital do país, no entanto, possui peculiaridades que tornam a produção cultural muito efusiva, plural e sofisticada, mas, ao mesmo tempo, de difusão extremamente difícil.

De acordo com o líder da Plebe Rude, Philippe Seabra, “se um artista tem alguma coisa eminente dentro dele, vai manifestá-la. No nosso caso, os militares estavam no poder e Brasília era isolada cultural e fisicamente. Era muito caro vir para cá e, graças ao pessoal das embaixadas, conseguíamos sempre nos manter atualizados culturalmente. Recebíamos material de vários países, muito antes de quem morava no Rio ou em São Paulo.”

Além de ser região de grande poder aquisitivo (o que propicia a aquisição de bons equipamentos, o acesso à tecnologia e a cobrança de cachês mais justos), Brasília concentra grande quantidade de imigrantes dos diversos estados do Brasil e de outros países. Esse caldeirão cultural faz com que a produção local seja cosmopolita e se destaque pela grande diversidade.

Ao mesmo tempo, a capital está fora do tradicional eixo cultural e econômico do Brasil, o Rio-São Paulo. Tem entrado na rota dos grandes shows nos últimos anos, mais por sua força econômica do que pelo seu destaque artístico. Essa distância vai se encurtar a partir do fim do ano que vem, quando o Estádio Nacional de Brasília será entregue à população pelo Governo do Distrito Federal e, finalmente, o brasiliense terá um espaço adequado para receber grandes eventos, incluindo os grandes shows internacionais e os megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo de 2014.

Longe de beneficiar somente os grandes artistas, colocar a capital de todos os brasileiros no roteiro dos grandes shows, manterá em evidência todos os artistas do DF, que vão ganhar mais visibilidade e espaço. Atualmente as bandas autorais precisam se contentar com locais sem estrutura, com exceção do festival Porão do Rock, que ainda é a grande vitrine dos músicos independentes da região, com repercussão não apenas no Brasil, mas também na América Latina.

Há também um grande espaço a ser reconquistado na mídia. Afinal, há somente uma rádio comercial que valoriza, de fato, a produção local: a Rádio Cultura FM. Resta aos artistas independentes recorrer à divulgação por meio das redes sociais, que funcionam hoje de modo semelhante aos fanzines de duas ou três décadas atrás.

Veja o Treiler do filme Rock Brasília – Era de Ouro

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PEcvjN7s260

Ficha

Rock Brasília – Era de Ouro

Direção: Vladimir Carvalho

Gênero: documentário

Duração: 111 minutos

Classificação etária: 12 anos

SERVIÇO

44* Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Mostra Panorama Brasil

Domingo, 2 de outubro, às 17h30

Local: Cine Brasília – EQS 106/107, Asa Sul

Entrada franca

Classificação: 12 anos