Brasília 65 anos: Primeira sede da Novacap, no Rio de Janeiro, testemunhou início do projeto da capital
“O Departamento de Urbanismo e Arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, constituído de profissionais de reconhecida competência, está sob a chefia do engenheiro Oscar Niemeyer, um dos pioneiros da mais avançada arte arquitetural de nosso tempo.” Assim começa a reportagem Arquitetura e urbanismo da nova capital, sem autoria especificada e publicada na página 8 da primeira edição da Revista Brasília, em janeiro de 1957. Primeira sede da Novacap ficava no centro do Rio de Janeiro, que, à época, ainda era a capital do Brasil | Fotos: Ádamo Dan/Novacap O exemplar foi editado ainda no Rio de Janeiro, na primeira sede da Novacap, no centro da capital carioca. O local, uma sala de 54 m x 48 m, foi exatamente onde o gênio da arquitetura brasileira traçou as primeiras linhas que se transformaram em tudo que vemos atualmente em Brasília. “Pelas minhas pesquisas, havia também uma cobertura de onde Niemeyer ficava admirando as belas paisagens do Rio de Janeiro, como o Pão de Açúcar, para buscar inspiração para seu trabalho”, conta o presidente da comissão do Museu da Novacap, Claudimar de Souza. Vista do terraço da antiga sede da companhia; cobertura foi inspiração de Oscar Niemeyer Há duas semanas, uma equipe da companhia voltou ao endereço e constatou que tanto o escritório quanto o terraço superior ainda existem. O prédio já foi usado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e, atualmente, abriga a Procuradoria Regional da República da 2ª Região, do Ministério Público Federal. “Tive a surpresa de saber que essa sala foi o palco onde o imortal Niemeyer projetou Brasília, e isso, para mim, foi uma honra”, comenta o procurador-chefe da 2ª Região, Leonardo Cardoso de Freitas. “Essa parte da história liga diretamente duas das nossas capitais, uma que foi e a que é. É uma honra poder trabalhar nesse lugar tão privilegiado e historicamente tão importante.” Criada no Rio de Janeiro em 1956 pelo presidente Juscelino Kubitschek, Novacap foi o primeiro escritório de gerenciamento da construção da nova capital do Brasil; atualmente, é sede da Procuradoria Regional da República da 2ª Região/RJ Federal A unidade está no local desde 2011, quando teve início uma profunda reforma de todo o espaço. A partir de 2019, toda a equipe da Procuradoria passou a ocupar, de fato, as salas. A cobertura, inspiração de Niemeyer, transformou-se em um requintado e agradável rooftop, uma espécie de área de convivência e lazer, para proporcionar aos servidores mais tranquilidade, aconchego e conforto. Apesar de estar em constante trânsito entre Rio de Janeiro e Brasília, o primeiro presidente da Novacap, Israel Pinheiro, também costumava despachar desse gabinete enquanto o colega arquiteto projetava a capital federal com o apoio do urbanista Lucio Costa, também pioneiro. “É uma forma de revisitar nossas raízes”, avalia o presidente atual da Novacap, Fernando Leite. “É o começo de tudo. No nosso cotidiano, caminhamos por estruturas que foram projetadas nessa sala. Historicamente, estamos voltando ao ponto de partida não somente da Novacap, mas da capital de todos os brasileiros.” Em Brasília A Novacap foi criada em 19 de setembro de 1956 pelo presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. A finalidade única era gerenciar e coordenar a construção da nova capital do Brasil. Por se tratar de uma empresa do Governo do Distrito Federal, a Novacap é o principal braço executor das obras de interesse do DF, e sua vinculação é direta com a Secretaria de Obras e Infraestrutura (SODF). Ainda em setembro daquele ano, foi nomeada a primeira composição: Israel Pinheiro, presidente; Ernesto Silva, Bernardo Sayão e Íris Meimberg, diretores. O primeiro escritório situava-se à Avenida Almirante Barroso, 54, no centro do Rio de Janeiro. Em Brasília, a sede foi erguida onde hoje é a Administração da Candangolândia, ali permanecendo de 1956 a 1959. Confira todos os exemplares da Revista Brasília. *Com informações da Novacap
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Pioneiros da construção de Brasília se reencontram no Museu Vivo da Memória Candanga
Uma folia com roupas feitas à mão e marchas carnavalescas antigas marcou o cenário do Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC) nesta quinta-feira (27). No espaço histórico vinculado à Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), a iniciativa “Grito de Carnaval com os Pioneiros Candangos” reuniu os moradores e construtores mais antigos da nova capital que se formava em 1960, em um dia de festa para recordar as memórias preciosas que fazem parte das estruturas que ergueram o Distrito Federal. A aposentada Áurea da Silva foi uma das mais animadas com o encontro: “Todo mundo aqui é muito gente boa, são pessoas que se dedicam à história da cidade com uma comemoração muito respeitosa” | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília “Eles chegam, conversam e contam o que fez parte da vida deles. A maioria tem entre 70 e 90 anos, então é importante lembrar do passado, e eles ficam muito felizes. É por isso que nós falamos que é um museu vivo” Eliane Falcão, gerente do Museu Vivo da Memória Candanga Esbanjando energia no evento, a aposentada Áurea Maria da Silva, 66, compartilhou da alegria que o espaço do museu proporciona. “Eu me sinto em casa, é maravilhoso”, afirmou. “Todo mundo aqui é muito gente boa, são pessoas que se dedicam à história da cidade com uma comemoração muito respeitosa. É gratificante e muito gostoso”. Em 1958, Áurea chegava de Minas Gerais com a família para se instalar na Cidade Livre, como eram chamadas pelos candangos na época as regiões administrativas do Núcleo Bandeirante e parte do Park Way, Candangolândia e Riacho Fundo. A gerente do museu, Eliane Falcão, explicou que a ideia do evento surgiu a partir das oficinas que já ocorrem no espaço com a presença de diversas pessoas idosas interessadas nas confecções artesanais e a integração que as atividades promovem. “O objetivo maior é reunir a história”, apontou. “Eles chegam, conversam e contam o que fez parte da vida deles. A maioria tem entre 70 e 90 anos, então é importante lembrar do passado, e eles ficam muito felizes. É por isso que nós falamos que é um museu vivo”. O primeiro hospital Quando o grupo se reuniu, o que não faltou foi disposição para comemorar e reviver lembranças de outros carnavais Para quem não conhece a fundo a história de Brasília, vale saber que o primeiro hospital da cidade surgiu antes mesmo da inauguração da capital federal para atender os operários. Em apenas 60 dias, o já extinto Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO) foi erguido nas proximidades da Cidade Livre, em 6 de julho de 1957. Atualmente o local é ocupado pelo Museu Vivo da Memória Candanga. Florêncio de Souza, piauiense que chegou a Brasília em 1957, antes da inauguração oficial da cidade, comemorou: “Eu vim passear em Brasília e estou aqui até hoje. É um quadradinho dos melhores. E o museu é uma ótima recordação do tempo que passou” São instalações que o aposentado Florêncio Vilarinho de Sousa, 91, conhece muito bem: o filho do pioneiro foi uma das primeiras crianças a nascer no antigo hospital. Seu Florêncio lembra até a hora exata em que chegou do Piauí à nova capital: 17h de 13 de junho de 1957. Desde então, ele fez parte da história do DF não apenas com suas habilidades de carpinteiro e marceneiro, mas também como uma fonte de memória viva dos primeiros passos da cidade. “Eu vim passear em Brasília e estou aqui até hoje”, contou, “É um quadradinho dos melhores. E o museu é uma ótima recordação do tempo que passou. Hoje encontrei um amigo que não via há 50 anos.” Leonardo de Lima tem dois filhos que nasceram no antigo HJKO, onde hoje fica o museu: “Quem vem aqui está vendo onde começou Brasília” Com dois filhos também nascidos no antigo HJKO, o aposentado Leonardo de Lima, 84, falou sobre a importância do atual museu para resgatar a história da cidade: “Quem vem aqui está vendo onde começou Brasília”. Um dos fundadores da primeiras escolas de samba do DF no Cruzeiro, a Aruc, ele descreveu o reencontro promovido no Museu Vivo como simbólico. “É uma alegria para o povo”, sintetizou. De geração em geração Rosalina da Cruz foi criada no espaço onde funciona o MVMC: “De tudo que tem aqui eu participo, não perco nada, porque sempre revejo meus amigos e antigos vizinhos. É reviver o meu passado” O Museu Vivo da Memória Candanga é aberto ao público de segunda a sábado, das 9h às 17h, recebendo diversas visitas de escolas de todas as regiões do DF com frequência. Além das oficinas de artesanato e exposições, o local também já foi moradia de muitas pessoas da comunidade. É o caso da funcionária pública Rosalina da Cruz, 67, criada desde os 4 anos no espaço do museu. O pai era funcionário público no antigo HJKO, e toda a família dela tem uma forte história de vivência no local. “Cada vez que eu venho aqui, são sempre lembranças boas que a gente não esquece”, afirmou. “De tudo que tem aqui eu participo, não perco nada, porque sempre revejo meus amigos e antigos vizinhos. É reviver o meu passado”.
