Resultados da pesquisa

Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

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Em pesquisa apoiada pela FAPDF, vacina avança como alternativa contra câncer de mama agressivo

O dia 27 de novembro, Dia Nacional de Combate ao Câncer, além de marcar um momento de conscientização, reforça a importância de investir em ciência para ampliar as possibilidades de prevenção, diagnóstico e tratamento. Entre os estudos que avançam nesse caminho, destaca-se uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) que tem desenvolvido uma vacina terapêutica in situ — aplicada diretamente no local do tumor, sem necessidade de preparo prévio em laboratório — com potencial para fortalecer a resposta natural do organismo contra o câncer de mama. A iniciativa é apoiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio do edital Demanda Induzida (2022), e coordenada pelo professor João Paulo Longo, do Instituto de Ciências Biológicas da UnB — reconhecido como Pesquisador Inovador do Setor Empresarial no 4º Prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação, deste ano. Inovação baseada em décadas de pesquisa O projeto reúne mais de 20 anos de avanços em nanotecnologia, fototerapia e imunologia tumoral. Estudos anteriores do grupo demonstraram o controle de metástases pulmonares em modelos 4T1 — um dos mais agressivos para o estudo do câncer de mama. Momento de preparação das amostras que compõem as etapas experimentais da vacina terapêutica in situ | Foto: Arquivo Pessoal Esses resultados vêm sendo construídos por uma equipe multidisciplinar e já foram publicados em revistas científicas internacionais. Entre os autores, além do professor João Paulo Longo, estão pesquisadoras e pesquisadores como Camila Magalhães Caradador, Luana Cristina Camargo e outros integrantes do grupo de imunoterapia e nanobiotecnologia da UnB, que assinam estudos em periódicos como Current Pharmaceutical Design e Biomedicine & Pharmacotherapy. Essas pesquisas mostraram que fármacos como a doxorrubicina, uma quimioterapia capaz de destruir células tumorais, também ativam sinais que estimulam o sistema imunológico. Esse processo, chamado de morte celular imunogênica (MCI), ocorre quando as células cancerígenas liberam moléculas que atraem e ativam células de defesa, funcionando como um alerta natural do organismo. Esse entendimento abriu caminho para uma nova abordagem: transformar o próprio tumor em um ponto de ativação da resposta imune. E é esse o princípio da vacina terapêutica in situ. Aplicada diretamente no tumor ou ao redor dele, ela estimula o sistema imunológico dentro do próprio organismo, sem necessidade de preparo prévio em laboratório. Em vez de receber uma vacina pronta, o corpo reage aos sinais liberados pelo próprio tumor, tornando o processo mais direto e potencialmente mais aplicável na prática clínica. A partir desse princípio, o grupo desenvolveu um sistema emulgel nanoestruturado — um tipo de gel que combina água e óleo na mesma formulação, criando uma base estável capaz de carregar e liberar medicamentos de forma controlada no local aplicado. Nessa mistura, surfactantes permitem que o gel forme pequenas gotículas estáveis em contato com a água. Essas nanogotículas, extremamente pequenas (milhões de vezes menores que um grão de areia), atuam como veículos para transportar os fármacos. O sistema também incorpora imunoadjuvantes, substâncias que intensificam a resposta do sistema imunológico. João Paulo Longo no 4º Prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação | Foto: Marck Castro Segundo o professor Longo, essa estratégia cria “um depósito artificial que libera de forma controlada as moléculas produzidas pela morte celular imunogênica”, favorecendo a ativação de células de defesa, como dendríticas, monócitos e neutrófilos, essenciais para iniciar a resposta antitumoral. Como funciona a vacina terapêutica in situ Na etapa de aplicação, o emulgel atua como um veículo que entrega aos poucos fármacos capazes de induzir a MCI — como doxorrubicina, paclitaxel ou mitoxantrona — associados a imunoadjuvantes que reforçam a ativação do sistema imunológico. Por ser termossensível, a liberação dessas moléculas se intensifica com o aumento da temperatura na região, algo comum em processos inflamatórios ao redor do tumor. A MCI envolve três sinais bioquímicos principais: exposição de calreticulina — proteína que migra para a superfície da célula e sinaliza para que seja eliminada; liberação de ATP (adenosina trifosfato) — molécula que atua como alerta químico indicando dano; liberação de HMGB1 (High Mobility Group Box 1) — proteína que atrai células do sistema imunológico ao local. Esses sinais são chamados de DAMPs (Padrões Moleculares Associados a Dano), um conjunto de mensagens químicas que avisam ao sistema de defesa que o organismo precisa reagir. Para verificar se a vacina é capaz de induzir esses sinais ao longo do tratamento, o estudo segue um cronograma específico de aplicação das doses e acompanhamento da resposta imunológica. Esse esquema mostra a rotina experimental usada na pesquisa e ajuda a visualizar como o tumor reage ao longo das semanas.  