Pesquisa apoiada pela FAPDF investiga moléculas da vespa como alternativa terapêutica para o autismo
O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada, principalmente, por dificuldades de comunicação e interação social, além de comportamentos repetitivos e padrões restritos de interesse. Apesar dos avanços no diagnóstico e nas intervenções terapêuticas, ainda não existe um tratamento farmacológico específico capaz de atuar diretamente nos mecanismos neurobiológicos do transtorno. As terapias medicamentosas disponíveis hoje são utilizadas, sobretudo, para amenizar sintomas associados, como agitação, irritabilidade, impulsividade e ansiedade. Diante desse cenário, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) vêm explorando caminhos inovadores para ampliar as possibilidades terapêuticas no TEA. Coordenado pela professora Márcia Renata Mortari, do Laboratório de Neurofarmacologia da UnB, e realizado com fomento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio do edital Demanda Induzida (2021), o projeto avalia o potencial dos neuropeptídeos NeuroVAL e Protonectina-F, inspirados em moléculas presentes na peçonha de vespas sociais, tanto em suas formas livres quanto associados à nanotecnologia (mecanismo de entrega que permite que o medicamento chegue ao cérebro de forma mais eficiente e segura). Márcia Renata Mortari: "O financiamento possibilitou não apenas a execução do projeto, mas a consolidação de uma linha de pesquisa com potencial translacional real" | Foto: Divulgação/Marck Castro Segundo a pesquisadora, o apoio da fundação foi essencial para a viabilização do estudo, permitindo a manutenção de equipamentos, a síntese dos peptídeos, o desenvolvimento dos nanossistemas e ações de divulgação científica. “O financiamento possibilitou não apenas a execução do projeto, mas a consolidação de uma linha de pesquisa com potencial translacional real”, afirma a coordenadora. Os resultados também abrem perspectivas para novas linhas de investigação, incluindo aplicações dos peptídeos em outros transtornos neurológicos, como ansiedade, depressão, epilepsia e dor crônica. O grupo já mantém articulações com a indústria farmacêutica visando ao licenciamento do peptídeo NeuroVAL e a aceleração de estudos futuros. Márcia Renata Mortari, vencedora em 1º lugar no orêmio FAPDF (categoria Pesquisador Inovador – Setor Empresarial), afirma que o laboratório atua há cerca de 20 anos com o estudo de peçonhas de insetos sociais, explorando compostos naturais que, após redesenho molecular, podem adquirir propriedades terapêuticas específicas. “Trabalhamos com moléculas bioinspiradas na natureza, mas estrategicamente modificadas para que sejam seguras, seletivas e aplicáveis do ponto de vista terapêutico”, explica Mortari. Por que investigar peptídeos derivados da peçonha no TEA A pesquisadora Letícia Germino Veras desenvolve formulações nanotecnológicas associadas ao neuropeptídeo bioinspirado NeuroVAL, em estudo para o TEA | Fotos: Divulgação/FAPDF A motivação para estudar os neuropeptídeos NeuroVAL e Protonectina-F no contexto do TEA está diretamente relacionada às lacunas existentes nas terapias farmacológicas atuais. O transtorno envolve alterações em múltiplos sistemas de neurotransmissão — como os sistemas GABAérgico, glutamatérgico, dopaminérgico, serotoninérgico, opioide e endocanabinoide — que regulam funções essenciais como humor, sociabilidade, comportamento, ansiedade e equilíbrio emocional. “O TEA não é uma condição de um único mecanismo. Ele envolve diferentes sistemas neuroquímicos e uma grande variabilidade clínica. Por isso, estratégias baseadas em um único alvo tendem a ter eficácia limitada”, destaca a coordenadora do projeto. O NeuroVAL, desenvolvido no próprio laboratório, foi inicialmente estudado em modelos de dor, onde demonstrou potente efeito analgésico sem apresentar efeitos adversos relevantes. Esses resultados indicaram um perfil de segurança promissor, estimulando sua investigação em outros contextos neurológicos. Já a Protonectina-F também apresentou atividade neuroativa (ou seja, capacidade de interagir com o sistema nervoso e modular processos neuronais associados ao comportamento e à regulação emocional), especialmente associada ao sistema opioide, o que pode influenciar comportamentos relacionados à hiperatividade e à regulação emocional. Preparação da formulação experimental do novo medicamento, que associa o peptídeo bioinspirado à nanotecnologia A hipótese central do estudo é que esses peptídeos possam modular simultaneamente diferentes sistemas neurotransmissores alterados no TEA, contribuindo para a melhora de comportamentos sociais, redução da ansiedade e diminuição de comportamentos repetitivos. Modelo experimental O estudo utiliza um modelo animal de transtorno do espectro autista induzido, no qual alterações comportamentais semelhantes às observadas em pessoas com autismo são reproduzidas de forma controlada, a partir da exposição ao ácido valproico em animais de laboratório, permitindo