Você sabe o que é idadismo? Violência contra os idosos é tema de debate no DF
Desacreditar, discriminar, ofender e até praticar crimes contra idosos são ações que permeiam a sociedade e demandam enfrentamento diário do Poder Público. No Distrito Federal, espaços como os Centros de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (Cecons) fazem parte desse combate ao chamado idadismo, termo cunhado para explicar a violência praticada contra a pessoa idosa quando ela é analisada e avaliada por um critério só: “quantos anos você tem?”. A palavra idadismo foi o tema central de uma conversa na última quinta-feira (13), no Cecon da Estrutural, que atende mais de 60 idosos. O encontro foi conduzido pela professora doutora Leides Moura, do Grupo de Trabalho de Envelhecimento Saudável e Participativo da UnB (UnB/GTESP) e integrou o calendário de conscientização do Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa, celebrado neste sábado (15). Para a docente, essa prática permeia todos os outros tipos de violências contra a pessoa com mais de 60 anos. No DF, por exemplo, há cerca de 300 mil pessoas idosas, o que corresponde a 11,84% da população. Os Centros de Convivência e Fortalecimento de Vínculos ajudam no combate ao preconceito que idosos sofrem por conta da idade | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília Leides Moura defende a velhice como uma fase da vida cheia de belezas e o idadismo como violência estrutural que faz a própria vítima passar a se autoagredir psicologicamente. “A pessoa idosa que sofre essa violência começa a acreditar e se sabotar. Uma senhora sofreu um golpe pelo celular e a família resolveu retirar o aparelho dela. Ou seja, duas violências: o roubo e a retirada do celular pelos parentes”, exemplificou. Social Os Cecons atendem cerca de 900 idosos em todo o DF. “Nossos 16 Cecons têm sido espaços fundamentais para proporcionar momentos de lazer, socialização e enriquecimento cultural aos nossos idosos. Eles participam de atividades físicas, oficinas, palestras e eventos que promovem bem-estar e qualidade de vida”, explica a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra. Confira os endereços de todos os Cecons que prestam atendimento no DF. Para Leides Moura, a velhice é uma fase da vida cheia de belezas A secretária também informa que pessoas com 60 anos ou mais podem ir direto nas recepções dos Centro de Referência de Assistência Social (Cras) ou nos Centros de Referência Especializada para População em Situação de Rua (Centros Pop) para obter a Carteira Interestadual do Idoso. O documento promove o direito à gratuidade, ou o desconto de 50%, no sistema de transporte coletivo interestadual, conforme estabelece a lei. O encontro foi uma proposta das educadoras sociais Vanessa Andrade e Deusilene Duarte. “Estamos fazendo um percurso na área de assistência social para falar sobre envelhecimento saudável. Aqui no centro trabalhamos com atividades socioeducativas, levando informações de qualidade para os idosos. Trabalhamos também com artesanato de forma bem lúdica. Temos uma parceria com o IFB [Instituto Federal de Brasília] para a alfabetização. Oferecemos capoterapia, que é uma mistura de capoeira com música e dança”, explicou Vanessa. Não ao idadismo Deusilene Duarte: “Trabalhando com os idosos, identificamos muitas situações de abandono e abuso. Percebemos que nossos idosos estavam com baixa autoestima” Segundo a professora Leides Moura, frases como: “De mamando a caducando”; “o que você ainda está fazendo aqui?”; “está fazendo hora extra”; “Matuzalém ainda está aqui”; “por que você está usando essa roupa?”; “isso não é coisa de velho”, são exemplos de uma comunicação com intenção de idadismo. “Trabalhando com os idosos, identificamos muitas situações de abandono e abuso. Percebemos que nossos idosos estavam com baixa autoestima. Eventos como esses resgatam a autoestima, o pensamento de que eles podem e conseguem planejar o futuro, se autocuidarem”, disse Deusilene. O baiano natural da cidade de Lençóis Deusdete Joaquim dos Santos, 64, é viúvo e perdeu o contato com a única filha. Hoje, Deusdete vive sozinho com duas cadelas e reclama da discriminação que os idosos sofrem, mas é só elogios ao Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. “Somos muito bem acolhidos pelos Cecons. O trabalho aqui realmente funciona. Eu me sinto otimamente bem, venho todos os dias. Aqui somos uma família”. Sem contato com a filha, Deusdete Joaquim dos Santos lamenta a