Workshop reforça integração técnica e uso de evidências na investigação criminal
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), em parceria com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e com a Polícia Federal (PF), realizou nesta quarta-feira (10), o Workshop Interinstitucional de Homicídios – Dados, Evidências e Inovação. O encontro reuniu especialistas das forças de segurança e representantes do sistema de justiça criminal para fortalecer a atuação conjunta no enfrentamento à violência letal. O objetivo do workshop é o intercâmbio de metodologias, práticas investigativas e soluções inovadoras voltadas à elucidação de homicídios, com ênfase no uso estratégico de dados, evidências e ferramentas periciais. A iniciativa reforça a diretriz do programa Segurança Integral, que tem como base políticas públicas baseadas em evidências e o aprimoramento contínuo da investigação criminal. No encontro, foram apresentados estudos de caso, modelos de análise, integração de bancos de dados e abordagens tecnológicas | Foto: Divulgação/SSP-DF Durante o encontro, foram apresentadas experiências bem-sucedidas na integração entre inteligência policial, perícia, investigação e Ministério Público, incluindo estudos de caso, modelos de análise, integração de bancos de dados e abordagens tecnológicas que qualificam a produção de conhecimento sobre dinâmicas criminais. O diálogo interinstitucional também destacou a importância de fluxos padronizados, da interoperabilidade de sistemas e do compartilhamento seguro de informações para acelerar e qualificar respostas a crimes contra a vida. "Quando reunimos polícia judiciária, perícia, inteligência e instituições do sistema de justiça em torno dos mesmos dados e das mesmas evidências, ampliamos nossa capacidade de salvar vidas" Sandro Avelar, secretário de Segurança Pública Para o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, o evento é um avanço significativo na consolidação de uma política criminal orientada por ciência e cooperação. “Investigar homicídios com precisão, rapidez e responsabilidade exige integração. Quando reunimos polícia judiciária, perícia, inteligência e instituições do sistema de justiça em torno dos mesmos dados e das mesmas evidências, ampliamos nossa capacidade de salvar vidas. O Distrito Federal tem investido de forma consistente em tecnologias, bancos de dados integrados e estratégias baseadas em evidências. Encontros como este reafirmam nosso compromisso de seguir para que o DF continue avançando na redução de homicídios e na excelência da investigação criminal.” O secretário Executivo de Segurança Pública, Alexandre Patury, ressaltou a importância da Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídios e Feminicídios (CTMHF). “A câmara técnica é uma das estruturas mais importantes do país para compilação de dados qualitativos e quantitativos que são disponibilizados em uma base de dados utilizada por diferentes órgãos da federação”. Em seu discurso, Patury falou, ainda, da relação entre o controle de homicídios e o crime organizado. “No DF, o território é do Estado. É possível entrar em qualquer lugar, o que é fundamental para investigação e controle de crimes.” A iniciativa reforça o alinhamento entre SSP-DF, PCDF e PF na busca por respostas mais céleres, precisas e integradas, como afirmou o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da PF, Dennis Cali. “Reafirmamos o compromisso da Polícia Federal em fortalecer esta parceria interinstitucional, que é fundamental para o avanço das investigações e para a qualificação das nossas respostas ao crime. Colocamos toda a nossa equipe e estrutura à disposição para ampliar a cooperação técnica, aprimorar metodologias e seguir construindo, de forma integrada, soluções cada vez mais eficazes para o enfrentamento à violência letal.” Para Dennis Cali, a integração entre as forças é fundamental "para o avanço das investigações e para a qualificação das nossas respostas ao crime" [LEIA_TAMBEM]O delegado-geral adjunto da PCDF, Saulo Lopes, falou da importância da atuação interinstitucional dos órgãos. “A troca de ideias, dados e experiências é