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07/01/2016 às 18:02
Cerca de 30% a 40% dos usuários tratados na rede pública alcançam recuperação. Há oito unidades espalhadas no DF destinadas a crianças, adolescentes e adultos
Eles chegam como zumbis. Caminham aos tropeços. Levam consigo o meio em que vivem, os abusos sofridos, as negligências vivenciadas e a curiosidade viciante. Características gerais, mas que podem descrever casos de pacientes atendidos nos oito centros de atenção psicossocial de álcool e drogas do Distrito Federal (CAPs-AD). Dos 14 centros, 8 se destinam a tratar dependentes e 6, doenças mentais.
A idade limite para ser atendido nos centros infantojuvenis é de 18 anos, mas não há idade mínima. O caso mais novo foi de um menino de 8 anos. Há atendimento ambulatorial, exceto na desintoxicação — que requer duas semanas de internação. De acordo com a Secretaria de Saúde, cerca de 30% a 40% dos usuários tratados pelo serviço ambulatorial têm se recuperado.
Segundo a pasta, os oito CAPs-AD atendem em média 450 pessoas mensalmente e possuem equipe multidisciplinar. Os tratamentos são feitos por terapeuta ocupacional, psiquiatra, psicólogo, enfermeiro, clínico-geral e assistente social. Segundo a chefe de enfermagem do centro da Asa Norte, Letícia Rodrigues Cipriano, o atendimento aos usuários, especialmente adolescentes, deve ser feito com a participação da família, pois o consumo de drogas pode ter influência do ambiente social. “A criança é fruto do meio, e a família que adere ao tratamento traz muito mais resultados.” Letícia citou o caso de um garoto de 10 anos, encaminhado pelo conselho tutelar, e cujo pai também faz uso de drogas.
Vida arriscada
No CAP da Asa Norte, encontram-se Izabel, Miguel, Sofia e Maomé (nomes fictícios). Izabel usou maconha pela primeira vez aos 9 anos. Ela cresceu em um abrigo e foi adotada. Relata violência e agressões pela mãe adotiva e, por isso, fugia de casa. Nas ruas, experimentou maconha. Hoje, aos 17 anos, voltou a morar no abrigo e é mãe de uma criança de 2 anos e 8 meses.
“Quis parar mesmo por causa do meu filho”, admite a moradora de Ceilândia. O conselho tutelar sugeriu que ela frequentasse o centro, o que faz há dois anos e percebe mudanças no próprio comportamento. “Aumentou minha confiança em parar de usar, e eu também era muito estourada, nem conseguia conversar direito.”
Bebida e LSD
Miguel, de 17 anos, decidiu procurar o CAP por conta própria. Ele disse que começou com o álcool aos 15 anos. Em seguida, vieram a maconha, o LSD e a cocaína. Depois de ter sido apreendido no carnaval do ano passado, na unidade de internação, foi-lhe indicado o centro.
O adolescente conta que procurou ajuda para melhorar a relação familiar: “Estava dando muito problema para a minha mãe e queria que ela tivesse orgulho de mim”, reconhece. “Tinha vontade de conversar com um psicólogo.”
O rapaz é skatista, mora em Sobradinho II e quer seguir carreira profissional no esporte. Acredita que a atividade também contribuiu para diminuir o consumo de drogas. Há dois meses no CAP, sente-se mais calmo e faz parte de grupos em busca de atividade remunerada — como emprego, estágios e o programa federal Jovem Aprendiz.
Fuga de casa
Para Sofia, de 14 anos, o vínculo com o centro ocorreu de forma diferente. Ela foi encaminhada pelo conselho tutelar assim que a mãe descobriu o uso de maconha. Agora, a garota frequenta o local por vontade própria: “No começo, não gostava porque era obrigada, mas tinha que vir”.
A adolescente conta que nem sempre foi de seguir regras e era comum fugir de casa: “Já fiquei um mês fugida, pulando de casa em casa. Ia para a minha avó, depois para a de outra pessoa”. Os pais dela participam do acompanhamento familiar: “Eles vêm mesmo por minha causa”, alegra-se a moradora de Sobradinho.
Indicação da igreja
Assim como Miguel, Maomé (nome fictício), de 14 anos, também já foi apreendido. Segundo o jovem, ele estava com posse de drogas e foi levado a uma das unidades de internação do DF. Com isso, a família, que vive em Sobradinho, descobriu que Maomé, desde os 11 anos, fazia uso de maconha, cigarro, lança-perfume, LSD, cocaína e Rohypnol — potente medicamento tarja preta, usado em golpes como o chamado Boa-noite, Cinderela.