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Medalha de mérito é criada para homenagear líderes comunitários do DF
Valorização dos porta-vozes da população. Esse é o objetivo da medalha Mérito Líder Comunitário do Distrito Federal, condecoração lançada nesta semana pela Secretaria de Atendimento à Comunidade (Seac). O gesto de reconhecimento será entregue a mais de 150 representantes sociais pioneiros nas regiões administrativas em que atuam. As medalhas serão entregues ainda este mês no auditório da Academia de Bombeiros Militar, no Setor Policial Sul. Conforme estipula o Decreto 44.502/2022, publicado no Diário Oficial do DF de quarta (10), os homenageados foram indicados pelas administrações regionais com base no tempo de dedicação à cidade, além de comprometimento e responsabilidade com as demandas dos moradores. Os mesmos critérios foram observados pelo Conselho da Medalha, grupo de representantes do governo estipulado por decreto. O Conselho da Medalha é formado pela secretária de Atendimento à Comunidade, Clara Roriz, no papel de presidente; pelo secretário de Governo, José Humberto Pires de Araújo, atuando como vice-presidente; pelo secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha; pelo secretário executivo de Atendimento à Comunidade, Evaldo Rabelo; e pelo secretário adjunto de Governo, Valmir Lemos de Oliveira. Na ausência destes, atuam suplentes. Clara Roriz é presidente do Conselho da Medalha: “A homenagem aos pioneiros também é uma forma de incentivar a continuação desse trabalho e o surgimento de novas lideranças | Foto: Lúcio Bernardo Jr/ Agência Brasília “Os líderes comunitários exercem um papel fundamental para a sociedade. São eles que estão 24 horas recolhendo demandas que, por vezes, não são percebidas pelo governo. Eles nos ajudam a pensar em melhorias para os moradores”, afirma Clara Roriz. “A homenagem aos pioneiros também é uma forma de incentivar a continuação desse trabalho e o surgimento de novas lideranças”, completa. Em Samambaia desde 1989, o aposentado Antônio Galba, 71 anos, receberá uma das medalhas de mérito. “Quando me ligaram contando sobre a medalha, fiquei muito feliz. É gratificante ser reconhecido por ajudar as pessoas porque é um trabalho que fazemos naturalmente e com prazer”, conta. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] Antônio foi presidente da associação de moradores da região entre 1992 e 1994 e, nos anos seguintes, ocupou outras funções na entidade. Depois que se aposentou, em 2013, se afastou dos compromissos gerais, mas nunca deixou de buscar soluções coletivas. “Quando vejo uma demanda ou percebo algum problema na cidade, procuro a administração regional, a associação. É o meu papel de cidadão”, conclui. Apenas o SIA, Água Quente e Arapoanga não participam da iniciativa, pois o SIA não tem lideranças comunitárias e Água Quente e Arapoanga ainda não têm administração regional. Junto com as medalhas, os homenageados receberão um pin e um diploma, reconhecendo, mais uma vez, a importância dos representantes para a sociedade.
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Túnel de Taguatinga beneficiará mais de 135 mil motoristas
Antigas imagens de Taguatinga que, em breve, contará com a modernidade resultante da construção do túnel | Foto: Arquivo Público DF Moradores de Taguatinga e de outras cidades, como Ceilândia, Samambaia e Sol Nascente, serão beneficiados pelo túnel atualmente em construção no centro de Taguatinga. A passagem subterrânea deve desafogar o trânsito para os mais de 135 mil veículos que circulam diariamente pela região. Além disso, transformará a Avenida Central em um boulevard arborizado, com foco nas pessoas e no comércio da região. Calçadas serão reformadas e estacionamentos ampliados. Moradores de Taguatinga e Ceilândia dizem aguardar com ansiedade o fim da obra. Pioneiros de Taguatinga, que residem na cidade há várias décadas, acreditam que a conclusão do túnel trará grandes melhorias para a mobilidade urbana local. O arquiteto José do Egito, morador de Taguatinga desde 1971, prevê que a obra dará mais fluidez ao trânsito. Ele também elogia a ideia de fazer um boulevard na parte superior do túnel. José do Egito, arquiteto, prevê que a obra dará mais fluidez ao trânsito e elogia a ideia de fazer um boulevard na parte superior do túnel | Foto: ABCD Egito Empreendimentos Egito, arquiteto que fez o projeto do Taguaparque, em 1993, acompanhou o desenvolvimento de Taguatinga. Segundo ele, o crescimento acelerado das últimas décadas tirou um pouco da beleza da cidade. “Taguatinga já foi mais bonita, mais interessante”, diz. O arquiteto chegou a pensar em se mudar de Taguatinga, mas preferiu ficar e fazer mais projetos dedicados à região administrativa. Outro pioneiro que acredita que a obra será muito eficaz para a mobilidade da cidade é o corretor de imóveis Getúlio Campos. Já Isaias da Nóbrega, de 87 anos, que mora em Taguatinga há 62 anos, acompanha tudo de perto e está curioso para saber como vai ficar depois de concluída a obra. A população de Taguatinga está distribuída em um território com 121,34 km² de extensão. Considerando sua área e a população atualizada da região administrativa, a densidade demográfica da cidade é de 1.828,82 hab/km². Getúlio Campos considera o túnel necessário há muito tempo e acredita que, no futuro, Taguatinga será a ‘capital do DF’ | Foto: Felipe Seabra O aposentado Lauro Cecílio chegou a Taguatinga em 1960, com apenas dois anos. Ele disse que a cidade cresceu e o túnel é necessário, por isso diz que não vê a hora de poder usar a nova passagem. “A população aumentou muito. Precisamos dessa obra há muito tempo”, destacou. Cecílio mora hoje em Ceilândia e desloca-se diariamente para o Plano Piloto. “Indo por Taguatinga, obrigatoriamente preciso passar pelo centro da cidade. Para evitar engarrafamento, opto pela Estrutural e, com isso, aumento o percurso e o tempo gasto. “Com o túnel, vou encurtar a viagem em dez quilômetros e gastar 30 minutos a menos no trânsito”, comemora Cecílio. Outra que espera ansiosa pela conclusão da obra viária é Vanusa Pereira de Souza, que mora em Taguatinga desde que nasceu, há 48 anos. “Vivo em Taguatinga Sul. Passo pelo centro todos os dias rumo ao Plano Piloto. Espero pelo túnel há muito tempo. Pego engarrafamento todos os dias”, frisou a moradora. [Olho texto=”“Com o túnel, vou encurtar a viagem em dez quilômetros e gastar 30 minutos a menos no trânsito”” assinatura=”Lauro Cecílio, aposentado” esquerda_direita_centro=”direita”] Getúlio Campos acredita que Taguatinga será, no futuro, a “capital do DF”. “Esta já foi a cidade que mais crescia no Distrito Federal. Localidades como Águas Claras, Ceilândia e Samambaia são, todas, continuação de Taguatinga”, disse. “O túnel é uma obra necessária. A ideia do boulevard é muito boa e pode trazer mais leveza ao cenário da cidade”, avaliou Campos. Isaias, que viu Taguatinga nascer, não se assusta com o crescimento da cidade. “Gosto da modernização, acho tudo bonito. Quero ver a obra concluída, saber como ficará tudo isso aqui. Acho que vai melhorar”, opina o aposentado. História Taguatinga foi a primeira cidade-satélite criada pela Novacap para proporcionar a aquisição de um terreno, para a construção da casa própria, aos candangos que ajudaram a construir a capital. Surgiu impulsionada pelo crescimento populacional da Cidade Livre, que não conseguia mais suportar a massa de imigrantes que chegava à capital sem ter onde morar. A cidade já havia sido planejada por Lúcio Costa, mas deveria nascer apenas dez anos depois da inauguração de Brasília. Em junho de 1958, seu traçado estava apenas em estudos, mas a demanda fez com que a Novacap acelerasse o assentamento das famílias. O primeiro nome de Taguatinga foi Vila Sarah Kubitschek, depois passou a ser Santa Cruz de Taguatinga e, por último, Taguatinga.