Avaliação, impactos e resultados esperados Os resultados da vacinação serão medidos por indicadores como: redução do tumor primário; controle de metástases pulmonares; presença de infiltrado linfocitário, grupo de células de defesa que indica ativação do sistema imunológico. Nos modelos pré-clínicos utilizados, o tumor primário é de mama, mas a disseminação costuma atingir o pulmão — por isso, esse órgão é monitorado como o principal local de metástase durante o estudo. Imagem obtida pelo sistema IVIS (In Vivo Imaging System), que utiliza luz para acompanhar o crescimento tumoral em modelos pré-clínicos. As duas imagens superiores mostram os grupos-controle: à esquerda, animais sadios; à direita, animais com tumores em progressão, identificados pelo brilho mais intenso. As imagens inferiores correspondem aos grupos imunizados, sendo que o grupo à direita apresentou a melhor resposta ao tratamento, com menor sinal tumoral | Foto: Divulgação  As análises incluem: tomografia computadorizada, bioluminescência, técnica que utiliza luz emitida por células marcadas para acompanhar a evolução tumoral; imunohistoquímica, método que revela células do sistema imune nos tecidos. “Durante o estudo pré-clínico, conseguimos rastrear em tempo real como os tumores e as metástases evoluem após a vacinação. Isso nos dá uma visão precisa da eficácia do sistema e do tipo de resposta imunológica que conseguimos induzir”, explica o professor Longo. O sistema também é altamente personalizável, permitindo ajustes nos fármacos e nos componentes conforme o tipo de tumor, ampliando seu potencial para outras neoplasias sólidas. Desafios e próximos passos O desenvolvimento de um sistema nanoestruturado eficaz envolve desafios como: garantir a estabilidade da formulação; controlar a liberação dos fármacos; preservar a capacidade imunogênica nos tecidos subcutâneos. Após os resultados pré-clínicos, uma das próximas etapas é avançar para estudos em pacientes veterinários, estratégia já adotada pelo grupo em outros projetos e que pode contribuir para validações regulatórias e aplicações clínicas futuras. “A grande esperança das imunoterapias é oferecer tratamentos personalizados, menos tóxicos e mais eficazes”, afirma Longo. “Se conseguirmos resultados semelhantes aos obtidos em laboratório, poderemos estar diante de uma inovação acessível para um grande número de pacientes.”  Apoio institucional e impacto para o Distrito Federal Para o professor Longo, o apoio da FAPDF tem sido decisivo para a consolidação da pesquisa em nanobiotecnologia e imunologia tumoral no Distrito Federal. “Grande parte dos equipamentos que utilizamos hoje foi adquirida com recursos da FAPDF, incluindo sistemas de imagem e infraestrutura laboratorial. Sem esse apoio, muitos desses estudos simplesmente não existiriam”, destaca. Ele reforça ainda o papel da fundação na formação de novos pesquisadores: “Alguns estudantes recebem bolsas, e grande parte dos materiais utilizados ao longo do projeto é financiada pela FAPDF”, conta.  Para o presidente da fundação, Leonardo Reisman, iniciativas como esta mostram o impacto real da ciência produzida no DF: “Apoiar pesquisas que transformam a vida das pessoas é a essência da FAPDF. Projetos como este mostram que a ciência do Distrito Federal tem capacidade de gerar soluções reais para desafios que impactam milhares de famílias. A inovação não acontece apenas nos grandes centros internacionais — ela acontece aqui, nos nossos laboratórios, pelas mãos de pesquisadores comprometidos com o futuro da saúde brasileira”, afirma. Vacinas terapêuticas baseadas em MCI representam uma das frentes mais promissoras da oncologia contemporânea. Com menor toxicidade e maior personalização, esse tipo de abordagem tem potencial para ampliar o acesso a terapias mais seguras, eficazes e humanizadas — especialmente em um país onde o câncer de mama permanece entre as principais causas de mortalidade. *Com informações da FAPDF  

