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17/10/2016 às 09:01, atualizado em 23/03/2017 às 09:27
Atenção primária tem cobertura de cerca de 70% no Riacho Fundo II. Região recebeu média 9 da população durante auditoria cívica sobre o tema
A visita parece informal. Na sala de casa, Maraísa da Silva Pereira, de 30 anos, mostra como está o filho, Kauã, de 6 meses. O menino é acompanhado desde recém-nascido por uma das 14 equipes de Saúde da Família existentes no Riacho Fundo II. A região administrativa foi objeto de auditoria cívica na saúde básica feita em junho — o relatório foi entregue em 7 de outubro. A média de nota dada pelos moradores da região foi a maior (9) entre as mais de dez localidades visitadas.
As equipes do programa Saúde da Família no Riacho Fundo II são divididas em cinco unidades básicas. A cobertura da atenção primária chega a cerca de 70% da população local. O grupo que atende Maraísa, formado por uma médica, uma enfermeira, três auxiliares de enfermagem e cinco agentes comunitários de saúde, tem 4.170 pessoas cadastradas.
No caso do Riacho Fundo II, o acompanhamento é ainda mais rigoroso quando se trata de gestantes, crianças, hipertensos, diabéticos, acamados ou de pessoas com dificuldade de locomoção.
Nos dois últimos casos, geralmente o encontro ocorre na casa dos pacientes, com visita marcada. Para quem tem até 5 anos de idade, como Kauã, a consulta é pré-agendada e costuma ser na unidade básica de saúde. “É para acompanharmos o crescimento e o desenvolvimento da criança”, explica a enfermeira Ivone Pereira de Carvalho Sena, que, há seis anos, é membro de uma das equipes no Riacho Fundo II — a que atende o bebê de Maraísa.
[Olho texto=”A cobertura da atenção primária atualmente chega a cerca de 70% da população do Riacho Fundo II” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Antes de integrar a Estratégia Saúde da Família, Ivone trabalhou em outras áreas da rede pública, e, para ela, a diferença no tipo de atendimento é nítida. “Eu aqui conheço as pessoas de quem cuido, o contexto e a realidade familiar delas.” Para a enfermeira, esses detalhes são essenciais para uma política de prevenção e cuidado efetivo. “Às vezes, uma criança com tosse excessiva pode ser atendida com antibiótico no pronto-socorro, mas, na verdade, o problema é um parente que mora com ela e fuma, e o remédio não vai resolver”, exemplifica. “Por isso, é importante saber sobre a vida dos pacientes e tratar os males integralmente.”
Segundo Ivone, apenas episódios que não conseguem ser resolvidos na equipe são encaminhados para outras especialidades — o que é raro, diz a profissional. Nos últimos três meses, por exemplo, as crianças atendidas pela equipe não precisaram da intervenção de outro profissional.
Kauã é um desses. Maraísa conta que, desde que nasceu, não levou o filho a nenhuma emergência. “Sempre vou aonde a equipe está, mesmo quando não tenho consulta marcada, e sou atendida”, conta, ao lembrar que já chegou a levar o filho todos os dias, por uma semana, à Unidade Básica de Saúde 3 do Riacho Fundo II, onde faz acompanhamento. “Ele estava com febre, e a equipe ficou acompanhando.” Segundo ela, esse cuidado mais próximo lhe permitiu aprender a observar o filho com atenção apurada, perceber situações mais simples e evitar o uso de remédios.
O trabalho da estratégia vai além de cuidar dos sintomas de qualquer doença. Com grupos para gestantes e de combate ao tabagismo, também se investe em prevenção. As equipes oferecem ainda práticas integrativas como automassagem, lian gong e shantala. A última técnica tem, inclusive, ajudado a mãe de Kauã.
Segundo ela, o filho quase não chora mais e tem se desenvolvido com rapidez. “Ele já não tem mais dificuldade para sentar, ensaia falar e pega as coisas sem precisar apontar.” Os avanços obtidos pelas massagens suaves foram também em relação à saúde. “O intestino tem funcionado melhor; ele fica menos inchado, com menos cólica.”
A shantala é originária da Índia e feita pelos pais ou cuidadores. A técnica é ensinada às mães atendidas pela equipe de Ivone há cerca de quatro meses, desde que a técnica de enfermagem Mirian Reis da Silva chegou ao local. “Nós sempre valorizamos os dons de cada profissional, pois cada um, em seu território, pode fazer a diferença”, comenta a gerente de Serviços de Atenção Primária 2 do Riacho Fundo II, Simone Lacerda.
Todas as mães com crianças de até 6 meses vão participar da capacitação. Até agora, quase 20 tiveram contato com o método.
[Olho texto=”“Nós sempre valorizamos os dons de cada profissional, pois cada um, em seu território, pode fazer a diferença.”” assinatura=”Simone Lacerda, gerente de Serviços de Atenção Primária 2 do Riacho Fundo II” esquerda_direita_centro=”direita”]
Gilson Ribeiro da Silva, de 43 anos, trabalha no protocolo da Administração Regional do Riacho Fundo II, onde a gerência de Simone funciona atualmente. Ele tem pressão alta e preocupou os servidores da atenção básica que atendem na região. Há três semanas, Gilson participa das aulas de lian gong no pátio da administração. A prática corporal tem como base a medicina tradicional chinesa. “As melhoras têm sido mentais e corporais. Não tenho mais tanta dor na articulação, estou mais relaxado.”
Depois de perceber que os pacientes na porta do consultório para tratar a hipertensão eram os mesmos, apesar da lista variada de cadastrados, a equipe de Ivone decidiu mudar a forma de atendimento. Investiu um ano em um estudo aprofundado da situação de todos os casos, que são classificados pela gravidade do problema.
Agora, as consultas são marcadas pela equipe, de acordo com o quadro de saúde de cada pessoa. Se alguém falta sem justificativa, os agentes comunitários o procuram em casa para checar se está tudo bem e remarcar o acompanhamento. Com isso, o grupo percebeu uma diminuição considerável no número de pacientes com piques hipertensivos.
De acordo com a gerente de Serviços de Atenção Primária 2 do Riacho Fundo II, Simone Lacerda, na atenção primária é possível resolver de 80% a 85% dos problemas de saúde.
Por isso, a prioridade do governo é dar mais qualidade à porta de entrada da saúde pública e investir no aprimoramento da atenção primária. A meta é estender de 30,7% para 75% a cobertura da Estratégia Saúde da Família no DF até 2018.
Edição: Marina Mercante