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Documentos históricos de pioneiros ficarão disponíveis para consulta
Um conjunto de documentos memoráveis chegaram nos últimos dias ao Arquivo Público do DF (ArPDF). Um arcabouço de registros deixados pela Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília, que encerra suas atividades após 30 anos na ativa. O órgão, agora, vai higienizar, inventariar e digitalizar todo este acervo antes de disponibilizá-lo ao público. O superintendente do ArPDF, Adalberto Scigliano, e o advogado Yussef Jorge Sarkis assinaram o termo que oficializa a doação | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília Ali estão, nada menos, que a ficha de filiação de Athos Bulcão ao grupo, a de nº 433. A de Atahualpa Schmitz, engenheiro pioneiro na capital e responsável pela construção da pista do aeroporto. E a do médico pediatra Ernesto Silva, fundador da histórica associação em 1992, e um dos primeiros diretores da Novacap. [Olho texto=” “Minha melhor missão foi ter sido guardião de memórias de Brasília, mas estou muito tranquilo pois as deixo em ótimas mãos”.” assinatura=” Yussef Jorge Sarkis, presidente da associação até sua extinção” esquerda_direita_centro=”direita”] Nesta sexta-feira (3), o então presidente da entidade, o advogado Yussef Jorge Sarkis, 67 anos, e o superintendente do ArPDF, Adalberto Scigliano, assinaram termo oficializando a doação de todo o acervo documental para a instituição. O material vai virar, assim, mais um dos fundos arquivísticos privados do Arquivo Público, podendo ser pesquisado por historiadores, jornalistas e entusiastas da criação de Brasília. Catálogos telefônicos da década de 1960 A associação encerra suas atividades, agora em junho, com a extinção do Certificado Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e a venda de sua sala, na 915 Sul, onde “famosos” e os primeiros trabalhadores que ajudaram a construir Brasília se encontravam com frequência. “Deixo aqui uma ‘filha’, vivi essa associação intensamente nos últimos anos”, disse Jorge Sarkis. “Minha melhor missão foi ter sido guardião de memórias de Brasília, mas estou muito tranquilo pois as deixo em ótimas mãos”. Segundo lembrou Sarkis, o grupo perdeu cerca de 30 pessoas nos último triênio e foi se desfazendo com o tempo. Assinado o termo, material vai virar um fundo privado do Arquivo Público, acessível ao público interessado 1º recenseamento de Brasília Três datas eram motivo de festa obrigatória no grupo: o dia do aniversário da cidade, o aniversário de Juscelino Kubitschek (12 de setembro) e a confraternização de final de ano, conta Jorge, que chegou ainda garoto na capital, com toda a família de origem libanesa. Um dos pioneiros e sócio-fundador Outra preciosidade deixada ali é o caderno do primeiro recenseamento de Brasília, feito pela extinta Inspetoria Regional de Estatística de Goiás, em julho de 1957. Um levantamento feito antes mesmo da inauguração da capital, que ocorreria três anos depois. Àquela época, segundo o censo, Brasília tinha 6.283 moradores envolvidos nas obras da “capital da esperança”, idealizada por JK. O material reúne, além das fichas dos 1.699 associados que passaram por lá, fotos, atas de reuniões e até catálogos telefônicos da década de 1960. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] “Para se tornar membro, o candidato precisava anexar alguma prova de que era pioneiro nessas fichas cadastrais. Então podemos encontrar fotos, holerites, documentos diversos que mostram um pouco do que era Brasília na época. Isso é muito importante”, observa Scigliano. O historiador Elias da Silva pontua que este material “qualificará e muito” o conteúdo guardado pelo Arquivo Público. “Temos agora um novo acervo que permite acessar não somente a construção de Brasília, mas os perfis pessoais de pioneiros que foram protagonistas da história da capital”, finaliza.
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Uma relação de amor e cumplicidade com a cidade
A família Brito comemora a chegada da terceira geração nascida em Brasília. O pequeno Luís Guilherme, de 7 meses, ganhou uma festa para ser apresentado aos muitos amigos que os Brito acumularam na cidade, ao longo de 67 anos, desde que seu bisavô, Getúlio Pinheiro de Brito, chegou à capital, a convite de Juscelino Kubitschek. A avó do menino, Janine Brito, da primeira geração de sua família a nascer na cidade, fala de sua história com Brasília, marcada por muitas fases e muitos questionamentos, que ao longo do tempo se transformaram em enorme cumplicidade. Janine tem duas filhas, Deborah e Natália, esta última mãe de Luís Guilherme. A empresa fundada pelo pai de Janine, a Ferragens Pinheiro, tem hoje 62 anos e é comandada por ela | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília [Olho texto=”“Acho que tenho uma missão, contribuir para que essa cidade seja ainda melhor. É uma obrigação nossa, faz parte da nossa missão” – Janine Brito, empresária” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] Assim como muitos meninos e meninas que nasceram em Brasília ou vieram para cá pequenos nas décadas de 1960 e 1970, Janine, depois de passar férias no Rio de Janeiro, voltava para o Planalto Central sonhando com a vida à beira-mar, com a cidade moderna, cosmopolita. “Eu pensava: meu Deus, como eu queria morar no Rio, em São Paulo, cidades grandes, metrópoles. Eu dizia: nunca vou viver a vida toda em Brasília. Mas com o passar do tempo fui me apaixonando por esta cidade, pela proposta dela. Aos poucos fui percebendo que Brasília possuía uma qualidade de vida superior à das outras cidades”, disse. Janine conta que foi crescendo com Brasília, criando uma relação de cumplicidade com a cidade e, a partir daí, resolveu cuidar de sua parceira. “Aos poucos fui descobrindo a cidade. É a confeitaria com que você se identifica mais, a padaria predileta. Com isso vamos descobrindo o lugar que tem mais a ver com a gente. Assim, Brasília foi fazer parte da minha vida e da minha história.” “É importante mostrar as raízes de Brasília. Se São Paulo tem famílias quatrocentonas, aqui temos as famílias sessentonas, aquelas que chegaram aqui há 60 anos e permanecem de geração para geração”, avalia Janine. A brasiliense conta que suas filhas também adoram a cidade. “Elas gostam de viajar, mas amam voltar para cá”, disse. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] A empresa fundada pelo pai de Janine, a Ferragens Pinheiro, tem hoje 62 anos e é comandada por ela. A empresária destaca a importância da mulher no processo de formação de Brasília. Além dela, as duas filhas trabalham na empresa da família, assim como outros parentes. “Acho que tenho uma missão, contribuir para que esta cidade seja ainda melhor. É uma obrigação nossa, faz parte da nossa missão”, conclui.
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Samambaia ganhará 3 mil novas moradias
Três mil novas moradias nas quadras 100 e ímpares de Samambaia. Este foi o presente de aniversário de 32 anos da cidade anunciado pelo Governo do Distrito Federal (GDF), na noite deste sábado (23), durante a tradicional festa dos pioneiros. A notícia foi comemorada pelas principais lideranças locais. Organizada pelos próprios moradores de Samambaia, a festa em comemoração ao aniversário ocorre todos os anos. Desta vez, contudo, o anúncio das novas moradias veio como um presente, algo esperado pela comunidade há mais de 20 anos, já que se arrastava a reivindicação antiga da população local para o surgimento de edificações multifamiliares no local. Em julho deste ano, a luta de lideranças em busca do terreno para a construção das novas moradias e os apelos feitos ao GDF para o fim do imbróglio foi atendido e os terrenos foram liberados pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Eles serão destinados a cooperativas que serão responsáveis pelos empreendimentos. “Estamos aqui para comemorar. Sob a batuta do nosso maestro, o governador Ibaneis Rocha, esse dia chegou e o sonho vai se tornar realidade”, disse o vice-governador Paco Britto, que esteve no evento. Paco lembrou aos pioneiros de Samambaia a importância da criação da cidade, mas ressaltou que o cuidado com ela também é necessário. “Sabemos que o pai de Samambaia é Joaquim Roriz, como todos aqui já falaram. Mas pai, assim como quem faz, também é aquele que cria, que cuida. E depois de tantos anos descuidada, esta cidade tem um novo pai: Ibaneis Rocha”, apontou. “Nós estamos realizando sonhos. É assim que o governador Ibaneis tem feito e as 100 e impares agora são realidade”, completou o presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab), Wellington Luiz. “Destravar a construção dessas novas moradias vai beneficiar milhares de pessoas”, concluiu o presidente da Câmara Legislativa do DF, deputado distrital Rafael Prudente. Um dos líderes comunitários mais conhecidos de Samambaia, Chico Dorion fez um apelo ao governo para que encontre um meio de fazer com que as moradias tenham preços acessível a todos que sonham com a casa própria e faz um paralelo entre a famosa frase do ex-governador Joaquim Roriz com a gestão de Ibaneis Rocha: “Roriz dizia que ‘governar é definir prioridades, depois de ouvir o povo’, e olha o que o governador Ibaneis está fazendo… Depois de tantos anos sem sermos ouvidos, um governo nos ouve e define as prioridades para a nossa cidade”. O evento contou ainda com a presença da ministra da Secretaria de Governo da Presidência da República, Flávia Arruda, dos secretários de Turismo e Ciência e Tecnologia, Vanessa Mendonça e Gilvan Máximo, respectivamente, do senador Izalci Lucas, do administrador de Samambaia, Gustavo Aires, e de Tadeu Filippelli, que no governo Roriz, durante a criação da cidade, em 1989, presidiu a antiga Sociedade Habitacional de Interesse Social (SHIS) e foi responsável pela entrega da primeira casa na recém-criada Samambaia.