essencial para que possamos construir soluções conjuntas e cada vez mais eficazes no enfrentamento aos homicídios. As políticas públicas implementadas no Distrito Federal — como as ações de fechamento de distribuidoras irregulares e outras medidas integradas de prevenção — têm apresentado resultados concretos. O DF vem trabalhando de forma consistente para reduzir os crimes contra a vida, e os avanços já observados demonstram que estamos no caminho certo ao apostar na cooperação e na inteligência investigativa”. O workshop integra a agenda permanente de cooperação técnica entre instituições do DF e órgãos federais, ampliando as bases para ações mais efetivas de prevenção, investigação e responsabilização de crimes contra a vida. “Quando falamos em elucidação de homicídios, não existe uma única metodologia correta — mas sim abordagens que precisam ser adequadas à realidade brasileira e às necessidades de gestão. O que buscamos, com esse debate nacional, é justamente aprimorar a forma como aferimos a eficácia investigativa, entendendo que a elucidação é um indicador essencial para medir a capacidade das instituições em responder a um crime que produz enorme impacto social”, concluiu o coordenador da CTMHF, Marcelo Zago. *Com informações da SSP-DF
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Com tecnologia de ponta, Polícia Civil do DF é referência nacional em resolução de casos
A investigação criminal é uma área explorada massivamente em séries e filmes e que desperta o fascínio da audiência pela sua complexidade e conclusão dos casos. Para além das telas, esse trabalho é feito pela Polícia Civil do Distrito Federal, referência nacional em tecnologia e apuração investigativa e também na resolução de homicídios. No DF, este trabalho está ligado ao Departamento de Polícia Técnica — órgão central de coordenação subordinado diretamente à Direção-Geral da Polícia Civil —, que reúne quatro institutos: o Instituto de Criminalística (IC), o Instituto de Identificação (II), o Instituto de Medicina Legal (IML) e o Instituto de Pesquisa e DNA Forense (IPDNA), responsáveis pela emissão de laudos periciais a partir de vestígios localizados em cena de delito. O Instituto de Identificação utiliza a metodologia científica para fins de identificação humana e determinação de autoria em infrações penais | Fotos: Tony Oliveira/Agência Brasília O Instituto de Identificação utiliza a metodologia científica para fins de identificação humana e determinação de autoria em infrações penais. Entre as atribuições, destacam-se as identificações civis e criminais, as perícias papiloscópicas e necropapiloscópicas em locais de crime e laboratório, bem como as perícias de representação facial humana e prosopográfica. Embora esses nomes possam parecer complexos, o trabalho da unidade tem um objetivo simples: encontrar digitais ou vestígios do crime que possam colaborar com as investigações da polícia. Para isso, equipamentos de ponta – tecnológicos e eficazes – colaboram para o DF ser uma referência nacional. O diretor da Divisão de Exames Laboratoriais do Instituto de Identificação, Marco Antonio Paulino, explica que essa estrutura faz o DF ser demandado por outros estados. “A gente tem uma estrutura muito grande e com a maior tecnologia do Brasil, então conseguimos auxiliar a partir dos laudos periciais. Os índices do DF são os melhores do Brasil porque a Polícia Civil tem bons laboratórios e uma qualificação técnica e científica dos profissionais que auxiliam nesse tipo de resposta. Identificar um autor de um crime ajuda a reduzir os índices de criminalidade”, observa. Para responder quem esteve na cena do crime, o trabalho se dá em três frentes: local do crime, laboratório e pesquisa nos sistemas automatizados de identificação biométrica Por dentro dos laboratórios Para que esse trabalho continue de excelência, o GDF investiu mais de R$ 9 milhões na Divisão de Exames Laboratoriais, onde se destacam o de Exames Prosopográficos e Arte Forense (Lepaf), com as perícias de comparação facial; o de Exames Papiloscópicos (LEP), de perícias em objetos recolhidos em cenas de crime; e o de Exames