A indicação do centro veio da pastora da igreja, que trabalha no conselho tutelar. Maomé está em tratamento há dois meses e afirma não usar mais entorpecente: “Gosto mais não”, garante. “Quando vejo alguém usando, falo coisas que escuto na igreja e oriento para procurar o CAP.” O adolescente também faz parte de grupo voltado à busca de atividade remunerada. Está prestes a tirar a primeira carteira de trabalho.
Trabalho em grupos
Além dos acompanhamentos multidisciplinares, há trabalhos em grupo e oficinas que estimulam a socialização e lidam com a experiência de cada um. Entre os projetos, destacam-se o grupo Saiba Mais, que explica e tira dúvidas sobre os efeitos das drogas no organismo; e Sexualidade, que alerta sobre abusos, prevenções de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.
Os trabalhos Projeto de Vida e Primeiro Emprego também são voltados aos adolescentes e direcionados à vida profissional. Há aulas sobre como fazer um currículo e se preparar para uma entrevista de emprego. Na Asa Norte, ainda existe um grupo voltado à comunidade — aberto à população em geral — que trabalha na prevenção do tabagismo. Os encontros ocorrem uma vez por semana, e as reuniões de 2016 devem recomeçar em 13 de janeiro.
Como funcionam os CAPs
1-CAP-AD Infantojuvenil III Brasília
Para crianças e adolescentes de até 18 anos incompletos
Acolhimento e funcionamento: de segunda a sexta, das 7 às 18 horas
Funcionamento: de segunda a sexta, das 7 às 18 horas
Documentos: identidade ou certidão de nascimento e comprovante de residência
Quadra 714/715 Norte, Bloco C, Lojas 1, 2 e 3, Asa Norte
Contato: (61) 3349-2061
2-CAP-AD Ceilândia
Para adultos acima de 18 anos
Acolhimento: diariamente, das 7 às 21 horas
Funcionamento: 24 horas
Documentos: não são obrigatórios, mas o ideal é levar o cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), identidade e comprovante de residência
QNN 1, Conjunto A, Lote 45/47, Avenida Leste
Contato: (61) 3372-1091 e 3373-2179
3-CAP-AD Itapoã
Para adultos acima de 18 anos
Acolhimento: de segunda a sexta, das 8 às 18 horas. Exceto na terça-feira à tarde (casos emergenciais)
Funcionamento: de segunda a sexta, das 8 às 18 horas
Documentos: cartão do SUS, identidade e comprovante de residência
Anexo II, Complexo Administrativo do Itapoã, Quadra 378, Conjunto A, Área Especial 4, Lago Oeste
Contato: 3369-9438 e 3369-9428
4-CAP-AD III Rodoviária ou CAP Candanga
Para adultos acima de 18 anos
Acolhimento: diariamente, das 7 às 19 horas
Funcionamento: diariamente, 24 horas
Documentos: sem necessidade
Há leitos para acolhimento noturno ou desintoxicação
Setor Comercial Sul, Quadra 5, Bloco B, Loja 73
Contato: 3326-4631
5-CAP-AD III Samambaia
Para adultos acima de 18 anos
Acolhimento e funcionamento: diariamente, das 7 às 19 horas
Documentos: identidade
QS 107, Conjunto 7, Lotes 3, 4 e 5 (ao lado da unidade de pronto-atendimento — UPA)
Contato: (61) 3459-2581
6-CAP-AD de Santa Maria
Para adultos acima de 18 anos
Acolhimento: de segunda a sexta, das 7 às 22 horas. Exceto na quinta-feira
Funcionamento: de segunda a sexta, das 7 às 22 horas
Documentos: identidade ou documento com foto
Quadra 312, Conjunto H, Casa 12, Santa Maria Norte
Contato: (61) 3394-3968 e 3394-2513
7-CAP-AD Sobradinho
Para adultos acima de 18 anos
Acolhimento e funcionamento: de segunda a sexta, das 7 às 12 horas e das 13 às 18 horas. Exceto na quinta-feira
Documentos: não são obrigatórios, mas é recomendável levar identidade e comprovante de residência
Área Residencial 17, Chácara 14, Sobradinho II
Contato: (61) 3901-3325 e 3901-3328
8-CAP-AD Infantojuvenil III Taguatinga
Para crianças e adolescentes de até 18 anos incompletos
Acolhimento: diariamente, das 7 às 19 horas
Funcionamento: diariamente, 24 horas
Documentos: identidade e cartão do SUS
QNF Área Especial 24, Setor F, Norte
Contato: (61) 3562-7510
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