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Arquivo Público resgata histórias não oficiais de pioneiros
E se a Catedral Metropolitana de Brasília ficasse no meio da Praça dos Três Poderes ou a torre do Congresso fosse uma só com detalhes em alto relevo na parede externa? E se o Palácio do Planalto trocasse de lugar com o Superior Tribunal Federal ou a cúpula da Câmara dos Deputados tivesse a forma da casca em concreto armado localizado no Setor Militar Urbano? Estagiário de Niemeyer durante a construção de Brasília, Gervásio Cardoso doou ao Projeto Pioneiros 14 rascunhos que ganhou do próprio arquiteto, com ideias que teve para o Congresso Nacional | Fotos: Acácio Pinheiro/Agência Brasília Todas essas possibilidades foram imaginadas e esboçadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer antes de apresentar o projeto definitivo da nova capital brasileira ao presidente Juscelino Kubistchek, no final dos anos 1950. Quem conta essa história é o pioneiro mineiro, Gervásio Cardoso de Oliveira Filho, 78 anos. [Olho texto=”“São obras que revelam o processo criativo de Oscar Niemeyer, a evolução de cada ideia até chegar ao projeto original de uma obra”” assinatura=”Gervásio Cardoso de Oliveira Filho, pioneiro mineiro” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Ele foi estagiário de Niemeyer durante as construções dos primeiros edifícios da capital e detentor de 14 traços que revelam as transformações sofridas no projeto original do Congresso Nacional. Os rascunhos datam de 1957 e até agora estavam inéditos para o público. “É a Brasília que ninguém viu”, brinca o arquiteto, que guardou esse segredo histórico por 44 anos. “São obras que revelam o processo criativo de Oscar Niemeyer, a evolução de cada ideia até chegar ao projeto original de uma obra”, conta Gervásio, que doou o material para o Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF). Os esboços irão compor a coleção Projeto Pioneiros, novo programa da instituição arquivística. Dividido em duas linhas de pesquisas, o Projeto Pioneiros visa resgatar, além de divulgar, a história da construção, inauguração e consolidação de Brasília por um olhar mais romântico e mais humano, que foge dos registros oficiais. “O Arquivo Público é a casa da memória do DF, é uma instituição que tem a vocação, missão de guardar a história dos protagonistas que fizeram parte da história desta cidade”, comenta o historiador do órgão, Elias Manoel da Silva, há 17 anos servidor do espaço. [Olho texto=”“O ArPDF entrou em contato com mais de dez pioneiros e estamos nos articulando para buscar essas imagens e as histórias inéditas que eles têm para contar”” assinatura=”Adalberto Scigliano, superintendente do Arquivo Público” esquerda_direita_centro=”direita”] Na etapa, Olhar Pioneiro, serão recolhidos registros de fontes diversas como, por exemplo, vídeos, textos e fotografias, sobre o surgimento da nova capital. Noutra fase, intitulada Pioneiros – A História que Ninguém Contou, serão feitas entrevistas que trazem à luz fatos inéditos ou curiosos sobre a história de Brasília. “O ArPDF entrou em contato com mais de dez pioneiros e estamos nos articulando para buscar essas imagens e as histórias inéditas que eles têm para contar. São pessoas que estiveram à margem ou não tiveram tanto espaço midiático quanto as grandes figuras do início da cidade, mas que merecem e devem ter seus feitos imortalizados porque também fazem parte dessa história”, avalia o superintendente do espaço, Adalberto Scigliano. O arquiteto Gervásio Cardoso (C), com Oscar Niemeyer em 1982 | Foto: Arquivo pessoal Encontros históricos A primeira vez que Gervásio Cardoso ouviu falar sobre a construção de Brasília foi na escola, no final dos anos 1950, em Patos de Minas. Ele tinha 16 anos e a partir da inusitada notícia começou a traçar os destinos de sua vida profissional, intrinsecamente, ligada com a capital do país. O pioneiro não esconde as lágrimas quando se lembra do episódio. “A professora nos disse que tinha se hospedado na cidade o arquiteto que estava planejando a nova capital do Brasil”, recorda. “Aquilo mexeu com a minha cabeça, me interessou de tal forma que falei para o meu pai que eu queria ser arquiteto”, conta ele, que já gostava de fazer alguns rabiscos. Quando menos esperava, lá estava ele no coração do Planalto Central, no meio de um dos canteiros de obras da Esplanada, trazendo debaixo do braço uma caricatura de Oscar Niemeyer. O ano? 1959. Meses depois, já integrava a equipe de urbanismo e arquitetura do ídolo, colaborando com esboços e desenhos de prédios. Pioneira na Vila Planalto, Icila Damasceno (E) doou para o projeto imagens feitas pelo pai, fotógrafo: “Ele anotava tudo que registrava com sua câmera “Ele me recebeu da maneira mais carinhosa possível, olhou com atenção os desenhos, perguntou se eu gostava de desenhar, se queria aprender e mandou alguém trazer uma prancheta”, lembra Gervásio Cardoso. Quase duas décadas depois, em meados dos anos 1970, depois de se formar na Universidade de Brasília (UnB) e passar temporada de um ano na França, o pupilo voltaria a se encontrar novamente com o mestre em Brasília. Agora experiente na profissão, recebeu a incumbência de dar sequência ao projeto de construção do anexo do Senado Federal e colaborou na finalização do edifício do Palácio da Justiça. Foi mais ou menos nessa época, em 1977, que recebeu de presente os 14 rascunhos das ideias que teve para o Congresso Nacional com a simples dedicatória: “Para Gervásio, com um abraço de Oscar Niemeyer”. “Só de ele ter concordado que eu desenvolvesse um projeto dele, era a maior prova de que confiava em mim”, diz, orgulhoso. Cerzindo história Moradora há 51 anos da Vila Planalto, a paraense Icila Damasceno de Sena, 87 anos, tem muitas histórias para contar sobre os primórdios da construção de Brasília. Chegou aqui com o pai, o militar paraense Antônio Pereira Damasceno, que acabou se tornando um dos primeiros fotógrafos da nova capital. Tal qual o mineiro Gervásio Cardoso, a família logo aprendeu a importância de registrar os fatos que a cercava. Afinal, não era todo dia que uma cidade nascia do nada bem diante dos olhos. Uma urbe, diga-se de passagem, que estava sendo projetada para ser a nova capital do país. Como o pai era fotógrafo, tudo ficou mais fácil. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”esquerda”] “Ele era militar, tinha organização e anotava tudo que registrava com sua câmera. Nos ensinava a valorizar o resgate da memória das pessoas, dizia que era história”, comenta a pioneira, uma das primeiras moradoras da Candangolândia. “Quando ele veio trabalhar na Novacap, morava nos alojamentos; quando ganhou a casa, fez uma placa com os dizeres: ‘Retiro do Damasceno’. Depois fomos para uma casa na W3 Sul”, diz. Entre as preciosidades que a família reservou para o Projeto Pioneiro, do ArPDF, estão imagens do antigo Rio Paranoá, antes de virar o lago, além de experiências como uma das primeiras cerzideiras de Brasília, atendendo uma clientela de peso, formada por presidentes como Costa e Silva, João Figueiredo e, veja só, até Fernando Henrique Cardoso. “Eu cerzia muito, tinha muito serviço”, destaca.
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Setur premia mestres artesãos e pioneiros do DF
A artesã Antonia Lopez do Nascimento, entre as secretárias de Desenvolvimento Social, Mayara Noronha Rocha, e de Turismo, Vanessa Mendonça: “A gente faz arte por amor, com o coração” | Foto: Gustavo Alcântara/Setur Em iniciativa inédita do GDF, o trabalho do artesão como veículo de transformação social ganha merecido reconhecimento. Nesta terça-feira (27), a Secretaria de Turismo (Setur) lançou a I Mostra Pioneiros – Mestres Artesãos, que reúne farto material produzido em décadas de trabalho desses profissionais, cuja arte mistura todas as culturas de diferentes regiões do país. Com a presença de autoridades, os pioneiros e artesãos foram homenageados pelo valor de suas obras na consolidação da identidade cultural de Brasília. São 125 peças de 26 artistas que ficarão expostas até 15 de novembro na Casa de Chá, na Praça dos Três Poderes. O objetivo da Setur, destacou a titular da pasta, Vanessa Mendonça, é valorizar o artesanato, impulsionar a economia e incentivar o reconhecimento desses mestres. [Olho texto=” “Atuamos para disponibilizar espaços para a comercialização do artesanato produzido aqui no Distrito Federal, e assim proporcionar geração de emprego e renda” ” assinatura=”Vanessa Mendonça, secretária de Turismo” esquerda_direita_centro=”esquerda”] Atualmente, a Setur tem mais de 10,5 mil profissionais do artesanato cadastrados. “Não é trabalho de assistencialismo”, pontuou Vanessa Mendonça. “Atuamos para