investigar mecanismos neurobiológicos e testar potenciais abordagens terapêuticas. A análise comportamental é feita por meio de testes consagrados na pesquisa neurocientífica. O teste de sociabilidade em três câmaras avalia a interação social, o enterramento de bolas de gude mede comportamentos repetitivos e padrões de hiperfoco e o labirinto em cruz elevado é utilizado para analisar níveis de ansiedade. A combinação desses testes permite uma avaliação multicomportamental abrangente dos efeitos dos peptídeos. A professora Márcia Renata Mortari participa de ação educativa de divulgação científica, abordando o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a importância da inclusão Os resultados preliminares indicaram maior interação social, redução de comportamentos repetitivos e menor ansiedade nos animais tratados, quando comparados aos grupos não tratados, revelando um potencial terapêutico significativo. Nanotecnologia e entrega cerebral dos peptídeos Um dos principais desafios no uso terapêutico de peptídeos é sua rápida degradação enzimática, especialmente quando administrados por via oral. Para superar essa limitação, o projeto associa os neuropeptídeos à nanotecnologia, utilizando sistemas como quitosana e partículas lipídicas sólidas. [LEIA_TAMBEM]Esses nanossistemas favorecem a administração intranasal, uma via especialmente promissora para doenças do sistema nervoso central. Por essa via, o fármaco pode alcançar o cérebro de forma mais rápida, com menor perda de absorção e evitando barreiras como a degradação gastrointestinal e a barreira hematoencefálica. “A nanotecnologia permite que as partículas permaneçam aderidas à mucosa nasal por mais tempo, prolongando o efeito terapêutico e aumentando a eficiência da entrega cerebral”, explica Mortari. Além disso, o uso de diferentes doses possibilita identificar janelas terapêuticas seguras (quando a quantidade do medicamento produz benefício sem causar efeitos indesejados), fundamentais para o desenvolvimento futuro de medicamentos. Além dos avanços científicos, o projeto tem impacto direto na formação de recursos humanos. Bolsistas de iniciação científica, mestrado, pós-doutorado e apoio técnico participaram ativamente da execução experimental, análise de dados e redação científica. Ao todo, o trabalho resultou em diversos projetos acadêmicos, incluindo iniciações científicas, trabalhos de conclusão de curso e dissertações de mestrado em andamento. *Com informações da FAPDF
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Ação na UBS 1 de Vicente Pires promove saúde para crianças neurodivergentes
A Unidade Básica de Saúde (UBS) 01 de Vicente Pires promoveu uma atividade especial em comemoração ao Dia das Crianças. Realizado nesta segunda-feira (14), o evento teve como foco o brincar funcional, com atividades educativas e recreativas voltadas especialmente para crianças com alterações no neurodesenvolvimento. A iniciativa faz parte da Estratégia Saúde da Família (ESF), com o objetivo de garantir a integralidade do cuidado e dos serviços oferecidos pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) na Atenção Primária à Saúde (APS). “Isso aqui é algo que eles vão levar pra vida, aprendendo as coisas nas brincadeiras”, afirmou Ranielma Barbosa, mãe de Ana Júlia, que tem TEA | Fotos: Ualisson Noronha/Agência Saúde-DF Mãe de Ana Júlia, 5 anos, que possui Transtorno do Espectro Autista (TEA), Ranielma Barbosa, 28 anos, elogiou a iniciativa. “Isso aqui é algo que eles vão levar pra vida, aprendendo as coisas nas brincadeiras. É muito comum vermos eles em frente às telas, o que atrapalha muito no desenvolvimento deles”, afirmou. O evento ofereceu ambiente lúdico com músicas animadas e atividades que estimularam a memória, atenção, concentração, psicomotricidade e integração sensorial das crianças. A iniciativa faz parte da Oficina da Infância, desenvolvida pela equipe multiprofissional (e-Multi) ampliada da UBS 01 de Vicente Pires. O projeto oferece atendimentos de reabilitação e prevenção de agravos a crianças neurodivergentes, a exemplo de condições como o autismo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a dislexia. Em comemoração ao Dia das Crianças, o evento teve como foco o brincar funcional, com atividades educativas e recreativas voltadas especialmente para crianças com alterações no neurodesenvolvimento atendidas pela e-Multi ampliada da UBS 1 de Vicente Pires Segundo a psicóloga da e-Multi, Sofia Lisboa, é importante que a criança entenda que o cuidado com a saúde vai além da doença. “Em momentos como esse, reforçamos que, para a criança querer ser feliz, ela precisa brincar, estar incluída nas atividades e conhecer os espaços. É fundamental que ela entenda que, quando vem a um espaço de saúde, não é só porque está doente, mas também para aprender que cuidar de si é importante”, afirmou. Equipe multiprofissional O projeto Oficina da Infância tem equipe formada por terapeutas ocupacionais, nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, farmacêuticos