Necropapiloscópicos (LENCP/Lence), com a identificação de cadáveres. Em todos, o principal objetivo é a resposta do “quem”: quem é a vítima e quem é o autor do crime. Veja, a seguir, como cada um deles percorre esse caminho. Comparação facial – Lepaf Com o crescente uso de câmeras de segurança e imagens digitais, a análise de faces se tornou uma ferramenta importante. Os papiloscopistas fazem a comparação facial, que envolve a análise detalhada de imagens de suspeitos comparadas a registros fotográficos. Isso é especialmente útil em crimes em que as digitais não estão disponíveis ou quando o autor foi captado por câmeras. Essa análise é feita por softwares avançados, motores de busca automatizados e técnicas especializadas, complementando outras perícias realizadas e ampliando o escopo de atuação da polícia. Com base nas pessoas identificadas que passaram pela cena do crime, nessa etapa as equipes fazem exames de comparação facial que fornecem hipóteses (de leves a fortes) de quem pode ser o autor do delito. Não é determinante, mas é capaz de sair do zero para a entrega de nomes ao laudo pericial. Os papiloscopistas fazem a comparação facial, que envolve a análise detalhada de imagens de suspeitos comparadas a registros fotográficos Os programas também permitem um megaprocessamento para trazer candidatos à investigação, no caso de as imagens recolhidas serem de baixa qualidade. Uma curiosidade sobre essa parte é que boa parte da equipe é formada em odontologia, pois é necessário um vasto conhecimento sobre anatomia facial para este trabalho. Além disso, há também o retrato falado, construído por meio de aplicativos de imagens e um desenhista profissional. Com a técnica, é possível chegar em um rosto que é encaminhado para os setores de investigação e auxiliam na procura do autor de um crime. Por ser uma parte mais sensível e baseada nas descrições das vítimas, é necessário paciência e uma preparação psicológica da equipe responsável. Em 2023, o Lepaf produziu 610 laudos e realizou 363 perícias de comparação facial (1:1) e 388 perícias de reconhecimento facial (1:N). Necropapiloscopia – (LENCP/Lence) Na linha de identificação da vítima, muitas vezes a investigação encontra corpos que estão bastante degradados, seja em avançado estado de decomposição, mumificados e até mesmo carbonizados. É aí que entra a necropapiloscopia, que utiliza protocolos especialmente desenvolvidos para a identificação desses cadáveres com o uso de tecnologias avançadas, como produtos químicos específicos que ajudam a tratar a pele espessa para a obtenção de um registro digital de qualidade. Muitos dos protocolos utilizados foram desenvolvidos por papiloscopistas do DF. A taxa de identificação das equipes brasilienses é de 99%, dando uma resposta crucial às famílias e corroborando com a investigação policial. Uma média de 1,5 mil objetos é revelada por mês no laboratório, que comporta 24 estações com peritos papiloscopistas efetuando revelações químicas e físicas, conseguindo trabalhar em todos os tipos de materiais e diferentes superfícies Toda suspeita de morte violenta segue para o Instituto Médico Legal (IML) e, com autorização da família, é feito o tratamento de vestígios com a coleta de digitais. Para fins de investigação ou didáticos, o setor trabalha juntando dados para o banco nacional de papiloscopia, visto que a epiderme preserva o desenho da digital. Em desastres em massa, por exemplo, esse trabalho ajuda na identificação de vítimas, oferecendo um desfecho para quem não tem notícias de algum ente querido. O trabalho auxilia na Política Nacional de Busca de Pessoa Desaparecida, onde o DF, mais uma vez, é referência nacional e já atuou em grandes operações de identificação, como Brumadinho. “Por meio desse trabalho é possível identificar quem é a pessoa desaparecida e trazer um alento para a família, que às vezes não teve nem uma resposta. Então tem essa questão social também”, reforça o diretor Paulino. Em 2023, o LENCP/Lence periciou 1.729 cadáveres preservados e 131 cadáveres especiais no IML-DF, além de 50 cadáveres em hospitais do DF, produzindo 1.775 laudos. Papiloscopia – LEP Para responder