disponibilizar espaços para a comercialização do artesanato produzido aqui no Distrito Federal, e assim proporcionar geração de emprego e renda”, afirmou. Homenagens Os artistas receberam diplomas de reconhecimento com chancela do Programa de Artesanato Brasileiro (PAB) e do Sebrae DF pelas mãos de representantes de diversos órgãos do GDF, como a secretária da Mulher, Ericka Filippeli; a titular da Secretaria Extraordinária da Pessoa com Deficiência, Rosinha da Adefal; o subsecretário de Microcrédito e Economia Solidária da Secretaria do Trabalho (Setrab), Alex Barreto; a analista do Sebrae-DF Natália Fabrino; a organizadora da exposição e mestre-artesã Roze Mendes e os deputados federais Roberto de Lucena e Julio Cesar. Confeccionado por Omar Franco, o troféu de honra ao mérito foi entregue aos artesãos Tião Piauí (trabalhos em fibras), Cleizeane Ribeiro (esculturas de argila), Divino Faleiros (buritis), Randall Felix (esculturas em madeira), Antônia Lopes de Oliveira (capim-verde), Maria Apolinária e Maria Dalva (ambas destaques com obras feitas de flores do Cerrado). Arte com amor Nascida em Paracatu (MG), Maria Dalva, 68 anos, aprendeu o artesanato por necessidade e repassou o conhecimento para sua filha, Verônica Brilhante, e para Roze Mendes. “Criei os meus filhos fazendo artesanato”, conta. “Tudo que eu tenho, tudo que sou, ganhei do artesanato”. Verônica, que hoje aprimora sua técnica com Roze Mendes, também discípula de sua mãe, ficou emocionada com a homenagem ao trabalho da mãe. “É o primeiro governo que reconhece esses talentos”, destacou. Já Antonia Lopez de Oliveira, 80 anos – a mais idosa do evento –, diz que estava “no fundo do poço”, com todo o material produzido trancado em um baú. “Foi quando essa moça, Vanessa Mendonça, me descobriu e foi me buscar”, relatou. “A gente faz arte por amor, com o coração”. Produção intensa As obras que integram esta primeira edição da Mostra Pioneiros – Mestres do Artesanato de Brasília foram selecionadas por uma comissão composta por Ana Beatriz, representante do Programa do Artesanato Brasileiro; a arquiteta Angelina Nardelli Quaglia; a jornalista e designer de interiores Jane Godoy; Juliana Rocha, representante do Sebrae; a especialista e consultora em assuntos relacionados ao artesanato Malba Trindade; o artista plástico Omar Franco e a secretária de Turismo. A força do artesanato para a cadeia econômica da cidade se mostrou já no início do evento. Algumas peças em exposição foram vendidas para turistas do Paraná e do Rio de Janeiro, antes da abertura oficial da mostra. Para fortalecer ainda mais esse setor, a Setur vem incentivando o artesanato típico do DF, que dá vida à matéria-prima fornecida pelo Cerrado. A secretária Vanessa Mendonça citou algumas das ações já desenvolvidas, como a abertura de duas lojas em shoppings de Brasília para artesãos do DF, além de participação em feiras nacionais e internacionais. Somente em 2019, o setor movimentou mais de R$ 871,5 mil. Casa do Artesão A Setur também atua junto à Subsecretaria de Microcrédito e Economia Solidária da Secretaria de Trabalho para oferecer linhas de crédito especiais à categoria. O próximo passo, adianta a secretária de Turismo, é a construção da Casa do Artesão, que será um centro de referência do artesanato brasiliense. A secretária de Desenvolvimento Social e primeira-dama do DF, Mayara Noronha Rocha, destaca que essas ações são imprescindíveis para fomentar o setor. “É por isso que um evento desse porte se faz necessário, para que a gente realmente valorize a cultura do artesão, para que a gente crie na população a vontade de investir, de acreditar nessa potência”, resume. [Olho texto=”“Um evento desse porte se faz necessário para que a gente realmente valorize a cultura do artesão, para que a gente crie na população a vontade de investir, de acreditar nessa potência” ” assinatura=”Mayara Noronha Rocha, secretária de Desenvolvimento Social” esquerda_direita_centro=”centro”] O coordenador cultural da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Mário Pilar, destacou a alta demanda pelo artesanato brasileiro no exterior. Em 2019, a instituição, que é parceira da Setur, proporcionou a presença dos artesãos do DF em feiras realizadas em Londres (Inglaterra) e em Buenos Aires (Argentina). “O compromisso que nós teremos é disponibilizar em cada estande da Embratur [Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo], não só no país, mas no exterior, peças do artesanato brasileiro”, assegurou. Já o coordenador de Relações Governamentais na Apex-Brasil, general Elias Rodrigues Martins Filho, ressaltou as oportunidades que o artesanato pode trazer para atrair investimentos para o país: “Uma exposição como essa reúne a riqueza do talento dos nossos artistas e expõe, ainda, um enorme potencial que temos tanto para atração de investimentos quanto para fazer evoluir esse setor a ponto de exportamos para fortalecer a nossa economia”. * Com informações da Setur
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Mostra do Artesanato traz Mestres Pioneiros do DF
Artesanato em palha | Foto: Cláudio Gerber/Setur Das flores típicas do Cerrado, surgem colares, caminhos de mesa, painéis. O talo do Buriti, encontrado em abundância nas veredas do Planalto Central, transforma-se em totens de cores vivas. Nessa ressignificação da matéria-prima, o artesanato típico do DF ganha vida. Para divulgar a riqueza e a diversidade da produção artesanal genuinamente candanga, a Secretaria de Turismo (Setur) lança, na terça-feira (27), às 11h, a 1ª Mostra Pioneiros – Mestres do Artesanato de Brasília. A Casa de Chá será sede da exposição, que ocorre até 15 de novembro. No local, 125 peças de 26 pioneiros e mestres artesãos estarão disponíveis para visitação. Na ocasião, a Setur também lançará o convite para que os artífices apresentem sua documentação comprobatória e se tornem mestres, com chancela do Programa de Artesanato Brasileiro. A programação conta ainda com show do Trio Forrozão Bambolê. De acordo com a secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, desde o início da gestão do governador Ibaneis Rocha, o artesanato tem sido pauta prioritária para a pasta. Nos últimos anos, foram desenvolvidas diversas ações para estruturar, qualificar e promocionar o trabalho desses profissionais. “O artesanato é um setor com grande capacidade de geração de emprego e renda. Com a mostra, queremos fomentar a economia criativa e valorizar os pioneiros e mestres artesãos que consolidaram a identidade cultural da nossa cidade com a sua arte”, destaca. A certificação dos mestres artesãos do DF é uma dessas medidas promovidas pela Setur. Segundo Roze Mendes, artesã referência da cidade e uma das organizadoras da exposição, Brasília possui muito mais mestres do que os presentes no evento. “Mas essa é uma primeira mostra de muito mais que há por vir. A intenção é promover um levantamento das culturas, das raízes e desses repasses de saberes para valorizar o artesanato local. Quanto mais mestres artesãos reconhecidos, mais fortalecida a área fica”, pondera. [Olho texto=”Com a mostra, queremos fomentar a economia criativa e valorizar os pioneiros e mestres artesãos que consolidaram a identidade cultural da nossa cidade com a sua arte” assinatura=”Vanessa Mendonça, secretária de Turismo” esquerda_direita_centro=”centro”] Para obter o reconhecimento como mestre, é preciso preencher os requisitos definidos na Portaria 1.007, de junho de 2008. Entre eles, está o repasse do conhecimento e das técnicas artesanais para a comunidade em que o artífice está inserido, de forma a manter aquele saber. Verônica Brilhante, uma das organizadoras da mostra, vem de uma das famílias pioneiras que trouxeram a Brasília a arte de trabalhar a flor do cerrado, ainda na década de 1980. Ela conta que foi sua mãe a primeira a ensinar-lhe desde a extração de forma sustentável da matéria prima até a produção da peça. Escultura de Cleziane Ribeiro | Foto: Cláudio Gerber/Setur O aprimoramento do conhecimento se deu com Roze Mendes. “Com isso, a gente vê que não se pode prender o saber conosco. Não estamos nesta terra para ficar. É importante repassar o conhecimento e fortalecer essa cadeia de saberes que é o artesanato”, explicou Brilhante. Chamado de Mágico do Buriti, Divino Faleiros é um desses mestres artesãos do DF. Natural de Uruana (GO), ele chegou à capital federal aos 9 anos, em 1978. Ainda na adolescência, começou a fazer quadros trançados com linha. Anos depois, conheceu um mestre artesão que lhe apresentou o entalhe com braços de Buriti secos. Hoje, Divino é referência na área com seus totens repletos de cores vivas e um dos poucos a trabalhar essa arte na região. Para ele, ensinar suas