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Pesquisadoras que marcaram a história da ciência no Distrito Federal serão homenageadas

A Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) realiza, no dia 4 de novembro, às 19h, a cerimônia do 4º Prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação, evento que nesta edição celebra também os 33 anos da Fundação. Neste ano, o prêmio presta uma homenagem especial a três mulheres que deixaram marcas profundas na história da pesquisa do Distrito Federal e seguem inspirando novas gerações de cientistas: Mercedes Bustamante, Maria Sueli Felipe e Rose Monnerat. A homenagem integra a série documental da FAPDF Memória Científica do DF, iniciativa que reconhece pesquisadores e pesquisadoras cuja trajetória ajudou a consolidar o ecossistema de ciência, tecnologia e inovação da capital. As três cientistas têm diferentes trajetórias, mas compartilham o mesmo legado — o de transformar o Distrito Federal em referência em pesquisa e inovação. Sobre as homenageadas Mercedes Bustamante Bióloga e professora titular do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante é uma das maiores referências em ecologia e mudanças ambientais globais no Brasil. Sua trajetória, marcada por décadas de dedicação à pesquisa sobre o Cerrado e a sustentabilidade ambiental, teve impacto direto na formulação de políticas públicas e em ações de conservação em todo o país. Bióloga e professora titular do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante é uma das maiores referências em ecologia e mudanças ambientais globais no Brasil | Fotos: Divulgação/FAPDF Membro da Academia Brasileira de Ciências, Mercedes é reconhecida tanto por sua excelência acadêmica quanto por seu papel institucional na consolidação da ciência no Distrito Federal. Sua carreira também reflete uma parceria histórica com a FAPDF, que apoiou diversas etapas de sua produção científica. Maria Sueli Felipe Professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) e professora aposentada do Instituto de Biologia da UnB, Maria Sueli Felipe construiu uma trajetória sólida e inspiradora nas áreas de micologia, biotecnologia e biodiversidade. Pioneira nos estudos sobre fungos e microrganismos no Centro-Oeste, foi responsável por fortalecer a pesquisa em biologia e consolidar a UnB como referência nacional nesse campo. Professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) e professora aposentada do Instituto de Biologia da UnB, Maria Sueli Felipe construiu uma trajetória sólida e inspiradora nas áreas de micologia, biotecnologia e biodiversidade Ao longo de sua carreira, formou gerações de cientistas e se destacou pelo compromisso ético, pela excelência acadêmica e por sua atuação incansável em incentivar a presença de mulheres na ciência, deixando um legado de conhecimento e de exemplo humano. Rose Monnerat Pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Rose Monnerat é doutora em genética e biologia molecular e uma das principais referências brasileiras em bioinsumos e controle biológico. Sua pesquisa contribuiu para o desenvolvimento de soluções sustentáveis para a agricultura, promovendo a redução do uso de agrotóxicos e a valorização da biodiversidade nacional. Pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Rose Monnerat é doutora em genética e biologia molecular e uma das principais referências brasileiras em bioinsumos e controle biológico Com uma carreira voltada à inovação e à sustentabilidade, Rose representa o compromisso da pesquisa pública com um futuro mais equilibrado, tecnológico e ambientalmente responsável. Tributo Para o diretor-presidente da FAPDF, Leonardo Reisman, a homenagem reflete o compromisso da Fundação em reconhecer o papel transformador da ciência e o protagonismo das mulheres que a constroem: “Celebrar essas três pesquisadoras é reconhecer o impacto humano e social da ciência e manter viva a nossa missão”, destaca Reisman. Assista aos episódios da série Memória Científica do DF: - Mercedes Bustamante - Maria Sueli Soares Felipe - Rose Monnerat *Com informações da FAPDF

