Pertencimento indígena fortalece diversidade no IgesDF
No Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado neste sábado (9), o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) destaca a trajetória da assessora técnica Maraline dos Santos Sales, que incorpora, em sua atuação, os valores do cuidado coletivo e da resistência ancestral. Nascida na Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, no município de Santa Cruz Cabrália (BA), Maraline cresceu entre o som da língua patxohã e os ensinamentos da coletividade. Filha da terra e da tradição, aprendeu desde cedo que viver em comunidade é escutar com o coração, zelar pelo outro com respeito e valorizar o que se constrói em grupo. “Minha identidade indígena influencia tudo em mim: meu olhar, minhas escolhas, meu jeito de lidar com as pessoas”, afirma. Assessora técnica do IgesDF, Maraline dos Santos Sales nasceu na Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, no município baiano de Santa Cruz Cabrália | Foto: Alberto Ruy/IgesDF Atualmente, Maraline é assessora técnica na área de gestão de pessoas do IgesDF, onde atua cuidando de quem cuida. Para ela, essa função se conecta diretamente com a vivência que teve na aldeia. “Crescer em comunidade me ensinou sobre escuta, zelo e responsabilidade coletiva. E é exatamente isso que levo para a minha missão profissional todos os dias”, diz. Caminho desafiador Maraline chegou a Brasília em busca de estudo e oportunidade, deixando para trás sua aldeia e encarando o desafio do desconhecido. “Vim sem conhecer quase nada nem ninguém. E mais difícil do que a distância física, às vezes, é lidar com o desconhecimento que as pessoas ainda têm sobre quem somos”, relata. A colaboradora do IgesDF conta que já ouviu frases como “Você anda pelada na aldeia?” ou “Índio pode ter celular?”. Perguntas que, além de ofensivas, revelam o peso dos estereótipos e o desconhecimento persistente sobre os povos indígenas. [LEIA_TAMBEM]Mesmo nunca tendo se sentido obrigada a justificar sua origem, Maraline reconhece que, em alguns momentos, precisou se posicionar com firmeza. “Ser indígena não é ter uma aparência única. Não vivemos todos na floresta. Estamos nos espaços urbanos, estamos estudando, trabalhando, liderando. E isso também é ser indígena. O que não dá é aceitar que apaguem nossa essência ou nos reduzam a uma imagem distorcida”, pontua. Sua presença no IgesDF representa mais do que um crachá de colaboradora – carrega toda uma vivência de resistência e visibilidade. “Estar aqui é ocupar um espaço que, por muito tempo, nos foi negado. É mostrar que podemos contribuir com competência e, ao mesmo tempo, com leveza e autenticidade, sem precisar abrir mão de quem somos”, ressalta. Quando perguntada sobre que conselho daria a jovens indígenas que sonham em ocupar espaços profissionais como o seu, ela responde com a sabedoria de quem abriu caminhos: “Leve sua história com você. Ela não te limita, ela te impulsiona. Dá para crescer, ocupar espaços e continuar sendo quem você é. E quanto mais a gente chega, mais outros se enxergam também. É sobre abrir caminho sem perder a essência”. Acolhimento Gerente-geral de Pessoas do IgesDF, Elaine Silvestre ressalta que receber Maraline na equipe tem sido uma experiência de troca e aprendizado: "Aqui no IgesDF, acolhemos com base na capacidade técnica e buscamos construir um ambiente seguro, onde todos possam se expressar com liberdade. Ter uma equipe plural, com pessoas como ela, nos ajuda a combater estigmas e enriquece não só os projetos, mas também as relações humanas”. *Com informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF)
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Políticas públicas do GDF visam proteção dos direitos da população indígena
Mais de 5,8 mil indígenas vivem no Distrito Federal, o equivalente a 0,21% do total de residentes. A população é considerada a segunda menor do país, conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e está incluída no leque de políticas públicas governamentais. Além disso, são desenvolvidas ações específicas para valorizar os originários, no âmbito de saúde, assistência social, cultura e mais. ?Nesta quarta-feira (9), é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1994. Nacionalmente, há também o Dia do Indígena, em 19 de abril, que visa contribuir com a preservação da cultura e da história das etnias brasileiras. A homenagem surgiu em 1943 com o nome de Dia do Índio e, em 2020, trocou de nomenclatura. A SES-DF dispõe de quatro equipes de referência para a saúde indígena, instaladas nas UBS 2 da Asa Norte, na UBS 1 e na UBS 3 do Morro Azul, ambas em São Sebastião e na UBS Cariru, na área rural do Paranoá | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil ?Conforme o censo do IBGE, os indígenas do DF são classificados como residentes fora de terras indígenas, tendo em vista a inexistência de terra indígena declarada ou legalmente instituída. De acordo com a professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do programa de pós-graduação em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais, Cristiane Portela, grande parte da população originária que reside na capital federal é oriunda do Nordeste. ?