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04/10/2022 às 18:18, atualizado em 10/10/2022 às 17:33
Desde 2009, o centro conta com enfermeiras obstetras assistindo partos normais de mulheres de São Sebastião, Paranoá, Itapoã, Jardim Botânico e Jardins Mangueiral
Brasília, 29 de setembro de 2022 – A Casa de Parto de São Sebastião chegou em setembro a uma marca histórica. A unidade completou a realização de cinco mil partos. Trata-se do único centro público no Distrito Federal dedicado a partos normais com uma equipe composta apenas por enfermeiros e técnicos de enfermagem especializados em obstetrícia. O formato surgiu em 2009, oito anos após a fundação da casa, quando os médicos especialistas foram realocados para o Hospital do Paranoá. A mudança foi a forma de manter o serviço obstétrico na região administrativa.
“É um momento de festa, de ter ajudado cinco mil mulheres e cinco mil bebês a virem ao mundo de forma muito respeitosa”, afirma a gerente da instituição, a enfermeira obstetra Clarice Maciel Lucio. “É o que a gente tenta trazer, respeitar o processo fisiológico, as vontades da mãe e as necessidades do bebê ao nascer. São cinco mil bebês que nasceram da forma mais feliz que a gente pôde proporcionar para eles.”
O parto de número 5.000 foi o da pequena Ariela Fontenele da Silva Fonseca, filha do casal Nathália Fontenele Fonseca, 21 anos, e Luís Fernando de Oliveira Silva, 28. O nascimento da bebê na Casa de Parto de São Sebastião acabou acontecendo por acaso. Estava tudo encaminhado para que Nathália fosse até o Hospital da Asa Norte (Hran), mas o marido havia ouvido falar da unidade em São Sebastião e sugeriu a troca. O casal se mudou recentemente para Morro Azul, comunidade que faz parte da região administrativa.
“A gente estava pronto para ir para o Hran”, conta Nathália. “Minha mãe e meu marido conversaram comigo para tentarmos ir até a Casa de Parto, já que estava mais perto e eu estava com muita dor. Fui e deu certo. Gostei muito do atendimento. Elas [as enfermeiras] são muito boas e foram muito pacientes comigo. Eu pedia para tentar uma cesárea, mas elas conversavam muito comigo, me deram orientações, e consegui fazer o parto normal.”
Nathália ficou dez horas em trabalho de parto. “Eu tinha na minha cabeça que eu ia sentir muita dor, mas foi completamente diferente”, comenta. “Eu não sei nem explicar tudo que passei, mas o parto humanizado me passou muita confiança. Foi tudo natural, e logo peguei minha filha no colo, pude senti-la em mim. Foi algo surreal”.
Ao lado de Nathália durante todo o processo, Luís Fernando conta que foi uma experiência muito boa: “Ela é a minha primeira filha, então eu estava preocupado e ansioso, mas as enfermeiras ficaram nos auxiliando e orientando. Foi incrível”.
Atendimento
[Olho texto=”“Se a mulher tem uma patologia, se é hipertensa, tem diabetes, HIV positivo e anemia severa ou está com o bebê sentado ou com indicação de cesariana, a gente encaminha para o hospital. A gente fica com aquelas mulheres nas quais o parto é para ser natural mesmo” ” assinatura=”Clarice Maciel Lucio, gerente da Casa de Parto de São Sebastião” esquerda_direita_centro=”direita”]
Localizada no mesmo prédio da Policlínica de São Sebastião, a Casa de Parto funciona 24 horas e conta com três salas para atendimento prévio e quatro salas de parto, uma delas com uma banheira para as mães que desejam fazer o procedimento na água.
São atendidas apenas as grávidas com baixo risco no parto – determinação que garante a segurança no procedimento feito pela equipe de enfermagem obstétrica – e moradoras das localidades que integram a Região Leste de Saúde: São Sebastião, Jardins Mangueiral, Jardim Botânico, Itapoã e Paranoá. Como a casa não faz pré-natal, a maior parte das pacientes reúne moradoras de São Sebastião ou mulheres encaminhadas previamente a palestras para tirar dúvidas e conhecer o centro de parto.
Por mês, são realizados em média 35 partos, totalizando cerca de 420 por ano. Em cada plantão, há duas enfermeiras obstetras e dois técnicos em enfermagem para atender as mães com o prato normal e natural – ou seja, sem a aplicação de medicamentos.
“A gente tem um protocolo bem rígido”, explica a gerente da Casa de Parto. “Se a mulher tem uma patologia, se é hipertensa, tem diabetes, HIV positivo e anemia severa ou está com o bebê sentado ou com indicação de cesariana, a gente encaminha para o hospital. A gente fica com aquelas mulheres nas quais o parto é para ser natural mesmo.”
A medida garante a segurança das mulheres e dos bebês. Mesmo assim, caso seja preciso, há uma ambulância à disposição para encaminhar os pacientes para o hospital. “Temos muitos dados, números e indicadores que provam que é uma assistência segura”, aponta Clarice. “Noventa e sete por cento dos nossos bebês nascem com apgar [teste que avalia frequência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor da pele dos bebês entre o primeiro e o quinto minuto de existência] acima de 7, o que mostra que a assistência foi dada de forma correta. A gente tem indicador para tudo, justamente para provar que o nosso serviço é diferenciado”.
De acordo com a gerente, desde 2009, quando a enfermagem assumiu a instituição, não foram registradas mortes. O número de laceração – rompimento da pele ou de outras estruturas do períneo para que o bebê consiga sair – é muito pequeno, e as mulheres escolhem a posição do parto – há mais registros de nascimento em posições verticais, de cócoras e de quatro apoios do que na cama. Além disso, há dois anos, a casa não registra episiotomia, corte cirúrgico efetuado no períneo para ampliar o canal de parto.
Tratamento diferenciado
[Olho texto=”Mãe e bebê recebem alta, normalmente, em 24 horas, tempo durante o qual a equipe aplica nos recém-nascidos a vacina BCG e marca o teste da orelha no Hospital do Paranoá” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Durante todo o trabalho de parto, as mães são escutadas. A equipe respeita a posição em que elas querem ficar e também permite que se alimentem e estejam 24 horas com os acompanhantes. Após o nascimento, elas são incentivadas a ficar um hora com o bebê, e o cordão umbilical é cortado apenas depois do fim da pulsação. Clarice explica: “Esse contato pele a pele ajuda no início da amamentação e em toda a relação de mãe e bebê. Também é importante para a adaptação da vida extrauterina do bebê. Chamamos essa primeira hora de golden hour, porque ela é muito importante”.
Depois desse período, os bebês são pesados, medidos e vacinados contra a hepatite B (primeiro imunizante do calendário vacinal). Também são feitos os testes do pezinho e do coração. Como mãe e bebê costumam receber alta em 24 horas, a equipe também aplica nos recém-nascidos a vacina BCG e marca o teste da orelha no Hospital do Paranoá. Na porta da casa de parto, também há um cartório que funciona às segundas, quartas e sextas-feiras, o que permite que muitas crianças já saiam registradas da unidade.
As mães são orientadas a voltar com os bebês dez dias após o parto. “A gente pede para elas voltarem para a primeira consulta do puerpério para ver se está tudo bem, se a amamentação está legal”, conta a gerente. “A gente faz esse retorno e o resto da assistência é na própria UBS [unidade básica de saúde]”.
O local conta ainda com um ponto de coleta de leite humano para consulta em amamentação, auxílio e acompanhamento de mães e bebês com dificuldades na amamentação, além de captação, cadastro e acompanhamento de doadoras de leite humano e bate-papo sobre amamentação.