e psicólogos. O acolhimento inicial é realizado na UBS por um profissional da eSF, que encaminha os casos para a e-Multi. A partir daí, é planejado um atendimento terapêutico individualizado, de acordo com as necessidades de cada paciente. A terapeuta ocupacional da e-Multi, Marília Mendes, ressalta que o evento foi promovido para estimular a interação entre a comunidade e os profissionais de saúde. “Essa ação surgiu para ampliar ainda mais esse acesso, para favorecer o brincar e estimular o vínculo entre as famílias, os usuários e os profissionais, integrando toda a comunidade”, explicou. A ação foi realizada pela e-Multi Ampliada de Vicente Pires, em parceria com a equipe de Saúde da Família (eSF) da UBS 01 e com a Associação dos Especialistas em Saúde Pública da SES-DF. *Com informações da SES-DF
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Aberta consulta pública para projeto que atende autistas
O Programa Autonomia, inciativa da Secretaria da Família e Juventude do DF (SEFJ-DF) busca promover mais qualidade de vida e bem-estar a crianças, adolescentes e jovens que convivem com o diagnóstico de deficiência global no neurodesenvolvimento, ou sob investigação, no Transtorno do Espectro Autista (TEA). O documento conta com a participação da população na contribuição de ideias que aprimorem o seu formato, disponível no site da SEFJ. [Olho texto=”“Uma das principais razões pelas quais o Programa Autonomia é tão importante é porque ele se concentra no desenvolvimento das habilidades essenciais de vida e nas competências sociais das crianças autistas. Muitas vezes, essas crianças têm dificuldades em áreas como comunicação, interação social, habilidades motoras e adaptação a mudanças. O programa oferece um ambiente seguro e estruturado onde elas podem aprender e praticar essas habilidades de maneira progressiva e adaptada às necessidades individuais”” assinatura=”Rodrigo Delmasso, secretário da Família e Juventude” esquerda_direita_centro=”esquerda”] De acordo com a proposta da pasta, o Programa Autonomia é baseado no tripé terapia, paciente e família, oferecendo um acompanhamento especializado transdisciplinar integrado com terapias individuais e oficinas de grupo especializadas, de acordo com a necessidade de cada paciente determinada pelo plano terapêutico. O programa abrange as famílias dessas pessoas para maior autonomia na comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde, segurança, habilidades acadêmicas, lazer e geração de renda. Para o secretário Rodrigo Delmasso, a criação de um programa como o proposto é fundamental para o desenvolvimento das crianças autistas com o suporte conveniente aos desafios que enfrentam. “Uma das principais razões pelas quais o Programa Autonomia é tão importante é porque ele se concentra no desenvolvimento das habilidades essenciais de vida e nas competências sociais das crianças autistas. Muitas vezes, essas crianças têm dificuldades em áreas como comunicação, interação social, habilidades motoras e adaptação a mudanças. O programa oferece um ambiente seguro e estruturado onde elas podem aprender e praticar essas habilidades de maneira progressiva e adaptada às necessidades individuais”, destacou. Outro aspecto importante do Autonomia é a promoção da inclusão e da participação das crianças autistas na sociedade. O programa visa capacitá-las a se tornarem membros ativos de suas comunidades, com oportunidades iguais de educação, trabalho e envolvimento cívico. Ao fornecer suporte individualizado e estratégias adaptadas, o programa ajuda as crianças autistas a superarem barreiras e a aproveitarem ao máximo suas habilidades e talentos. Participe também da consulta pública sobre programa de Bolsas de Estudos, o DF Superior, para jovens de até 29 anos que estudaram na rede pública de ensino. Diagnóstico [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] O diagnóstico de autismo deve ser feito por um médico por meio da avaliação do quadro clínico. Os primeiros indícios de autismo são apresentados por volta dos 18 meses. No entanto, o diagnóstico conclusivo ocorre a partir dos 30 meses de vida da criança. Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais rápido poderá ser introduzida a ajuda especializada. Estudos com base na análise de históricos indicam que há estimativa de que, a cada 59 crianças, uma é afetada por alguma forma de autismo. Além disso, a síndrome manifesta-se de três a quatro vezes mais em meninos. No Brasil, dois manuais são utilizados para o diagnóstico. O CID-10 é adotado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ele abrange todas as doenças, incluindo os transtornos mentais, e foi elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O DSM-5 abrange apenas os transtornos mentais e tem sido mais utilizado em pesquisas, segundo dados da Associação Brasileira de Autismo Comportamento e Intervenção (Abraci-DF). *Com informações da Secretaria da Família e Juventude do DF
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