“O DF, historicamente, é um lugar de passagem de diversos povos. Tivemos populações que ocuparam o Planalto muito antes de nós”, explica. “Durante a construção de Brasília, trabalhadores de todo o país vieram para a capital e indígenas também atenderam a esse chamado, vindos principalmente do Nordeste. Hoje, temos uma população estimada em seis mil indígenas que vivem principalmente nas periferias”, afirma. ?O GDF está atento às demandas da população. A Secretaria de Saúde (SES-DF) dispõe de quatro equipes de referência para a saúde indígena, instaladas na Unidade Básica de Saúde (UBS) 2 da Asa Norte, na UBS 1 de São Sebastião, na UBS Cariru da região do Café Sem Troco, na área rural do Paranoá, e na UBS 3 do Morro Azul, em São Sebastião. As equipes atendem regularmente 230 indígenas Warao, 50 Kariri-Xokó e 130 Guajajara. ?A SES-DF observa que as populações “são muito itinerantes e nem sempre há esse contingente nas comunidades”. Além disso, cabe ressaltar que o número é inferior ao total de indígenas mapeados pelo censo do IBGE, tendo em vista que a maioria da população não reside em aldeias. ?As equipes promovem a assistência à saúde respeitando as especificidades culturais da população indígena, o rastreio e acompanhamento de doenças infectocontagiosas, a análise da situação vacinal, a atualização do calendário vacinal, entre outros pontos. Os serviços são oferecidos a outras etnias, caso haja solicitação. ?Além disso, a Gerência de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais (GASPVP) faz visitas regulares a essas comunidades com o intuito de realizar diagnóstico situacional para minimizar os riscos de saúde a que são submetidas as populações indígenas. Há ainda programas e linha de cuidados regulares, como saúde da criança, idoso, adolescente, mulher, homem, rastreio de hipertensão e diabetes, saúde bucal, vacina, conforme a carteira de serviços da atenção primária. ?Cuidado A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF) também estabelece medidas afirmativas para os cidadãos originários. O Centro de Referência Especializado de Assistência Social Diversidade (Creas) Diversidade, na Asa Sul, é específico para públicos indígenas, quilombolas, membros da comunidade LGBTQIA+ e afins. O atendimento é voltado a situações de discriminação, por orientação sexual, identidade de gênero, raça, etnia ou religiosidade. ?Por sua vez, a Equipe Imigrantes faz a oferta dos serviços, benefícios, programas e projetos socioassistenciais a pessoas vindas de outros países, por exemplo os membros da etnia Warao, indígenas provenientes da Venezuela. O Cras Móvel também atua junto às etnias no DF, levando atendimento socioassistencial a comunidades mais afastadas em ações concentradas. ?No âmbito da geração de emprego e renda, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda (Sedet) oferece vagas para indígenas refugiados e migrantes venezuelanos nos programas de qualificação profissional. O 1º Ciclo de 2023 do RenovaDF, por exemplo, tem a participação de 33 indígenas Warao. ?Abrigo da ancestralidade ?”O memorial é considerado uma instituição educacional, intelectual, científica e política indígena”, afirma o gerente do Memorial dos Povos Indígenas, David Terena | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília O Memorial dos Povos Indígenas é considerado um reduto da ancestralidade originária. Criado em 1987, o equipamento público é mantido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) e fica no Eixo Monumental, próximo ao Memorial JK. O visitante pode conhecer uma série de artefatos valiosos de etnias de todo o Brasil em uma exposição permanente. ?“O memorial é considerado uma instituição educacional, intelectual, científica e política indígena. É o lugar de discutir os problemas indígenas, em que podem apresentar a sua cultura”, afirma o gerente do equipamento público, David Terena. ?Neste ano, a Secec abriu linhas de investimentos em projetos sobre a cultura indígena dentro do Edital FAC (Fundo de Apoio à Cultura) Multicultural 2, cujas inscrições chegaram ao fim no dia 10 do mês passado. O destaque é uma vaga para projeto educativo no Memorial dos Povos Indígenas com aporte de R$ 350 mil, dentro da categoria Cultura de Todo Jeito. O proponente precisa garantir a realização de atividades educativas com o público geral e escolas públicas e privadas, além de cumprir uma série de critérios, para ser selecionado. ?Além disso, neste ano, foi criada uma linha específica para ações de formação para a Cultura Indígena e/ou Afrobrasileira. São duas vagas, sendo que cada uma oferece aporte de R$ 60 mil. O resultado do edital será divulgado em meados de dezembro. Aqueles que conseguirem os recursos terão até 12 meses para informar o período de execução e mais 24 meses para pôr a ideia em prática. ?Comemoração Os organizadores do Dia Internacional dos Povos Indígenas: Aptsi Juruna Xavante e Mirim Ju Yan Guarani | Foto: Arquivo Pessoal Uma celebração do Dia Internacional dos Povos Indígenas está marcada para este sábado (12). O evento foi organizado por três voluntários – os indígenas Aptsi Juruna Xavante, Jehn Karipuna e Mirim Ju Yan Guarani -, junto à administração do memorial. A partir das 14h30, haverá a contação de histórias para crianças, com contos e brincadeiras tradicionais. Às 15h30, ocorrerá um bate-papo com adultos, em que serão tratados momentos importantes para a cultura. ?O indígena Mirim Ju Yan Guarani, um dos organizadores, afirma que a ideia é honrar a sabedoria e resistência que permanecem vivas nos povos indígenas. “Para nós, esse espaço é muito sagrado”, afirma. Em abril, considerado um mês importante para a cultura, o grupo de voluntários também organizou uma série de eventos. ?“Queremos mostrar um pouco da diversidade das culturas, com vídeos sobre os nossos povos e atividades culturais, ao mesmo tempo em que falamos sobre as nossas diferenças e sobre o cuidado que temos com a natureza, um trabalho superimportante para o equilíbrio da vida”, ressalta. Arte: Secec ?Serviço Celebração do Dia Internacional dos Povos Indígenas Horário: a partir das 14h30 Programação: contação de histórias e bate-papo Endereço: Eixo Monumental Oeste, Zona Cívico-Administrativa, Praça do Buriti – em frente ao Memorial JK ? Memorial dos Povos Indígenas Horário de funcionamento: de terça a domingo e feriados, das 9h às 17h Telefones: (61) 3344-1155 e 3344-1154, para dúvidas gerais, solicitação de visita guiada ou pauta espontânea E-mail: mpi@cultura.df.gov.br Agendamento de visitas escolares: educativo.mpi@cultura.df.gov.br
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