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Aplicativo Ativa Mente une tecnologia e saúde para promover qualidade de vida aos idosos

Com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) estão desenvolvendo o aplicativo Ativa Mente, uma inovação em gerontotecnologia — área que integra envelhecimento humano e tecnologia para promover qualidade de vida na terceira idade. A proposta é voltada à promoção do autocuidado, da saúde cognitiva e do bem-estar de idosos com Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), como diabetes e hipertensão. A iniciativa dá continuidade ao projeto Viva Bem, antes restrito ao acompanhamento de idosos com diabetes, e agora ampliado para um público mais diverso. O diferencial do Ativa Mente está na abordagem integral: além de funcionalidades já conhecidas, como lembretes de medicamentos e incentivo à prática de exercícios físicos, a nova versão incorpora estimulação cognitiva (memória, atenção e orientação), buscando preservar a autonomia do idoso e estimular corpo e mente de forma integrada. Do apoio à inovação O projeto foi contemplado pelo edital FAPDF Learning (2023), recebendo R$ 1 milhão em recursos. O investimento viabilizou a aquisição de equipamentos, o desenvolvimento tecnológico e a concessão de bolsas de pesquisa, assegurando condições para que a equipe multidisciplinar da UnB conduzisse o trabalho com rigor científico. Idoso participa das etapas de validação do aplicativo Ativa Mente, que estimula corpo e mente para promover qualidade de vida | Foto: Arquivo pessoal Participam do projeto docentes e discentes de diferentes áreas — enfermagem, ciência da computação, design, psicologia e educação física —, sob a coordenação da professora Silvana Schwerz Funghetto, especialista em envelhecimento humano e tecnologias educacionais. Segundo a pesquisadora, o aporte da FAPDF foi determinante: “O apoio da fundação permitiu estruturar todas as etapas do projeto, desde a análise inicial até a validação junto aos usuários. Trata-se de um investimento que não apenas fortalece a ciência local, mas também responde a uma demanda social urgente”. Rigor científico e validação tecnológica O desenvolvimento do aplicativo segue o método Design Instrucional Contextualizado (DIC), estruturado em cinco etapas (análise, design, desenvolvimento, implementação e avaliação). A validação envolve oficinas participativas e testes com idosos do Distrito Federal, assegurando que a tecnologia atenda às reais necessidades do público-alvo. Para garantir qualidade e confiabilidade, o projeto utiliza instrumentos reconhecidos internacionalmente: - SF-36, questionário de 36 itens que mede a qualidade de vida relacionada à saúde, avaliando aspectos como vitalidade, capacidade funcional, dor e saúde mental; - System Usability Scale (SUS), escala simples e consolidada que mensura a usabilidade de sistemas digitais a partir da experiência dos usuários; - Technology Acceptance Model (TAM), modelo que avalia a aceitação tecnológica considerando utilidade percebida e facilidade de uso. [LEIA_TAMBEM]O conceito de autocuidado — central no projeto — diz respeito à capacidade do idoso de gerir sua própria saúde de forma ativa, fortalecendo sua autonomia e reduzindo a dependência de serviços de alta complexidade. Impactos e relevância social A Ativa Mente deverá alcançar o nível máximo de maturidade tecnológica (TRL 9 — estágio que indica plena prontidão de uso), com registro de propriedade intelectual junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e disponibilização gratuita nas plataformas Google Play e Apple Store. Além de apoiar o autocuidado dos idosos, a ferramenta permitirá gerar relatórios analíticos que poderão subsidiar políticas públicas e estratégias de atenção primária em saúde, contribuindo para a redução de internações hospitalares e para a eficiência do Sistema Único de Saúde (SUS). O reconhecimento da inovação já começou. O projeto recebeu menção honrosa em 2º lugar no II Congresso Internacional de Tecnologia, Inovação e Gerontologia e no III Seminário Internacional de Inovação e Longevidade, realizados em São Paulo. Para a professora Silvana Schwerz Funghetto, a relevância da iniciativa vai além do desenvolvimento tecnológico: “O aplicativo não é apenas uma ferramenta de monitoramento, mas um aliado direto para que o idoso seja protagonista do seu cuidado, preservando sua independência e qualidade de vida por mais tempo”. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