técnicas para a comunidade é uma prioridade. “Principalmente nesse período em que as pessoas estão muito ligadas com a mídia, com a informática. E é um interesse nosso transferir esse conhecimento, especialmente para mim. Todos os outros artesãos que conheci, que faziam totens em Buriti, já deixaram esse mundo”, lamenta. Já Cleziane Ribeiro, natural de Alexânia (GO) e moradora da Ceilândia há 19 anos, trabalha com esculturas e é referência no DF. Na argila, ela retrata as tradições e os costumes locais. A inspiração vem de trabalhadores do campo, das famílias e, especialmente, de São Francisco. “Essa exposição é muito importante para o artista ser reconhecido dentro da cidade e para a cidade conhecer o artesanato e a cultura que ela produz e poder, com isso, expandir para outras regiões e até mesmo outro país”, avalia. Seleção As obras que integram a primeira edição da Mostra Pioneiros – Mestres do Artesanato de Brasília foram selecionadas por uma comissão avaliadora. Compuseram o colegiado Ana Beatriz, representante do Programa do Artesanato Brasileiro; a arquiteta Angelina Nardelli Quaglia; a jornalista e designer de interiores, Jane Godoy; Juliana Rocha, representante do SEBRAE; a especialista e consultora em assuntos relacionados ao artesanato Malba Trindade; o artista plástico Omar Franco; e a Secretária de Turismo, Vanessa Mendonça. Totem buriti de Divino Faleiros | Foto: Cláudio Gerber/Setur Os pioneiros e mestres artesãos participantes desta primeira edição serão, ainda, homenageados. Eles receberão um diploma de reconhecimento do grande valor de suas obras para a arte e a cultura da capital Federal e do Brasil. O documento terá a chancela da Setur e do Sebrae-DF. Sete artesãos também receberão o “Troféu Honra ao Mérito”. Artesanato em números Parte da cadeia da economia criativa, a produção artesanal de uma região é também um poderoso produto cultural para agregar valor ao turismo. Segundo levantamento do IBGE, o Brasil possui aproximadamente 8,5 milhões de pessoas que vivem do artesanato. O setor movimenta cerca de R$ 50 bilhões por ano. No DF, de acordo com dados da Setur, os 10,5 mil artesãos cadastrados na Secretaria de Turismo movimentaram, somente em 2019, mais de R$ 871,5 mil. O balanço do Programa de Artesanato Brasileiro de 2019 também aponta para a força do setor na economia criativa, com a geração de emprego e renda. No 12º Salão do Artesanato – Raízes Brasileiras, realizado no DF em maio do ano passado com o apoio do PAB, foram mais de 33,9 mil peças comercializadas, que geraram um faturamento de mais de R$ 1,6 milhão. Serviço: 1ª Mostra Pioneiros – Mestres do Artesanato de Brasília Quando: De 27/10 a 15/11. Todos os dias, das 9h às 18h. Onde: Casa de Chá – CAT Praça dos Três Poderes. Quanto: Entrada franca Classificação indicativa: Livre *Com informações da Setur
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Adirson Vasconcelos: o encantamento da solidão nos primórdios de Brasília
[Numeralha titulo_grande=”2″ texto=”dias para os 60 anos de Brasília” esquerda_direita_centro=”centro”] Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade. Adirson, ao conhecer o terreno onde seria erguida a capital federal: “Tudo o que se olhava, em qualquer posição, era horizonte” | Foto: arquivo pessoal “A minha relação de simpatia, admiração e crença em Brasília se desenvolveu a partir do primeiro momento que eu a vi. Em maio de 1957, houve na região onde seria construída a nova capital do Brasil um ato a que se chamou de Pedra Fundamental da Nova Capital. Naquele tempo, na década de 1950, eu era repórter no Recife do jornal Correio do Povo. Escalado pela direção, fui designado para fazer a cobertura do fato que aconteceria no Planalto Central de Goiás, a 20 quilômetros de Goiânia. Depois de um dia inteiro de viagem de Goiânia até aqui, hospedei-me em um hotel de madeira recém-construído no Acampamento Núcleo Provisório, na Cidade Livre – hoje, o Núcleo Bandeirante. Dormi e, pela manhã, horas antes do lançamento da pedra fundamental, saí para conhecer o terreno onde seria Brasília. A terra era muito vermelha, diferentemente do que me acostumara a ver no Nordeste. Em meio à vegetação rasteira e às árvores retorcidas, elevei o olhar para o céu e contemplei uma abóboda celeste muito azul com lindas nuvens brancas. Uma beleza inusitada, com um horizonte ao longe. Tudo o que se olhava, em qualquer posição, era horizonte. De repente, dou-me de frente com o oriente e contemplo estarrecido um sol vibrante, parecendo uma bola de fogo de tão forte e intenso. Eis a alvorada de Brasília. [Olho texto=”Aquela irradiação solar aqueceu-me o corpo e me invadiu a alma de forma inusitada. Encantei-me naquela solidão, com a visão quase celestial que me marca até hoje, em 2020, quando celebraremos os 60 anos de Brasília” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda “] Aquela irradiação solar aqueceu-me o corpo e me invadiu a alma de forma inusitada. Um momento transcendente, nunca vivido até aqueles meus 20 anos de vida. Encantei-me naquela solidão, com a visão quase celestial que me marca até hoje, em 2020, quando celebraremos os 60 anos de Brasília. A par daquele impacto fisiológico que senti ao contemplar o nascer do sol em Brasília, vivi um momento de transcendência, de transformação mental e de espitualização marcantes. Durante a missa onde hoje é a Praça do Cruzeiro, o cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota anunciou no sermão que aquele momento era um dos três marcos da história do Brasil – junto com o Descobrimento, em 1500, e a Independência, em 1822. Aquele momento solitário me impactou a alma e tive divergências. Mas, com o passar dos dias, e até a inauguração da cidade, em 1960, era igualmente marcante como o alvorecer. Guardarei aqueles momentos para a vida toda. Da epopeia da construção até os dias atuais, pude acompanhar ao longo de 63 anos o sonho que nasceu com Tiradentes, Apolônio da Costa e tantos outros brasileiros, e projetada como a obra do século 20. Ali nascia a capital da esperança. Em 1986, quando a cidade já estava quase consolidada, Juscelino Kubitschek, dois meses antes do seu falecimento, profetizou-me após uma longa conversa: Brasília será a capital deste milênio, pelo significado que sua missão civilizadora representa como polo irradiador de desenvolvimento. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita “] Vivo, desde aquela alvorada de 1957, esse grande espírito de Brasília. E estou integrado a ele. Por isso fiz um poema chamando Brasília de minha terra, meu céu e meu mar, além de templo da união nacional, construtora de um novo tempo. Hoje vivo plenamente os mesmos sentimentos daquele primeiro momento. Momento de jovialidade, de fé, de crença e de esperança, agora muito mais fortalecido na grande missão civilizadora. Além de trabalhar como jornalista e acompanhar toda a história, tive aqui sete filhos e 11 netos, e 60 livros. A minha mais nova cria é a Enciclopédia da História de Brasília, em todos os seus tempos, divididos por décadas. Assim, ofereço um registro de memórias de quem viveu e ainda vive os dias da capital que amo.” Adirson Vasconcelos, 83 anos, cearense, chegou a Brasília em 1957. Encantado com a energia do lugar onde nasceria a nova capital, voltou ao Nordeste, fez todas as malas e do Distrito Federal não saiu mais.
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A origem da saúde em Brasília
