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19/08/2017 às 10:20, atualizado em 22/08/2017 às 12:21
Primeiro grupo de voluntários do DF, criado pelo pediatra aposentado Oscar Mendes Moren, nasceu na unidade e até hoje tem impacto valioso na rotina hospitalar
A história do médico aposentado Oscar Mendes Moren, de 87 anos, parece roteiro de filme. Carioca, mudou-se para Brasília em 23 de setembro de 1960 com a missão de estruturar a pediatria da maior unidade hospitalar pública do Distrito Federal, o Hospital de Base.
Mas Moren foi além. Responsável por incluir a psicoterapia na lista de serviços e criar espaço para pais acompanharem filhos durante o tratamento, ele deu o primeiro passo para que voluntários fizessem parte da rotina dos pacientes.
“Todos nós nos perguntamos o que viemos fazer aqui, qual é a nossa função no planeta. Muitas vezes eu me perguntei isso, e a única resposta que achei é que estou aqui para servir o próximo”, revela o aposentado.
O Serviço Auxiliar Voluntário (SAV), criado por Moren com o anúncio de vagas para quem quisesse atuar no hospital, foi o primeiro grupo instituído no DF e até hoje atende na unidade. “Coloquei propaganda nas rádios e nos jornais, explicando o que eles poderiam fazer, para ver quem se interessava.”
O grupo, com cerca de 200 voluntários, que se revezam de segunda a sexta-feira em atividades com foco nos pacientes, começou com 12 pessoas inscritas. Depois de um mês, apenas seis continuaram na causa.
Moren definiu a inclusão do voluntariado como a realização de um sonho. Com o trabalho árduo de quem escolhia para a equipe, o SAV passou a atender em todo o hospital — não mais só na pediatria — e conseguiu, em 1982, ser registrado como entidade sem fins lucrativos.
“Até hoje o SAV é referência para quem está começando”, conta o gerente de Voluntariado da Secretaria de Saúde, Cristian da Cruz Silva. “O que ele [Moren] criou, hoje nós estamos tocando”, diz.
No ano passado, o governo publicou portaria que regulamenta a atividade de voluntário social na Secretaria de Saúde e determina que as atividades sejam administradas pela gerência.
Segundo Silva, o DF tem atualmente mais de 20 associações cadastradas para prestar serviços nas unidades de saúde; quatro atendem no Hospital de Base. São mais de 3 mil voluntários.
Para Moren, o serviço é útil em situações delicadas. “Se não tem um voluntário para ler uma revista, um jornal, para escrever uma carta, o médico não tem condições para fazer isso, nem a enfermagem”, avalia.
“(o voluntariado) Faz um bem tremendo ao paciente, é uma terapia, às vezes melhor até que remédio. Precisamos parar para pensar no quanto podemos fazer pelo bem do outro.”
De família humilde, filho de pai taxista e mãe dona de casa, Moren caracteriza vários instantes da vida como momentos de sorte. Foi em uma dessas ocasiões que ele conseguiu, mesmo sem dinheiro, ir para os Estados Unidos fazer residência em pediatria no The Long Island Jewish Hospital.
[Olho texto='”Vi (em Nova Iorque) o poder de uma comunidade forte, que não deixa tudo sob responsabilidade do governo e participa da realidade de onde vive”‘ assinatura=”Oscar Mendes Moren, médico aposentado, pioneiro na introdução do voluntariado na rotina do Hospital de Base” esquerda_direita_centro=”direita”]
Em Nova Iorque, ele conta ter aprendido o principal sobre a ação humanitária. “Em um hospital de 120 pacientes, eram mais de 300 voluntários”, lembra. “Eu vi (em Nova Iorque) o poder de uma comunidade forte, que não deixa tudo sob responsabilidade do governo e participa da realidade de onde vive.”
Essa força, Lúcia Maria de Athayde, de 87 anos, carrega há mais de três décadas. A moradora do Lago Sul foi uma das primeiras a chegar ao grupo, por meio de uma amiga, e teve contato direto com o pediatra.
A dona de casa é uma das responsáveis pela sala do grupo, onde há o bazar destinado à compra dos materiais de que os pacientes necessitem. O local, aberto de segunda a sexta-feira, tem artigos como roupas, sapatos e acessórios.
Lúcia conta que a rotina no hospital, que já a levou a ocupar até três dias por semana, não muda a vida apenas de quem está ali à procura de atendimento. “Aprendi a sempre olhar para o lado, para quem precisa de mim.”
Um dos principais trabalhos que os voluntários fazem é nos leitos, no suprimento de necessidades emergenciais dos pacientes. “Tem gente que não tem roupa para voltar para casa. Outros precisam que a gente telefone para a família”, detalha a voluntária.
[Olho texto='”Tem gente que não tem roupa para voltar para casa. Outros precisam que a gente telefone para a família”‘ assinatura=”Lúcia Maria de Athayde, dona de casa, uma das responsáveis pela sala e pelo bazar do voluntariado” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
A história que mais a marcou ocorreu assim que começou a prestar o serviço, há 30 anos, e envolvia uma menina que não falava com ninguém.
“A família não podia ficar com ela, e eu sempre a visitava, tentava dialogar, até que um dia ela conversou comigo. Nós andávamos de mãos dadas pelo hospital”, lembra, emocionada.
Além do bazar e do apoio no leito, o SAV oferece terapia com o método holístico reiki, corte de cabelo e barba, atividades musicais, psiquiatria e aulas de artesanato.
Quem quiser fazer doações pode entrar em contato com o grupo pelo telefone (61) 3315-1601 ou pessoalmente. Nesse caso, o interessado deve procurar a portaria do Hospital de Base, ao lado do pronto-socorro. Há grande demanda por fraldas, roupas, sapatos e outros artigos.
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Marisa da Costa Baptista, de 56 anos, é novata. Há dois meses, ela decidiu se inscrever na causa como forma de aliviar o abatimento que sofreu após descobrir um câncer de pele.
Aposentada, ela visita o hospital duas vezes na semana. “Saio daqui com a certeza de que está tudo lindo comigo”, reflete. “Nunca imaginei que eu teria coragem de visitar um pronto-socorro, e hoje tudo isso me faz tão bem.”
Um bem que ela retribui com muita conversa, carinho e ajuda às pessoas até em coisas simples, como ler uma mensagem no celular do paciente.
Edição: Vannildo Mendes