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Hormônio do estresse no cabelo: técnica com nanopartículas promete diagnóstico rápido e sem exames invasivos

Um método inovador desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB) promete transformar a forma como avaliamos o estresse crônico. A pesquisa, coordenada pelo professor Juliano Alexandre Chaker, utiliza fios de cabelo e nanopartículas de carbono para medir o cortisol, o chamado “hormônio do estresse”, com rapidez, precisão e sem necessidade de exames invasivos. Com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio do Edital Learning 2023, o projeto une ciência de ponta e inovação tecnológica para oferecer diagnósticos acessíveis e confiáveis, com potencial de aplicação em saúde pública, toxicologia forense e meio ambiente. Inovação científica: como funciona o método O cortisol é um dos principais indicadores fisiológicos do estresse, mas sua medição tradicional em exames de sangue é altamente sensível a variações do momento da coleta. Situações cotidianas — como enfrentar um engarrafamento antes de ir ao laboratório — podem alterar significativamente os resultados. Além disso, os níveis de cortisol mudam ao longo do dia, acompanhando os ciclos circadianos, ou seja, o “relógio biológico” que regula nossas funções em um período de 24 horas, o que dificulta diagnósticos consistentes. A proposta da pesquisa é superar essas limitações utilizando o cabelo como matriz de análise. Trata-se de uma amostra não invasiva, que acumula não apenas cortisol, mas também outros glicocorticoides (hormônios produzidos pelas glândulas adrenais, acima dos rins), metais e poluentes. Cada centímetro de cabelo corresponde, em média, a um mês de registro biológico, permitindo que os pesquisadores realizem uma espécie de “linha do tempo” do estresse. Equipamento de espectrometria de massas MALDI-TOF, peça central do método inovador desenvolvido na UnB | Fotos: Arquivo pessoal/Juliano Alexandre Chaker Para viabilizar a análise, o grupo desenvolveu uma adaptação da técnica de espectrometria de massas MALDI-TOF (dessorção/ionização a laser assistida por matriz — tempo de voo, em inglês Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization — Time of Flight), um equipamento de alta precisão normalmente utilizado para estudar proteínas de alto peso molecular. O diferencial está no uso de nanopartículas de carbono como matriz ionizante, o que gera espectros mais limpos e possibilita a detecção de moléculas pequenas, como o cortisol, sem interferência de sinais sobrepostos. As amostras são aplicadas em placas específicas, que funcionam como suporte dentro do equipamento durante a leitura. Cada placa comporta centenas de pontos de análise e, uma vez posicionada no MALDI-TOF, os resultados são gerados em questão de segundos. Da coleta ao resultado em segundos O processo começa com a coleta de pequenas mechas de cabelo, que servem como amostra não invasiva. Em laboratório, o cortisol é extraído com solventes específicos, misturado às nanopartículas de carbono e aplicado em placas de análise. Cada placa comporta mais de 300 amostras e o equipamento processa cada uma em apenas cinco segundos, fornecendo resultados com altíssima precisão e em grande escala. Atualmente, o projeto se prepara para a fase de validação, que depende da aprovação do comitê de ética em pesquisa. A etapa prevê a coleta de amostras de cabelo de 50 voluntários, acompanhada de questionários sobre fatores de estresse. Os resultados obtidos com a técnica inovadora serão comparados a métodos de referência, como a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas — técnica considerada padrão-ouro, que separa os componentes de uma amostra antes de analisá-los, garantindo alta precisão, embora demande mais tempo e custo. Professor Juliano Alexandre Chaker, coordenador do Laboratório de Nanotecnologia Verde (NaVe/UnB), onde desenvolve pesquisas em nanotecnologia aplicada ao diagnóstico de estresse e toxicologia Assim, o estudo busca não apenas demonstrar rapidez e acessibilidade, mas também a equivalência em relação às técnicas tradicionais já consolidadas. Impactos esperados Segundo o professor Juliano Chaker, o objetivo é oferecer uma metodologia confiável e de baixo custo, que possa futuramente ser disponibilizada como serviço técnico especializado. “O potencial é enorme. Além do estresse crônico, podemos aplicar o método na toxicologia clínica e forense, incluindo a detecção de drogas de abuso e agentes intoxicantes em exames de rotina”, explica. Com resultados rápidos e a possibilidade de análises retrospectivas — olhando para meses de acúmulo registrados no cabelo — a técnica pode apoiar desde políticas públicas de saúde mental até investigações criminais, com ganhos em tempo, custo e confiabilidade. Apoio institucional e rede de colaboração O projeto conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio do Edital Learning 2023, que tem sido essencial para viabilizar bolsas, infraestrutura e atividades de pesquisa. “A FAPDF é fundamental para a vida do pesquisador no Distrito Federal. Sem esse apoio, seria inviável mantermos uma infraestrutura de ponta e formar novos talentos em áreas estratégicas como a nanotecnologia aplicada à saúde e ao meio ambiente”, afirma Juliano Chaker. A iniciativa é desenvolvida no Laboratório de Nanotecnologia Verde da Universidade de Brasília (UnB), coordenado pelos professores Juliano Alexandre Chaker e Marcelo Sousa, em parceria com programas de pós-graduação em Nanociência e Nanotecnologia da instituição. Além do fortalecimento acadêmico, o grupo mantém colaborações com órgãos como a Polícia Civil e a Polícia Federal, além de parcerias consolidadas em outros projetos com agências como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), ambas vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Essa rede de cooperação reforça o caráter multidisciplinar da pesquisa, ampliando suas perspectivas de aplicação tanto na saúde pública quanto na toxicologia forense e ambiental. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