Tudo começou nos anos 50 do século passado | Foto: Edson Porto / Arquivo pessoal Em evidência nestes tempos sombrios que parecem ter emergido das páginas do romance existencialista A Peste, do escritor franco-argelino Albert Camus, os aguerridos profissionais da saúde do DF têm muito do que se orgulhar quando se trata da história do sistema hospitalar surgido na nova capital. Trata-se de passado marcado pela vanguarda, empenho e dedicação de pioneiros do setor que fizeram e, como mostram os dias atuais, fazem toda a diferença. Tudo começou em meados dos anos 50. Com aquele que foi oficialmente o primeiro médico a pisar solo candango, o carioca Ernesto Silva (1914-2010). E, por ostentar condição tão peculiar – ou seja, a de ser um dos exploradores da região – até o final de seus 95 anos de vida, ele seria lembrado pela alcunha de o “pioneiro do antes”. Cabe o registro de que Dr. Ernesto, também militar, de fato só iria arregaçar as mangas em prol da saúde no DF em meados dos anos 50, quando assumiu uma das diretorias da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). Homem de confiança de JK, fora encarregado pelo presidente de implantar as diretrizes não apenas da saúde na cidade surgida do nada, no meio do Cerrado, mas também do plano educacional. [Olho texto=”“Como Brasília era realmente um famoso terreno de obras, os acidentes de trabalho começavam a surgir diária e assustadoramente”” assinatura=”Edson Porto, pioneiro do setor de saúde pública no DF, sobre o HJKO” esquerda_direita_centro=”direita”] “Assumi o cargo por mérito, sem indicação política, já que Juscelino sabia que eu conhecia bem a região”, lembraria anos depois. Nascida sob a égide da modernidade, o Plano de Saúde do DF, assim como outros elementos sociais indispensáveis para o funcionamento de uma cidade, era para ter sido essencialmente “uma obra original, isenta de erros e vícios, adaptada à rápida transformação por que passa o mundo”, como Ernesto Silva escreveu no livro História de Brasília – Um sonho, uma esperança, uma realidade. Modernismo “assustador” Gaúcho de Pelotas que chegou a Brasília no final dos anos 60 para fazer parte do quadro do Hospital de Base – na época chamado de Hospital Distrital –, o médico aposentado Cláudio Luiz Viegas, hoje com 74 anos, recorda que o conceito modernista da então nova capital do país assustou um bocado de gente. Para ele, a cidade estava muito à frente de muitos governantes que a tiveram sob comando, bem como dos profissionais que chegaram à nova cidade para trabalhar em diversos segmentos. “Muitos não estavam preparados”, avalia o profissional da saúde, que chegou aos 24 anos à capital federal. Ele atuou primeiro como clínico geral e, depois, passou a se dedicar à pneumologia. Os primeiros postos e atendimentos Assim como quase tudo no começo de Brasília, a saúde no DF teve início com um empurrão da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), a partir da criação de um departamento que prestou relevantes serviços à coletividade. Resumia-se a um mero barraco de madeira construído no acampamento da empresa, o que viria a ser o primeiro núcleo hospitalar do Planalto Central. “Hospital Distrital”: o Base em seus primórdios | Foto: Arquivo Público Em tempos de coronavírus, o Departamento de Saúde da Novacap, sob direção do Dr. Jairo de Almeida, ainda nos primórdios da cidade prestou inúmeros serviços de natureza preventiva junto à jovem população que se formava. A partir de um convênio firmado com o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Endemias Rurais (DNERu), manteve em sua sede um intenso serviço de vacinação contra variólica, paralisia infantil e combate a viroses como sarampo, caxumba e rubéola. E não apenas isso. Um ambulatório oferecia medicamentos de urgência, aplicação de injeções e até pequenas cirurgias. No acampamento do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (Iapi), localizado entre a Candangolândia e a então Cidade Livre (hoje, Núcleo Bandeirante), seria montado também em madeira outro posto pioneiro de saúde que atendia os trabalhadores em peso. “Havia um só médico, recém-formado, mas dedicado e prestativo”, lembraria Ernesto Silva em suas memórias. Era o jovem médico mineiro Edson Porto, mineiro de Araguari, que acabara de chegar de Goiânia, aos 26 anos. “Brasília foi uma necessidade de sobrevivência, força de contingência, não pelo fato de acreditar na cidade”, admitiria o médico ao Programa de História Oral do Arquivo Público, gravado em fevereiro de 1989. “Como todo médico, ou qualquer iniciante de uma carreira, eu tinha ambição de me projetar, de me realizar dentro daquela atividade. Como não havia a possibilidade de trabalhar em Goiânia naqueles primeiros anos, me ofereci para dar assistência em Brasília”, confessaria. O Hospital Juscelino Kubistchek de Oliveira, primeira grande estrutura de saúde do DF, na década de 1950 | Foto: Arquivo Público E foi bem ali, no acampamento do Iapi, que em julho de 1957 seria inaugurado o Hospital Juscelino Kubistchek de Oliveira (HJKO), a primeira unidade hospitalar robusta do gênero na cidade, que prestaria inestimáveis “serviços durante a construção da cidade”, como o próprio Ernesto Silva recordaria. Visitado pouco antes de sua inauguração pelo presidente de Portugal, Craveiro Lopes, o hospital prestava assistência médica, cirúrgica e odontológica a particulares, servidores e operários que precisavam fazer o exame médico para a admissão ao serviço. “Nenhuma empresa podia dar emprego sem a apresentação da Carteira de Saúde”, registra Ernesto, também em suas memórias. Convergência médica Estrategicamente localizado no DF, o HJKO cuidava dos milhares de candangos que chegavam à cidade todos os dias para trabalhar nas obras da nova capital. Em 1968, com a inauguração do Hospital Distrital (atual Hospital de Base), o espaço viraria um posto de saúde. Em 1974, o antigo hospital de madeira parou de funcionar. “O hospital HJKO foi feito realmente como um projeto interessante, na linha hospital de campanha, com 40 leitos, funcionando as quatro clínicas básicas: médica, cirúrgica, pediatria e gineco-obstetríca”, conta o pioneiro Edson Porto no depoimento ao ArPDF. “Como Brasília era realmente um famoso terreno de obra, os acidentes de trabalho começavam a surgir diariamente e assustadoramente. Foi então que, quando inaugurado o hospital, foi providenciado imediatamente a instalação de um serviço de ortopedia para atendimento nesses casos”, relata. Vale destacar o que todos os pioneiros da área de saúde gostam de frisar: o extraordinário serviço prestado pelo Hospital Volante das Pioneiras Sociais, entregue à população em 26 de outubro de 1957. “Sua atuação foi muito valiosa quando, em 7 de junho de 1958, a Novacap iniciou o assentamento em Taguatinga da enorme população que se havia instalado ao longo da estrada Brasília-Anápolis, junto ao Núcleo Bandeirante”, reconhece Ernesto Silva. “Até que se inaugurasse o Hospital São Vicente de Paulo, em 1959, o Hospital Volante das Pioneiras resolvia todos os casos simples naquela cidade-satélite”, acrescenta. O hospital-base Inaugurado em 12 de setembro de 1960, quando se comemora o nascimento de JK, o Hospital de Base (na origem chamado de Hospital Distrital, vale lembrar) surgiu para ser, como o próprio nome entrega, a base de todo o “Plano Médico-Hospitalar” do DF, atendendo os habitantes do Plano Piloto. Dotado de equipamentos de ponta e todas as especialidades, fazia parte de um moderno e avançado modelo de instituição idealizado pelo médico Bandeira de Mello, um funcionário do Ministério da Saúde contratado pela Novacap àquela época. O sistema de atendimento médico previa ainda a construção de outros onze hospitais gerais e seis instituições rurais espalhados pela cidade e suas satélites, hoje denominadas de regiões administrativas do Entorno. “Era um sistema bem organizado e centralizado, com ramificações para todos os hospitais, mas que ficou prejudicado, de certa forma, pelo inchaço da cidade, dez anos depois de sua inauguração – o que aconteceu, com a determinação definitiva da vinda das embaixadas e de todos os ministérios nos anos 70”, lamenta o médico aposentado Claudio Luiz Viegas, autor do livro Fragmentos – Cinquenta anos de residência médica no Hospital de Base. Hospital de Base em seus primeiros dias, na década de 1960 | Foto: Arquivo Público Referência na região central do país, com mais de 600 mil atendimentos anuais no pronto-socorro e no ambulatório, o Hospital de Base marcou e norteou toda uma geração de profissionais da saúde que vieram de várias partes do Brasil tentar a sorte no Cerrado. Foi o que aconteceu com o paulista de origem árabe Hélcio Luiz Miziara, o primeiro patologista de Brasília e um dos primeiros médicos legistas do DF. “Assinei contrato com a FHDF [Fundação Hospitalar do Distrito Federal] em janeiro de 1961, depois de ser escolhido entre três candidatos de alto nível”, conta o pioneiro, que está prestes a completar 86 anos. “O Hospital de Base contava com um staff de alta qualidade, onde trabalhavam profissionais de alta qualidade, com passagem pelos Estados Unidos e Europa. O Hospital de Base era onde todo mundo queria ficar”, recorda o médico, ele próprio aluno residente em Anatomia Patológica no Hospital Mercy, em Pittsburgh (Pennsylvania, EUA). [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] Muito de sua experiência de mais de 40 anos como profissional de relevante unidade hospitalar do DF está relatado, agora, no livro Hospital que nós amamos – Hospital Distrital, que acaba de concluir. Ele pretende lançar a obra após o surto de pandemia que assola o DF e todo o país. São histórias de exemplo e passagens curiosas, como o período em que trabalhou na formação técnica de auxiliares de saúde do hospital – entre eles um jovem tímido que explodiria nacionalmente, anos depois, chamado Ney Matogrosso. “Eu estava lá quando o presidente Tancredo Neves foi hospitalizado… São muitas histórias que narro como forma de agradecimento à cidade”, arremata.
