29/07/2013 às 15:09, atualizado em 12/05/2016 às 17:48

Central de Intérpretes de Libras ajuda surdos a vencerem obstáculos

Serviço gratuito teve aumento de 200% no atendimento

Por Fábio Magalhães, da Agência Brasília


. Foto: Mariana Raphael – 24/07/2013

 BRASÍLIA (28/7/13) – A dificuldade de comunicação enfrentada por surdos em supermercados, consultórios e outros locais públicos pode ser superada com a ajuda de servidores da Central de Interpretes de Libras, que acompanham, gratuitamente, os deficientes. O serviço teve aumento de 200% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2012.

 

“Já sofri muito por não ter intérpretes e pelas pessoas não entenderem o que digo. O surdo passa por muitas dificuldades que a família e amigos também não podem ajudar por não saberem se comunicar conosco. Os intérpretes mudaram minha vida”, reconheceu a deficiente auditiva Janaína Pereira da Silva, 35 anos.

 

A dona de casa é uma das quase 700 pessoas atendidas mensalmente pelos servidores que integram a Central. Esses trabalhadores têm como principal função o acompanhamento dos surdos em locais que não dispõem de um tradutor de libras, como bancos, fóruns, delegacias, universidades.

 

Mãe de seis filhos -todos ouvintes- Janaína é casada com um surdo que também utiliza os serviços da Central, que precisam ser agendados com, no mínimo, dois dias de antecedência – acompanhamentos que também contam com transporte gratuito para o solicitante até o local do atendimento.

 

A Central está localizada em pontos estratégicos que concentram diversos órgãos públicos, na Praça do Cidadão, na estação do Metrô da 114 Sul, e funciona de segunda a sexta-feira.

 

Para Janaína, que chegou a ser acompanhada pelos intérpretes a hospitais, Centros de Assistência Social, palestras, fórum e até a escola dos filhos, o serviço do GDF dá mais dignidade.

 

“Nos lugares, quando não têm intérpretes por perto, fico desesperada. As pessoas não sabem nos informar direito e às vezes perdemos prazos e benefícios por não ter o entendimento claro. Esse é um trabalho muito bom . Ajuda muito”, acrescentou.

 

O esposo de Janaína, Leonardo Pereira de Oliveira, 35 anos, garante que depois do surgimento da Central de Intérpretes, há três anos, houve uma mudança de vida.

 

“Antigamente, chegávamos aos locais e as pessoas escreviam em papéis, porque não sabiam falar conosco. Agora, ficou muito mais fácil entender as coisas”, desabafou.

 

Auxiliar de suporte de uma instituição de ensino superior do DF, Franklin Lopes de Abreu, 33 anos, compara a Central a um oásis onde ele pode ser compreendido.

 

“O trabalho dos intérpretes é ótimo porque na maioria dos lugares não têm comunicação voltada para os surdos. Os intérpretes facilitam, agilizam os procedimentos e evitam confrontos. Aqui nós conseguimos resolver as coisas.”

 

Abreu visita o Centro com frequência e espera o dia em que todos saberão se comunicar com ele sem a ajuda dos intérpretes.

 

“Seria bom se todas as pessoas aprendessem a se comunicar conosco e se importassem um pouco mais com a gente. O lado bom disso é que hoje temos mais pessoas estudando libras, aprendendo de verdade, que no futuro poderão se comunicar com a gente”.

 

COTIDIANO – Os servidores acompanham os surdos em diversos locais e às vezes se deparam com ocasiões inusitadas. A intérprete Alessandra da Silva, 33 anos, que trabalha na área há 10 anos e há três na Sejus, acha que a dificuldade não é dos surdos, mas dos ouvintes.

 

“Os surdos têm muitos problemas, principalmente nas coisas que são simples para nós ouvintes. Eles sofrem muito e a dificuldade, na verdade, não é deles, mas de todas as pessoas que não sabem a forma correta de se comunicar com eles”, destacou.

 

Segundo Alessandra, que também é casada com um surdo, os intérpretes desempenham um trabalho fundamental na vida dos que solicitam o serviço.

 

“Já tive casos em que chegou um surdo me pedindo para ligar para a mãe, que mora em outro estado, somente para pedir desculpas. A mãe estava muito emocionada, o filho (surdo) também, e eu, que fiz a ligação, tive que segurar as lágrimas. Quando resolvo casos como esse, me sinto realizada”, contou.

 

Presidente da Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos do DF (Apada), Marcos de Brito avaliou como positiva a iniciativa e lembrou que existe grande carência de tratamento especializado a este público.

 

Ele ressaltou que, diante da realidade brasileira, onde existem poucos intérpretes em locais públicos, “a Central é uma grande saída”.

 

“Essa é a melhor forma e a mais eficaz de ter acesso aos serviços com qualidade. Durante a vida inteira eles se habituaram a não serem cidadãos plenamente, e agora, com os intérpretes, viram o quanto perdiam. “Eles eram pessoas ‘presas’ sem saberem que estavam ‘presas'”, comparou.

 

EXPANSÃO – O número de atendimentos da Central de Intérpretes do DF passou de 325 em janeiro de 2012 para 578 no mesmo mês deste ano, aumento que também foi registrado em abril deste ano, com 948 atendimentos, em comparação com o mesmo período de 2012, quando foram feitos 338 acompanhamentos.

 

“Os números são bons, mas melhor que eles é a diminuição das barreiras invisíveis da comunicação e saber que o Estado está patrocinando e promovendo o desenvolvimento dessas pessoas”, destacou o subsecretário interino de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Sérgio Pimentel.

 

O aumento, segundo Pimentel, se deve à qualidade e à maior divulgação do serviço, fator que alavanca a necessidade de expansão do Centro, que está em fase de estudo técnico.

 

“A partir do momento que a Central vai ficando conhecida, a demanda vai aumentando. Temos projetos de expansão e já planejamos instalar uma nova unidade em Ceilândia e no Gama, projetos que estão em fase de viabilidade. Teremos uma dessas unidades inaugurada até dezembro”, garantiu.

 

SERVIÇO

Para solicitar o atendimento da Central o interessado deve agendar pelos e-mails gecil.gdf@hotmail.com e gdf.cil@gmail.com, serviço que conta com webcam.

 

O agendamento pode ser feito também pelos telefones (61) 2104-1185, 9298-7750, pelas redes sociais ou pessoalmente, na estação do Metrô da 114 sul.

 

(M.D.)