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Abertas inscrições para o 6º período dos programas Participa e Publica

O Programa Difusão Científica da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) está com inscrições abertas, de 4 a 7 de agosto, para o 6º período dos editais 02/2025 (FAPDF Participa) e 03/2025 (FAPDF Publica), voltados ao fortalecimento da produção e da circulação do conhecimento científico no Distrito Federal. Arte: FAPDF O edital FAPDF Participa seleciona propostas de apoio à participação em eventos, cursos de curta duração e visitas técnicas, com atividades previstas para os meses de outubro e novembro. Já o edital FAPDF Publica tem como objetivo incentivar a publicação de artigos científicos em todas as áreas do conhecimento, com foco na ampliação da visibilidade da produção científica do Distrito Federal em periódicos qualificados. Para participar, os interessados devem acessar o site da FAPDF, ler atentamente os editais e submeter as propostas dentro do prazo previsto. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

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FAPDF divulga resultado preliminar do edital de pós-graduação

A Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) divulgou o resultado preliminar do Edital nº 05/2025 – Programa de Desenvolvimento de Pós-Graduação (PDPG), publicado no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) de 1º de agosto. Arte: FAPDF O edital tem como objetivo apoiar programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) de instituições de ensino superior do Distrito Federal, fortalecendo a qualificação acadêmica, a produção científica e o impacto regional da pesquisa desenvolvida no DF. Prazo para recursos Conforme previsto na publicação, os interessados têm o prazo de três dias úteis, contados a partir de 1º de agosto, para apresentar recursos. O resultado preliminar está disponível no site da FAPDF. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

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Incêndios florestais e riscos químicos: pesquisa avalia impacto da fumaça na saúde dos bombeiros do DF

Com a intensificação e maior frequência dos incêndios florestais no Distrito Federal, um estudo fomentado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) está investigando os riscos químicos aos quais os bombeiros militares estão expostos durante o combate ao fogo. O projeto, intitulado “Avaliação de risco químico para bombeiros militares por exposição à fumaça em incêndios florestais no Distrito Federal”, é conduzido pela professora Eloísa Dutra Caldas, da Universidade de Brasília (UnB), em parceria com o bombeiro militar e doutorando Fausto Jaime Miranda de Araújo, e foi selecionado pelo edital Demanda Espontânea (2022). Estudo visa contribuir para protocolos de segurança e políticas públicas com foco na saúde dos bombeiros militares | Foto: Divulgação/CBMDF A pesquisa é inédita no Brasil por avaliar a exposição dos bombeiros em condições reais de combate ao fogo, um desafio que coloca esses profissionais em contato direto com substâncias tóxicas e potencialmente cancerígenas. O estudo busca gerar dados concretos para embasar protocolos de segurança e políticas públicas voltadas à saúde ocupacional desses trabalhadores. Trajetória e motivação Com uma carreira consolidada na área da toxicologia, Eloísa Dutra Caldas é professora titular do Departamento de Farmácia da UnB desde 1997 e uma das principais referências no país em toxicologia ocupacional. Formada em química e mestre em química analítica pela UnB, fez doutorado em química ambiental pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, com foco nos impactos de substâncias