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Orédio Alves de Rezende, pioneiro das autopeças no DF
Induspina, a primeira loja para peças de automóveis no DF | Foto: Arquivo pessoal Parecia um domingo de sol como outro qualquer, quando o empresário Orédio Alves de Rezende decidiu levar a família para um piquenique ali nos arredores do Aeroporto Internacional de Brasília. Era final dos anos 1960 e o lugar era ermo, como quase toda a cidade na época. “A estrada que ia para o aeroporto passava pela Velhacap, hoje, Candangolândia”, lembra o pioneiro. De repente, um susto. Estaciona atrás de seu DKW-Vemaguet cinza um carro preto. “Era o presidente Juscelino Kubitschek, que ia para o aeroporto pegar um avião. Só ele e o motorista. Desceu do carro, deu um beijinho nas crianças, pegou um pedaço de qualquer coisa para comer e foi embora”, recorda. “Nessa história pouca gente acredita”, ri. Goiano de Pires do Rio, Orédio Alves, hoje com 83 anos, é daqueles desbravadores que chegaram a Brasília quando a cidade era um enorme canteiro de obras. Ou seja, bem antes da inauguração da nova capital, em 21 de abril de 1960. Havia poeira espalhada por toda a cidade – um verdadeiro manto vermelho estendido no horizonte. A vinda foi em 1957, para a Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, com a missão de instalar na Segunda Avenida, nº 970, a filial da Induspina Autopeças, primeira unidade da empresa fora de Goiás e a primeira loja do ramo no Distrito Federal. Pioneira no ramo de peças de veículos, a Induspina abriu a primeira loja no Núcleo Bandeirante | Foto: Arquivo pessoal O terreno foi cedido, pessoalmente, por Bernardo Sayão, engenheiro da equipe do arquiteto Oscar Niemeyer e do urbanista Lucio Costa – responsáveis pela idealização e construção de Brasília. “As pessoas achavam que eu estava doido ao vir para cá sozinho. Quando cheguei, camarada, aqui era tudo isolado, não tinha ninguém conhecido, só barulho de máquina dia e noite”, conta. “Eu vim para Brasília por causa do Bernardo Sayão, ele era sogro de um dos Pina, família que dominava Goiás na época, e da qual meu patrão fazia parte. Um dia, ouvi uma conversa deles assim: ‘se vocês, que são goianos, não se interessam por lá [Brasília], quem vai se interessar? Vocês têm que abrir uma loja lá’”. Sugestão dada, seu Orédio assentiu e seguiu as dicas. Filme O Legado de um Pioneiro, disponível apenas no Youtube, conta a história do pioneiro Orédio Alves de Rezende | Foto: Reprodução Homenageado em novembro deste ano com o título de Cidadão Honorário de Brasília, concedido pela Câmara Legislativa do DF, o empresário teve sua trajetória transformada em filme. Com duração de 60 minutos, O Legado de um Pioneiro – disponível apenas no Youtube -, é mais do que o resgate de uma vida, é a evidência dos princípios de um homem cujo maior prazer sempre foi trabalhar. “A primeira ideia era escrever um livro, mas o filme se tornou um projeto mais viável”, conta o produtor e roteirista Flávio Resende, filho de Orédio. “É a história de um homem que dedicou a vida ao trabalho, os seus valores. Sua trajetória é uma inspiração para as novas gerações”, avalia. Referência no mercado A Induspina tem até hoje uma loja na W3 Sul | Foto: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília Graças ao esforço do pioneiro, a Induspina Autopeças, uma das raras empresas nascidas antes da inauguração da cidade – ainda em atividade – , se tornaria, em pouco tempo, uma referência no segmento. Sobretudo porque disputava a concorrência no mercado local com uma única empresa, a Peças Moreira. Com o sucesso do negócio, veio a expansão. O lugar escolhido para a nova sede seria a 514 na W3 Sul. Naquele ano de 1960, mesmo com a inauguração da cidade, poucos lojistas se arriscavam a ter um empreendimento na rua comercial mais popular do DF – W3. Existiam apenas a Bibabô, loja de departamentos, o restaurante Roma e a Pioneira da Borracha, essas duas ainda em funcionamento. O empresário Orédio: “Gosto muito de Brasília, vi essa cidade crescer” | Foto: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília “Todas as empreiteiras que trabalharam na construção de Brasília eram cadastradas na Induspina. O que eu tinha de peça, vendia, porque não tinha onde comprar, e as máquinas e caminhões trabalhavam dia e noite. Com isso, a empresa foi ficando muito popular, muito benquista”, explica. “Eu nunca deixei de atender uma pessoa que batesse na minha porta. Podia ser qualquer hora da noite ou da madrugada”, lembra, orgulhoso. Assim, trabalhando de sol a sol, um belo dia de 1964, Orédio aceitou abrir sociedade e expandiu os negócios, totalizando, até o final dos anos 1980, cinco filiais: Núcleo Bandeirante, Asa Sul, Taguatinga Centro, SIA e Asa Norte, congregando 80 funcionários. Hoje, há apenas uma loja, na W3 Sul, com 11 empregados. “Tudo o que sei eu aprendi com o seu Orédio”, se emociona Ronaldo Leite, que trabalha há mais de 20 anos na empresa. A carteirinha de pioneiro de Brasília | Foto: reprodução “Gosto muito de Brasília, vi essa cidade crescer”, afirma o empresário, que faz questão de exibir a carteirinha da Associação dos Candangos Pioneiros de Brasília. Afastado da empresa por motivo de saúde, ele dedica seu tempo, há mais de 20 anos, à fazenda Santa Rosa, a 78 km de Brasília. “Eu sou filho de fazendeiro, trabalhei na roça”, conta. Orédio lembra ainda que, no fim dos anos 1970, quase início da década seguinte, foi considerado o maior produtor de gado Gir (raça originária do Norte da Índia) da região. “Participei de tudo quanto é exposição, tenho a parede forrada de taças que ganhei com o meu gado”, revela.
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Atahualpa Schmitz, o dono do asfalto
Atahualpa coordenou as obras do aeroporto de Brasília, nos primeiros tempos da nova capital / Fotos: Arquivo pessoal/Atahualpa Schmitz Um dos primeiros sujeitos a pisar no chão vermelho de Brasília foi o engenheiro Atahualpa Schmitz Prego. Atualmente com 93 anos e vivendo em um casarão no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, sua terra natal, ele conversou por telefone com a reportagem da Agência Brasília. Conta que chegou aqui “no susto”, em outubro de 1956, depois de saber que a empresa na qual trabalhava, a mítica Metropolitana, havia sido contratada para “uns serviços” num lugar inóspito e distante do litoral. Enfim, longe de tudo. Parecia até sinopse do romance Coração das Trevas, de Joseph Conrad. Mas não tinha nada a ver com ficção. “De cara, engenheiros experientes da firma recusaram a proposta; aceitei, depois de muita insistência do chefe”, lembra Atahualpa. “Cheguei a Brasília 20 dias depois da primeira viagem de Juscelino [Kubitschek] à região. Era um cerradão danado. Fui com a condição de levar mulher e filhos, que eram pequenos. Ela [a esposa] era muito prática e corajosa, me ajudou aguentar a dureza do começo”. Engenheiro especialista em malha asfáltica da Companhia Metropolitana de Construção – perita em obras de terraplanagem e pavimentação, com sede no Rio de Janeiro –, ele trouxe na bagagem 31 anos de vida e a experiência de mais de 300 mil metros de estradas pavimentadas pelo país. A primeira missão abraçada já foi épica: construir a pista do aeroporto. Acabou fazendo tudo, inclusive a estação provisória de passageiros, toda de tábuas. “Construímos a pista, o pátio, o estacionamento, o terminal de abastecimento, toda parte norte do aeroporto, que ficou com 3.300 metros por 46 metros, uma média expressiva, mais o prédio da estação”, enumera. Sob seu comando, lembra, labutavam aproximadamente de 60 operários. “Era um bocado de gente que trabalhava em máquinas e nas obras. A pista, que tinha 67 cm de espessura, até hoje está boa”. [Olho texto=”Cheguei a Brasília 20 dias depois da primeira viagem de Juscelino à região. Era um cerradão danado” assinatura=”Atahualpa Schmitz Prego, engenheiro ” esquerda_direita_centro=”direita”] Essas e outras dezenas de histórias acabam de ser reunidas num livro com mais de três mil páginas, intitulado Entrelinhas da Construção – Brasília. A obra, que será lançada em cinco volumes, estará disponível na internet, via loja virtual, e descreve, com a riqueza de detalhes e as delícias das memórias de um verdadeiro desbravador, as aventuras de mais de uma década vividas por aqui. “Até o momento, já temos as duas primeiras edições prontas”, antecipa o pioneiro. “Gosto muito de Brasília, eu a vi crescendo”, comenta, saudoso. Salvando Leonel Brizola e JK Momentos tragicômicos, heroicos e marcantes dessas sagas candangas, Atahualpa coleciona aos montes. Certa vez, andando de jipe pela cabeceira da pista do aeroporto, viu um avião fazendo pouso de emergência, raspando o chão, entre labaredas de fogo. Logo desembarca um assustado Leonel Brizola (à época, governador do Rio Grande do Sul), prontamente levado por ele a um hospital. Em outra ocasião, para receber o avião de Juscelino Kubitschek, o engenheiro ajudou a iluminar a pista do aeroporto com improvisadas buchas de balão, que foram acesas com estopas lambuzadas de graxa e sebo de carneiro. “Ainda levei uma espinafrada dele, porque o aeroporto não estava pronto”, diverte-se. Mas a construção da pista do aeroporto e de sua primeira sede para passageiros seria só a ponta do iceberg da contribuição que esse pioneiro de primeira ordem deu à cidade. Dos primeiros acampamentos da empresa Metropolitana que montou, na antiga Cidade Livre, nasceu o Núcleo Bandeirante. Também ajudou a escavar o cascalho para a construção do Catetinho, o palácio de tábua, primeira morada de JK em Brasília. Quando riscaram no chão do Cerrado o marco zero de onde brotaria a cidade, lá estava ele. Mas nada se compara à base do primeiro asfalto que cobriu as vias urbanas desenhadas por Lucio Costa para o Plano Piloto. Para esse projeto, Atahualpa desenvolveu rigorosos estudos do terreno, sendo o primeiro a implantar por aqui a técnica de preparo do solo e revestimento. Tudo foi realizado em um laboratório montado na Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) –, da qual ele chegou a ser presidente, por um curto período, em 1962. “Revirei essa terra toda, formei centenas de fiscais de pista especializados em geotécnica”, relembra. “Fiz muita coisa na zona sul da cidade – as tesourinhas, os pontilhões que passam por cima delas. Não gostava, era muito chato e cansativo, mas o Jango [João Goulart, então presidente] me pediu para segurar as pontas até ele indicar alguém politicamente.” Atahualpa também esteve à frente dos trabalhos de pavimentação do Lago Norte, de algumas estradas-parques e de trechos das rodovias BR 060 e 070. [Olho texto=”Revirei essa terra toda, formei centenas de fiscais de pista especializados em geotécnica” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”] Sobrinho de Atahualpa Schmitz, , o jornalista, sociólogo, cineasta e professor de cinema Sérgio Moriconi acaba de gravar depoimentos do tio para utilizar em um documentário. O projeto, ainda em fase bem embrionária, assim como os livros publicados pelo engenheiro pioneiro, vai ajudar a eternizar os feitos de um homem que teve sua vida e alma misturadas ao cascalho batido e ao piche negro que besuntou os milhares de quilômetros do asfalto da nossa cidade. “É uma figura incrível, importante para a história de Brasília, e merece ter sua rica trajetória e relação com a cidade resgatadas”, defende Moriconi. Atahualpa (terceiro a partir da esquerda) / Fotos: Arquivo pessoal/Atahualpa Schmitz
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