discriminação que sofrem os idosos A costureira Ivonete Lopes de Farias tem 67 anos, nasceu em Quixeramobim, no Ceará, e mora em Brasília há 23 anos. Para a mãe de cinco filhos, avó de 14 netos, e com 10 bisnetos, velhice depende da cabeça de cada um. “Eu não me considero velha, me considero uma pessoa vivida e com muita experiência para passar para os novos. Eu nunca tinha ouvido falar em idadismo. Isso é muito forte. Eu não ligo para preconceito. Eu ligo para a minha saúde. Com saúde eu enfrento tudo”. Saúde é vida Maria Augusta da Cruz teve 15 filhos ao longo dos seus 88 anos de vida. A mineira de Patos de Minas conta com alegria as histórias dos seis tataranetos. Maria Augusta sabe dos próprios direitos e utiliza os equipamentos públicos do Governo do Distrito Federal (GDF). “Aqui eu faço capoterapia. Na segunda-feira eu faço um trabalho de artes. Venho para ficar mais corajosa e ter mais animação. Eu não acho a vida de idoso ruim, não. Eu acho minha vida muito boa. Faço hidroginástica na Vila Olímpica aqui do lado. Meus tratamentos médicos eu faço no posto de saúde e no hospital do Guará. Sou muito bem atendida”, afirma. Aos 88 anos, Maria Augusta da Cruz faz capoterapia, trabalho com artes e hidroginástica: “Não acho a vida de idoso ruim” O GDF tem um programa específico para o atendimento e promoção da saúde do idoso nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e em regimes domiciliares. O governo segue as orientações da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) e tem 2024 como Ano do Envelhecimento Saudável. “Nosso objetivo é atrair o idoso para dentro das UBSs e promover a saúde com informações para evitar quedas, exercícios para o fortalecimento muscular, autocuidado, cuidados domésticos. Também acompanhamos os idosos internados em Unidades de Longa Permanência, os chamados asilos”, explicou Carine de Cássia Souza Rodrigues, diretora de Estratégia de Saúde da Família da Coaps da Secretaria de Saúde. Também está sendo elaborado pelo governo um curso de capacitação para os profissionais da saúde qualificarem os serviços prestados aos idosos. “Nosso foco é atender na promoção da saúde física e mental dos idosos. Oferecemos vacinas e os idosos têm de ficar atentos para tomarem as vacinas contra a influenza e contra a covid-19”, finalizou Carine. Ações na Sejus A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF) dedica a Subsecretaria de Políticas para o Idoso ao atendimento das pessoas com mais de 60 anos. O programa Viver +60 propicia bem-estar e fortalecimento de vínculos sociais e comunitários por meio de atividades físicas, palestras, oficinas e outras atividades correlacionadas. Algumas ações dentro do programa são ginástica funcional, que atende 120 pessoas no Sol Nascente, Recanto das Emas e Águas Quentes; dançaterapia, atendendo a 200 idosos no Recanto das Emas, Riacho Fundo II, Ceilândia e em Samambaia; Cinema Viver 60+, que, em abril, recebeu 110 pessoas idosas e 10 profissionais da saúde; Viver 60+ Belas, ação para despertar e estimular o autocuidado, apresentando oportunidades para as pessoas idosas na área da beleza, e que atendeu 132 pessoas idosas; Evento Movimente-se no Viver 60+; e Campanha Junho Violeta, que ocorrerá no Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, próximo à Administração do Parque, no Estacionamento 13, neste sábado (15), das 9h às 13h. “Para combater o etarismo, a violência e a negligência, é preciso fomentar políticas que contribuam para a proteção integral à pessoa idosa, reconhecimento da dignidade e preservação dos direitos” Marcela Passamani, secretária de Justiça e Cidadania Para a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, “o envelhecimento da população do DF e a maior expectativa de vida são uma realidade. Para combater o etarismo, a violência e a negligência, é preciso fomentar políticas que contribuam para a proteção integral à pessoa idosa, reconhecimento da dignidade e preservação dos direitos”. Cultura para todos As bibliotecas públicas do Distrito Federal oferecem aulões gratuitos de redação para vestibulandos com mais de 60 anos. A preparação especial visa o ingresso em cursos superiores oferecidos pela Universidade de Brasília (UnB). As aulas são voltadas para o vestibular e utilizam elementos da vida dos idosos como metodologia de ensino. A preocupação dos professores é com a coesão e a coerência nos textos descritivos-argumentativos. A iniciativa é da Secretaria de Cultura e de Economia Criativa (Secec-DF).