químicas na saúde humana. Há mais de 20 anos, coordena pesquisas que avaliam riscos e exposição a contaminantes, sempre com o objetivo de proteger a saúde de trabalhadores em situações críticas. A proposta do estudo nasceu a partir da experiência do bombeiro militar Fausto Jaime Miranda de Araújo, doutorando em ciências da saúde na UnB. Graduado em agronomia e com mestrado em toxicologia alimentar, Fausto sempre esteve envolvido em projetos de pesquisa, mas foi sua vivência no Corpo de Bombeiros que acendeu o alerta para a falta de medidas preventivas no combate a incêndios florestais. O bombeiro militar e doutorando Fausto Jaime Miranda de Araújo usa máscara respiratória e coletor de amostras para análise das partículas presentes na fumaça, logo após o combate ao incêndio | Foto: Fausto Jaime/Projeto de Avaliação de Risco Químico “Desde o início do meu trabalho na corporação, percebi que a exposição à fumaça é um problema grave, especialmente nos incêndios florestais, onde muitas vezes não usamos nem máscaras de proteção. O poder público não tem dado a atenção devida a esse risco; e, com as mudanças climáticas, os incêndios tendem a aumentar”, explica. Além da experiência prática, Fausto também se especializou em engenharia de segurança do trabalho, o que fortaleceu sua compreensão sobre os perigos invisíveis que cercam os bombeiros. Para ele, este é um problema de saúde pública global: “Somente recentemente a comunidade científica começou a dar atenção à proteção dos bombeiros florestais. O cenário mundial, com incêndios cada vez mais intensos e frequentes, reforça a urgência de pesquisas como a nossa”. O que a fumaça revela: substâncias tóxicas e desafios de análise [LEIA_TAMBEM]As primeiras análises indicam a presença de poluentes altamente tóxicos, como benzeno, tolueno, xileno, etilbenzeno, formaldeído, acroleína e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) — compostos reconhecidos por causar sérios danos ao organismo, incluindo doenças respiratórias e câncer. Em várias amostras, os níveis detectados ultrapassaram em muito os limites ocupacionais recomendados, chegando a ser centenas de vezes maiores, no caso do benzeno. Coletar essas informações em condições reais de combate ao fogo foi um desafio à parte. Para garantir dados fiéis à realidade, a equipe desenvolveu um sistema de monitoramento com bombas de coleta instaladas nos uniformes dos bombeiros, exigindo grande logística e apoio do Corpo de Bombeiros. Mais de 100 tentativas em diferentes focos de incêndio foram necessárias para obter 35 amostras válidas, revelando o quão complexa é a tarefa de mensurar a exposição a substâncias invisíveis no calor do combate. Impacto e próximos passos Mais do que um avanço científico, o estudo tem um papel social evidente: proteger a saúde dos bombeiros e, indiretamente, da população exposta à fumaça. Os resultados preliminares reforçam a necessidade urgente de medidas como o uso de equipamentos de proteção respiratória adequados, algo que ainda não é rotina na corporação. A equipe agora está na fase de análise detalhada dos dados e na preparação de artigos científicos. Também está prevista uma nova etapa com a coleta de material biológico, como amostras de urina, para avaliar de forma ainda mais precisa os impactos da exposição química no organismo dos bombeiros. Com apoio da FAPDF, a pesquisa busca transformar esses resultados em recomendações práticas e políticas públicas, contribuindo para protocolos de segurança mais rigorosos e ações de prevenção que beneficiem não apenas a corporação, mas toda a população do DF, que também sofre os efeitos da fumaça durante os períodos de queimadas. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