quem esteve na cena do crime, o trabalho se dá em três frentes: local do crime, laboratório e pesquisa nos sistemas automatizados de identificação biométrica (Abis). No local de crime, o papiloscopista coleta impressões digitais latentes em superfícies variadas, muitas vezes invisíveis a olho nu. Os materiais seguem para o Laboratório de Exames Papiloscópicos (LEP), que é o mais bem equipado do Brasil. No LEP é possível encontrar a maior Câmara de Cianoacrilato para Veículos da América Latina, projetada pela PCDF e construída pela equipe de Brasília. O equipamento é capaz de revelar digitais em carros ou qualquer objeto inserido na estrutura e já colaborou em investigações de grande repercussão, como o caso Marinésio, em 2019, onde o autor foi condenado a 37 anos de prisão por feminicídio após vestígios das vítimas serem encontrados em seu veículo. O cianoacrilato também é conhecido como super cola 3 ou Super Bonder. Ao ser pulverizado, o líquido entra em contato com substâncias básicas ou fluidas e polimeriza, formando uma cola forte. Com as digitais reveladas instantaneamente na câmara, a resposta é mais rápida e a revelação de superfície mais eficiente. Por usar um método não destrutivo, o equipamento permite que as evidências sejam preservadas em sua integridade, algo crucial em investigações criminais, onde é importante que os vestígios permaneçam inalterados para futuros exames. Entre as tecnologias adquiridas recentemente, o LEP também inclui a câmara de Deposição de Metal à Vácuo (VMD), que revela as impressões digitais em qualquer objeto por meio da vaporização de metais como ouro e prata. A técnica auxilia na obtenção de vestígios em materiais que outros equipamentos não pegam, como uma caixa de papelão preta, que já foi utilizada como prova em um caso. O primeiro laudo feito por esse tipo de tecnologia no Brasil foi realizado no Distrito Federal. As equipes também utilizam luzes de diferentes comprimentos de onda (UV, infravermelho e visível) para realçar impressões digitais e outros vestígios que não são visíveis a olho nu ou com iluminação comum. No local há sistemas de imagens de ponta e importados, como o equipamento multiespectral DCS-5, construído em torno de uma câmera Nikon D6 e software de aprimoramento de impressões digitais especialmente projetado para a captura de impressões digitais latentes em superfícies que antes eram difíceis de trabalhar, como objetos texturizados, superfícies multicoloridas, plásticos ou documentos, graças à sua alta resolução e diferentes modos de iluminação. Uma média de 1,5 mil objetos é revelada por mês no laboratório, que comporta 24 estações com peritos papiloscopistas efetuando revelações químicas e físicas, conseguindo trabalhar em todos os tipos de materiais e diferentes superfícies. Para além da tecnologia, as equipes já conseguiram revelar suspeitos identificando digitais encontradas no lado colante de fitas adesivas isolantes. Em 2023, o LEP periciou 20.689 objetos, gerando 805 laudos positivos de identificação. Resultados O resultado das coletas seguem para pesquisa no Abis, um sistema automatizado que auxilia a comparar as impressões digitais coletadas no local com registros existentes, contando com a expertise do papiloscopista no confronto das amostras. O sistema é feito com inteligência artificial mais antiga em ciência forense, considerado um dos melhores do mundo e capaz de captar detalhes microscópicos. A equipe identifica padrões de origens conhecidas na biometria analisada e, após marcarem as minúcias, submetem a pesquisa no sistema para buscar padrões compatíveis. A partir da lista, a digital é comparada uma a uma, até chegar em uma verdadeira. Em 2024, uma média de 7,5 mil casos chegaram ao setor que analisa as digitais por mês. Uma média de 1,1 mil perícias em local é realizada por mês com base em vestígios em locais de crime, mais de mil crimes contra patrimônio e aproximadamente 100 em locais de crime contra a vida. Em média, são 180 laudos por mês que entram em processos e inquéritos policiais. A média anual de 2023 foi de 142 laudos por mês.
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