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GDF oferece assistência de saúde integral à população idosa
A Secretaria de Saúde (SES) trabalha para garantir uma velhice ativa e saudável para a população do Distrito Federal, por meio de serviços pautados nas diretrizes das políticas Nacional e Distrital da Pessoa Idosa. Todos os níveis de atenção à saúde – primária, secundária e hospitalar – são contemplados com assistência à faixa etária por meio de programas e equipamentos de saúde. A porta de entrada é a atenção primária, com o acompanhamento longitudinal e integral do indivíduo e encaminhamento aos demais setores, caso necessário. O atendimento é realizado nas unidades básicas de saúde (UBSs), pela equipe de Estratégia Saúde da Família (eSF), com apoio dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família (Nasf). Atualmente, existem 176 UBSs em todo o DF – descubra aqui onde fica a mais próxima da sua residência. “Os pacientes vão para outros níveis de atenção conforme os critérios clínicos específicos para cada caso, mas continuam sendo atendidos pelo nível primário”, explica Angela Maria Sacramento, gerente de Apoio à Saúde da Família, responsável pela área técnica da Saúde do Idoso na Atenção Primária. “A equipe de cada UBS pensa em estratégias de acompanhamento para cada paciente, pensando na melhora da qualidade de vida e que aquele indivíduo com mais de 60 anos consiga ter independência e autonomia”. Bate-papos sobre saúde mental estão entre as atividades do projeto | Fotos: Geovana Albuquerque/Agência Brasília Na atenção secundária, há ambulatórios médicos, com assistência de geriatras, neurologistas, endocrinologistas, cardiologistas e outras especialidades; ambulatórios de reabilitação, em que os pacientes têm acesso a terapia ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia; e 11 ambulatórios de geriatria e gerontologia e cuidados paliativos, que oferecem equipe interdisciplinar especializada no cuidado do idoso frágil. No nível hospitalar, o atendimento é feito nos hospitais regionais e de referência, nos centros especializados em reabilitação (CER), localizados em Taguatinga, no Hospital de Apoio de Brasília (HAB) e Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL-LP); e nos 15 ambulatórios de saúde funcional localizados nas regiões de saúde. Há também a atenção domiciliar para os usuários com grande dependência. Ações A fisioterapia Núbia Passos Falco: “Envelhecer não é fácil. Mas eles podem envelhecer com saúde” Entre as atividades desenvolvidas nas UBSs, destacam-se os bate-papos sobre saúde mental, o circuito multifuncional de prevenção de quedas, a oficina de memória, o grupo de estimulação cognitiva, o grupo MobilizaDOR, o grupo de hábitos de vida saudável, o grupo contra tabagismo, além de diversas práticas integrativas em saúde. As atividades são oferecidas conforme as demandas da localidade em que a unidade está inserida. As ações ocorrem em grupos para estimular as habilidades sociais dos idosos, tendo em vista que a grande maioria costuma enfrentar a solidão e o afastamento de familiares. “Estudos mostram que a interação social de um idoso com outro idoso é um fator benéfico para a saúde mental e um fator protetor de declínios cognitivos”, explica Sacramento. As UBSs oferecem práticas variadas, conforme as demandas de cada região. Existem oficinas de acupuntura, automassagem, fitoterapia, lian gong, meditação, terapia comunitária integrativa, técnica de redução de estresse, tai chi chuan e reiki. As atividades podem ser feitas por outras faixas etárias, conforme indicação da equipe de eSF, e têm foco na prevenção das doenças e na promoção da saúde. Envelhecimento saudável Lúcia Helena de Seixas faz aulas de alongamento: “Uma vai incentivando a outra” O contato com pessoas da mesma faixa etária foi um divisor de águas na vida de Lúcia Helena de Seixas Ivo, 63 anos. A aposentada faz aulas de alongamento e sente que a prática reduziu incômodos no corpo. “A gente, depois dos 60, sempre tem dores. Aqui é bom, porque os exercícios são voltados para a idade e tenho muitas amigas, uma vai incentivando a outra”, afirma. Coordenadora do circuito multissensorial de prevenção de quedas no Areal, a fisioterapeuta Núbia Passos Falco ressalta o apoio entre os participantes. “Quando eles veem que estão entre pessoas da mesma faixa etária, pensam: ‘Posso ser saudável no meu ritmo’. Às vezes seu cérebro pensa rápido, mas seu corpo não acompanha. Envelhecer não é fácil. Mas eles podem envelhecer com saúde”, observa. [Relacionadas esquerda_direita_centro=”direita”] Outro frequentador do grupo é aposentado Eliel Lima Leal, 73, que, mesmo fazendo quimioterapia, acompanha a esposa no projeto. Ele participa dos exercícios de respiração e comemora melhora na qualidade do sono. “É um incentivo ver todo mundo se exercitando assim, sinal que a gente não pode parar”, acentua. Já o aposentado Osmar Teixeira de Lima, 70, praticava karatê quando era mais novo e sempre trabalhou utilizando a força física. De acordo com ele, as atividades do projeto o ajudaram a se manter ativo, além de melhorar a qualidade do sono. “É uma beleza, porque não preciso continuar trabalhando depois dos 70, que era como me mantinha em movimento. Agora quero descansar e ainda sim me manter saudável”, observa.
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