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Tecnologia leva realidade aumentada à indústria do Distrito Federal

Com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), o projeto AuQUA-DF propõe soluções inovadoras que unem tecnologia de ponta à realidade produtiva do Distrito Federal e da Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno (Ride). O nome AuQUA é a sigla em inglês para Augmented-based Quality Assurance, que pode ser traduzido como Garantia de Qualidade Baseada em Tecnologias Aumentadas. A nomenclatura reflete o propósito do projeto de incorporar recursos avançados (como realidade imersiva, inteligência artificial e visão computacional) para otimizar processos de montagem e controle de qualidade no setor industrial. Protótipo do projeto AuQua DF em sua fase de testes | Fotos: Divulgação/FAPDF Coordenado pelo pesquisador Sanderson César Macêdo Barbalho, o projeto AuQUA-DF foi selecionado no âmbito do edital FAPDF Learning (2022). A iniciativa desenvolve um Sistema de Assistência ao Trabalhador Baseado em Inteligência Aumentada, voltado a operações manuais de montagem. A tecnologia fornece instruções dinâmicas por realidade aumentada (RA) e executa testes automatizados em tempo real, por meio de câmeras inteligentes e integração com dados CAD (modelos digitais de montagem criados por computador), experiências operacionais anteriores e conhecimento especializado. [LEIA_TAMBEM]Segundo o coordenador, o objetivo central é viabilizar esse sistema para pequenas e médias empresas, com foco em eficácia de custos e acessibilidade: “Estamos propondo um sistema baseado em câmeras e aprendizado profundo que permite fornecer instruções em tempo real e testar operações complexas de montagem, mesmo em ambientes com hardware limitado. Essa abordagem representa uma contribuição relevante para o campo da inteligência aumentada e sua aplicação prática na indústria”. O projeto conta com a participação de instituições de pesquisa renomadas, como Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de Araraquara e RWTH Aachen, da Alemanha. Também estão envolvidas empresas do setor industrial e tecnológico, como Extreme Digital Systems (EDS), Randon Implementos e Baldan Máquinas Agrícolas. Professor Sanderson César Macêdo Barbalho (à esquerda) com seus alunos do projeto AuQua DF Ao integrar tecnologias emergentes com metodologias participativas e foco na inclusão produtiva, o AuQUA-DF exemplifica como o apoio à pesquisa aplicada pode gerar soluções com impacto real no setor industrial. *Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF)

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