O Hospital Materno-Infantil de Brasília (HMIB) realizou nesta sexta-feira (27) uma cirurgia inédita no Distrito Federal. Antes mesmo de nascer, um bebê passou por uma cirurgia dentro do útero de sua mãe para corrigir uma malformação conhecida como “espinha bífida”, quando parte da coluna fica exposta. Chamada cientificamente de meningomielocele, a doença gera limitações motoras e problemas neurológicos desde o útero, com consequências até o fim da vida.
HMIB é o primeiro hospital do Distrito Federal a realizar cirurgia de correção da “espinha bífida” | Fotos: Jhonatan Cantarelle/Agência Saúde-DF
Este não será o futuro da Agatha, a bebê planejada para nascer no mês de fevereiro. Para isso, quase 20 servidores trabalharam durante três horas no procedimento cirúrgico. “Fazemos uma incisão um pouco maior que uma cesariana, tiramos o útero com o bebê lá dentro e abrimos o útero para corrigir a coluna do bebê”, explica a médica Carolina Wanis Ribeiro de Sousa, servidora da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) e especialista em medicina fetal. As chances de recuperação plena são maiores que nos casos em que o procedimento ocorre só depois do nascimento.
Antes da cirurgia, a mãe da criança, Raiane da Rocha, 36 anos, disse que os últimos dias foram marcados por ansiedade e gratidão. “Estamos muito confiantes na equipe e no hospital. Fomos muito bem recebidos e sabemos que vai dar certo”, diz. Ela havia iniciado o pré-natal na rede privada e, logo após uma ecografia identificar a malformação, foi sugerida a procurar o HMIB, que conta com uma equipe de medicina fetal. A primeira consulta no hospital da SES-DF foi em 16 de outubro e, em 12 dias, Raiane já passou pela cirurgia.
O pai da bebê, o mecânico montador Jeremias Nascimento, 43 anos, ressalta a importância do acompanhamento em todos os momentos. “Eu preciso trazer tranquilidade para ela, independentemente de qualquer coisa, eu tenho que deixá-la tranquila”, conta. Moradores de Águas Lindas de Goiás (GO) e já pais de um menino de 4 anos, os dois dizem ter tranquilidade para enfrentar uma gestação diferente e acumula expectativas para quando a família estiver completa. “Ver ela correndo com o irmão. É esse o meu sonho”, revela Raiane.

Cerca de 20 servidores trabalharam ao longo de três horas na cirurgia, que contou com apoio da alta gestão da Secretaria de Saúde do DF
Procedimento especializado
O primeiro procedimento no HMIB também contou com a presença do médico Fábio Peralta, do Gestar Centro de Medicina Fetal, do HCOR e Maternidade Star, todos de São Paulo. Referência internacional em medicina fetal e com experiência de já ter realizado mais de 600 cirurgias do tipo desde 2015, ele comemora as novas expectativas para os casos de diagnóstico. “Não existia esse tipo de correção, nunca víamos uma criança fora da cadeira de rodas, tendo um desenvolvimento normal. Hoje, o mais frequente é a gente ver as criancinhas correndo por aí, indo bem na escola, praticando esporte, tendo um desenvolvimento intelectual adequado”, afirma.

